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domingo, 14 de janeiro de 2024

Do Piauí, o mais novo diplomata estudava 12horas por dia e se inspira em Alberto da Costa e Silva - Yala Sena (Cidade Verde)

Do Piauí, o mais novo diplomata estudava 12horas por dia e se inspira em Alberto da Costa e Silva

Fotos: Renato Andrade/Cidadeverde.com

Por Yala Sena

Filho de professora, o mais novo diplomata aprovado para o Itamaraty, Luis Marcelo Gomes Mendes Leite, de 22 anos, atribui sua vitória a disciplina, foco e estudos. 

Segundo ele, a rotina de leituras e preparação chegava a mais de 12 horas por dia e disse que uma das suas inspirações é o diplomada, poeta, ensaísta e historiador Alberto da Costa e Silva que morreu em novembro do ano passado de causas naturais aos 92 anos. Alberto é filho do poeta Da Costa de Silva. 

Luís Marcelo conta que foi aprovado no concurso para ser diplomata aos 19 anos e realizou as três fases, que foram bastantes criteriosas, chegando a escrever cerca de 24 textos em línguas inglês, português, espanhol e francês. 

“A emoção que sentir foi de alívio (risos). Eu vivi uma rotina muito difícil, estudava em média 12 horas por dia. Fiquei feliz, mas aliviado”, disse sorrindo acrescentando. “Abri mão de quase tudo. Tudo que fazia em minha vida era pautado em como impactar para prova. Saia poucos com meus amigos, passei muito tempo sem rede social, abdiquei de vida noturna e se saísse era coisas leves. Tinha uma rotina de acordar 5h da manhã, ia para a academia e começava a estudar e só parava à noite”. 

Luís Marcelo informou que a posse está prevista para acontecer em fevereiro e depois irá fazer um curso de formação em Brasília.

O diplomata é um servidor que trabalha para promover as relações entre o Brasil e outros países. O salário inicial é de R$ 20.900.  Ele disse que Berlim é um posto diplomático que tem simpatia. 

“O que mais me ajudou foi a oportunidade que o Dom Barreto me deu como monitor e posteriormente me efetivaram como professor de História Mundial das turmas de pré-vestibular e é um assunto que cai na minha prova e isso era positivo já que comentava com os alunos e revisava”. 

Conselho para os interessados: “comece logo”

O piauiense deu conselho para as pessoas que desejam seguir a carreira de diplomata. Segundo ele, é preciso ter foco, estudar bastante e o mais cedo possível buscar informações. 

“Uma coisa que queria era alguém ter me dito antes: comece logo. Ai! a pessoa diz:’ ah! mas eu não sei como?’: comece, vai atrás, busque informações, tente saber o que a prova exige, como é a rotina de uma pessoa que se prepara a sério para isso,  ter um foco e é importante buscar apoio psicológico e apoio da família. A gente até brinca, que primeiro, é preciso passar na prova. Eu era muito pragmático, tudo que fazia eu imaginava o que eu iria ganhar em termo de preparação de melhora de nota para a prova”.  Durante a entrevista, Luís Marcelo estava acompanhado da mãe Márcia Valéria Gomes Mendes Leite, do pai Marcelo Roger Leite e da irmã Isadora Mendes Leite. 

“Está sendo surpreendente. Eu não tenho palavras para descrever o sentimento de felicidade que ele alcançou. Ele é um menino dedicado e disciplinado. Tudo foi ele. Me sinto muito orgulhosa de ser mãe dele”, disse a mãe Maria Valéria. Ela disse que não está ainda preparada para ver o filho pelo mundo.

 

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Uma publicação compartilhada por TV Cidade Verde (@tvcidadeverde)

 

 

Foto arquivo pessoal 

Matéria original 

O mais novo diplomata do Brasil é filho do sol, do Equador. Luis Marcelo Gomes Mendes Leite, de 22 anos, realizou um feito histórico e é o mais novo piauiense a entrar no serviço diplomático brasileiro. O estado tem se destacado na formação de profissionais precoces, já que em 2013, outro piauiense, Pedro Felipe de Oliveira Santos, ganhou destaque nacional por ser o juiz federal mais novo do Brasil ao passar no concurso aos 25 anos. 

Luis Marcelo foi aprovado na terceira e última fase do Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD), processo seletivo para ingresso na carreira de diplomata. Ele foi aluno e monitor do Instituto Dom Barreto. 

O diplomata é um servidor público que trabalha para promover as relações entre o Brasil e outros países. Trata-se de um profissional de carreira lotado no Ministério das Relações Exteriores (MRE), também conhecido como Itamaraty.

Seu local de trabalho pode variar ao longo de sua trajetória, sendo possível exercer atividades dentro ou fora do Brasil. 

Os pré-requisitos para ser um diplomata são: ser brasileiro nato, possuir uma graduação no ensino superior (em qualquer curso) e passa no concurso. Luis é formado em comércio exterior. 

A aprovação do piauiense viralizou na  rede social com muitos comentários elogiando o feito dele.

Os internautas chamam o piauiense de “gênio”, “gigante”, “orgulho demais” e “Meus parabéns!!! Orgulho de ter um piauiense no Itamaraty, ainda mais sendo o mais novo do país!”

O governador Rafael Fonteles também comemorou a aprovação do piauiense. 

“Parabéns ao piauiense Luis Marcelo Gomes Mendes Leite, aprovado na 3ª fase do Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata, aos 22 anos de idade, se tornando a pessoa mais nova no serviço diplomático brasileiro! Que essa seja uma trajetória de muito sucesso, Luis!

domingo, 17 de dezembro de 2023

Alberto da Costa e Silva (1931-2023) - Celso Lafer (OESP)

Grande Alberto da Costa e Silva, homenageado por um outro grande.

 

Carmen Lícia

ESPAÇO ABERTO

Celso Lafer

Professor emérito da USP, ex-ministro das Relações Exteriores (1992 e 2001-2002) e presidente da Fapesp, Celso Lafer escreve mensalmente na seção Espaço Aberto


Alberto da Costa e Silva (1931-2023)

O diplomata alargou os horizontes da política externa brasileira ao elaborar na sua prática e na sua reflexão o papel de uma diplomacia de cultura e de conhecimento

Por Celso Lafer

17/12/2023 | 03h00

 

A perspectiva é um dos componentes organizadores da realidade, indicativa da circunstância do lugar em que estamos e nele nos localizamos para adquirir a mobilidade transformadora da razão e da sensibilidade.

Recordo essa lição de Ortega y Gasset porque ela tem grande pertinência para pensar a política externa como um ponto de vista sobre o funcionamento do mundo e a sua incidência num país. Um país operacionaliza seu ponto de vista no trato oficial com outros países por meio de seu corpo diplomático.

Alberto da Costa e Silva, na sua condição de diplomata na operacionalização deste ponto de vista, foi um paradigma de tato, inteligência e zelo, que o tornaram um dos grandes quadros do Itamaraty.

Alberto observou que “o diplomata, como o poeta, trabalha com as palavras”. No seu caso, verificou-se uma dialética de fecunda complementaridade entre as duas palavras, pois a sua experiência diplomática alentou, sem cisões, a criatividade da sua grande obra de intelectual. Por isso, integrou com alta envergadura a Academia Brasileira de Letras.

Alberto organizou o volume O Itamaraty na Cultura Brasileira, publicado em 2001 na minha gestão no Ministério das Relações Exteriores. Como ele diz na apresentação do volume, na prática do ofício o diplomata “é o que se representa”.

A representação não se circunscreve à articulação e à negociação de interesses. Tem um componente de exprimir o potencial da vis atractiva do que um país pode significar para os demais numa dada conjuntura histórica. Por isso, um diplomata deve conhecer bem o seu país para poder bem representá-lo. Cabe, também, a um diplomata promover relações amistosas com o país no qual está acreditado e, assim, na medida do possível, transformar fronteiras-separação em fronteiras-cooperação.

O tato e a inteligência com que Alberto exerceu o ofício a que se dedicou acabaram sendo poderoso estímulo para a criatividade de sua obra de grande intelectual. Adensou, para o benefício de todos, o seu entendimento do nosso país. Alargou os horizontes da política externa brasileira ao elaborar na sua prática e na sua reflexão o papel de uma diplomacia de cultura e de conhecimento.

A dedicação à África foi um tema recorrente do seu percurso de diplomata.

Da experiência de embaixador na Nigéria e no Benin, não só guardou, como dizia, “gratidão enternecida”. Foi um estímulo para aprofundar o seu interesse pela África e a sua percepção de que era necessário conhecer os africanos para melhor entender o Brasil, nas palavras da historiadora Marina de Mello e Souza.

Do que ele chamou “o vício da África” resultou uma excepcional obra de historiador que descortinou com rigor e paixão a história da África, a África no Brasil, o Brasil na África e a dinâmica do circuito da escravidão. Alberto, com o impacto de sua obra, trouxe a África como campo próprio de estudo em nosso país.

A obra de Alberto abre a nossa sensibilidade às memórias provenientes da África, que se somam, como ele diz, a outros enredos da vida brasileira – aos europeus que sempre estiveram nos currículos de nossas escolas e aos ameríndios que nelas deveriam estar.

Alberto dominava igualmente o papel do enredo europeu na vida brasileira.

“Temos a Europa dentro de nós.” É nossa herança, mas, como ele diz, “somos livres para escolher dela o que se ajusta à nossa geografia e o que responde à nossa intuição de destino”.

Serviu em Portugal, país que “de certa forma e ao seu jeito inventou para a Europa os oceanos”. A sua diplomacia de cultura intensificou e ampliou o diálogo Portugal-Brasil. Nesta empreitada, esclareceu com larga visada as características da herança e da presença de Portugal no Brasil e do significado dos fluxos migratórios lusitanos para a construção da múltipla identidade do nosso país. Soube destacar a relevância do idioma comum e do papel da Língua Portuguesa em Portugal e no Brasil, que nos singulariza e aproxima.

Alargou este horizonte para alcançar cinco países africanos que vivem as realidades das suas especificidades para descortinar o potencial de concertação diplomático-cultural que amplia, com um toque próprio, o espaço do Brasil e de Portugal no mundo.

As limitações de espaço não me permitem aflorar a amplitude dos caminhos intelectuais de Alberto. Não posso, no entanto, finalizar sem realçar que as suas memórias são um dos pontos mais altos da memorialística brasileira que de maneira discreta revela a sua estatura humana.

Espelho do Príncipe, cujo subtítulo é ficções da memória, não é propriamente uma autobiografia. Refaz liricamente as vivas lembranças do seu passado de criança. É, como o qualificou Da. Gilda de Mello e Souza, “um solilóquio da infância” que ela toma como um ritual de passagem, uma travessia da infância à idade adulta na qual Alberto, com pequenos toques, de maneira única, vai “impondo uma visão nova das coisas, da sensibilidade da relação com as pessoas, do escoar do tempo”.

Corresponde ao que disse na abertura de seu poema Hoje: gaiola sem paisagem: “Nada quis ser, senão menino. Por dentro e por fora, menino”.

*

PROFESSOR EMÉRITO DA FACULDADE DE DIREITO DA USP, FOI MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES (1992; 2001-2002)

 

domingo, 3 de dezembro de 2023

Itamaraty, cultura, intelectuais, Alberto da Costa e Silva: os textos mais acessados em Academia.edu - Paulo Roberto de Almeida

 Esta semana foi dedicada aos intelectuais do e no Itamaraty, e ao grande Alberto da Costa e Silva. 

Trabalhos mais acessados: 

 

Diplomacia e Cultura - Alberto da Costa e Silva (2001)

99

78

Intelectuais na cultura e na diplomacia, no mundo e no Brasil

82

62

Guiana: postagens no blog Diplomatizzando (2015-2023)

66

53

1424) Políticas de integração regional no governo Lula (2005)

44

28

O Itamaraty na Cultura Brasileira (2001)

43

37

14) O Estudo das Relações Internacionais do Brasil (2006)

43

36

Manifesto Globalista (2020)

39

35

Falacias Academicas: um livro incompleto (2010)

36

31

2784) Academia.edu: uma plataforma de informação e colaboração entre acadêmicos (2014)

35

30

 

Arnaldo Godoy examina a obra de Alberto da Costa e Silva sobre a Africa e a escravidão brasileira

 

EMBARGOS CULTURAIS

A manilha e o libambo, de Alberto da Costa e Silva

Conjur, 3 de dezembro de 2023, 10h28

Editorias:  Sem categoria

Os títulos que os autores dão a seus livros compõem um universo fascinante para pesquisas interessantes. Há aspectos formais. Há dilemas psicanalíticos. Há razões mercadológicas. Há jogos de palavras. Há pistas (inclusive falsas), e há também uma chave interpretativa para o que espera o leitor.

Spacca
Caricatura: Prof. Arnaldo Godoy

“O nome da Rosa”, de Umberto Eco, por exemplo, não é referência a personagem com esse nome, que não se encontra no livro, obviamente. Eco contava com um outro título, “A abadia do crime”; a opção, no entanto, “O nome da Rosa”, remete o leitor a um dos problemas centrais do romance: o tema do nominalismo.

O próprio Eco lembrava-se de Dumas (que contou a história de D’Artagnan, que não era um dos “Três Mosqueteiros), além de outros títulos labirínticos (“O vermelho e o negro”, “Guerra e Paz”). Eu acrescentaria “Esaú e Jacó” (argumento bíblico que Machado de Assis transpôs para Pedro e Paulo, com a paisagem do Rio de Janeiro na passagem do Império para a República como pano de fundo) ou, ainda mais objetivamente, “Dois Irmãos”, de Milton Hatoum, no contexto da perturbadora tensão entre Uaqub e Omar.

Uma lista de títulos intrigantes contaria também com “A manilha e o libambo”, de Alberto da Costa e Silva. Diplomata, poeta, africanólogo, memorialista, historiador, faleceu neste último 26 de novembro, aos 92 anos de idade. Uma rápida olhada sobre um de seus livros principais, cujo título também é prova inconteste de sua inventividade, é o tema dos embargos culturais dessa semana, que seguem em forma de homenagem a esse grande intelectual.

“A manilha e o libambo” é um portentoso estudo sobre a escravidão e o comércio de escravos, sob uma inusitada perspectiva de historiador brasileiro que conhece profundamente a história africana, inclusive sob uma miragem local. Uma abordagem raramente enfrentada com sucesso na tradição historiográfica brasileira.

Sobre o título. O autor (no prefácio) faz uma referência a um conto de Machado de Assis, “Pai contra Mãe”, cujo tema é a violência da escravidão. Machado de Assis registrava que a escravidão levara consigo ofícios, aparelhos e instituições sociais. Exemplificava com a máscara da folha de Flandres, símbolo dessa ignominia. O assunto — escravidão — é um dos temas do mencionado contopublicado em “Relíquias da Casa Velha”, na edição de 1906. Raimundo Faoro também comenta esse conto na parte 7 do capítulo III de “Machado de Assis, a pirâmide e o trapézio”.

O problema da escravidão é um dos mais intricados na obra de Machado de Assis, além, evidentemente, de ser o mais vergonhoso de nossa história. Pode-se atribuir à ironia machadiana uma crítica à mais sórdida fórmula de exploração que o Brasil conheceu, que muito nos envergonha, e que nos choca, sempre e sempre; e que deixou reflexos que até hoje são assustadores. Condições desumanas de trabalho e exploração superlativa da força humana são desdobramentos modernizados dessa condição odiosa.

A manilha, explica-nos Alberto da Costa e Silva, é um instrumento de metal, quase uma pulseira, em forma de C. O libambo evoca uma sequência de ferros que prendia escravos, comum nas caravanas de cativos. Manilha e libambo reportam-se, assim, à escravidão africana, que o autor identificou como forma de “iniquidade, violência, humilhação (e) sadismo”. Ainda que “toda história tenha um lado de sombra e um lado de sol”, o autor, após indicar várias contribuições africanas, registra que o livro enfatiza a escravidão e o comércio de escravos na África subsaariana, de 1500 e 1700.

São quase 1.000 páginas. Um texto elegante, culto, manifestadamente preparado, estudado, esquadrinhado. Uma leitura que exige tempo, dedicação e interesse pelo assunto. O último capítulo “Escravo igual a negro” retoma que também houve escravidão de eslavos (e o nome da instituição vem daí), gregos, turcos, árabes, armênios, berberes, búlgaros, circassianos. O autor lembrou que Américo Vespúcio tinha em sua casa cinco escravos: “dois negros, um guancho e dois mestiços de canários”. O guancho, encontrei no Aurélio, era um habitante do Tenerife. Alberto da Costa e Silva refere-se também ao fato de que “(…) não era invulgar encontrar-se em cativeiro árabes, berberes e turcos (…) ainda que em número bem menor, indianos, malaios, chineses e ameríndios”.

Nessa parte final do livro retoma o papel dos jesuítas no Brasil, quanto ao problema da escravidão, sob a luz da intrincada questão da oitiva de confissão, por parte dos inacianos, em relação a proprietários de escravos. A questão é intricada justamente porque à escravidão de indígenas (que os jesuítas abominavam) opunha-se a escravidão de africanos, o que teria provocado, segundo o autor, reprimendas do Papa II, que teria se insurgido contra a dominação de africanos convertidos ao catolicismo.

Alberto da Costa e Silva, também na parte final, refere-se ao escravo como tema e argumento literário. Evoca Bernardo de Guimarães (Isaura) e Coelho Neto (Lúcia, de “Rei Negro”), a par do próprio Machado de Assis, que é o ponto de partida do livro. É só um estudo aprofundado dos porquês dessa opção (tema de crítica genética) que poderia esclarecer se não há na referência uma leitura radical sobre um problema que a historiografia literária ainda não resolveu. Remeto o leitor ao primeiro capítulo de “Machado de Assis Historiador”, de Sidney Chalhoub, e o problema pode ser melhor compreendido.

Em “A manilha e o libambo” o leitor insere-se em uma viagem histórica pela Costa do Ouro, pelo reino do Congo, pela região dos Grandes Lagos, por Madagáscar, por Angola, pelo Chade, sobe e desce o Nilo, percebe a Etiópia, o Mali, o Benim. Um desfile de nomes diferentes e de regiões distantes e de personagens inesperadas. O autor trata desses assuntos com competência historiográfica, desarmado de qualquer apelo ao exótico, e no contexto de uma perspectiva humana e esforçadamente compreensiva.

Ao mesmo tempo, o leitor interessado em Alberto da Costa e Silva deve correr para ler “Invenção do Desenho”, o segundo livro de memórias desse exuberante autor (o primeiro foi “O espelho do príncipe”). Conhecerá (ou revisitará) provavelmente um de nossos maiores intelectuais; um pensador de cultura enciclopédica (para usar um chavão) com a alma aberta para o inusitado, o que me parece uma imagem cheia de metafísica e, paradoxalmente, carregada de realismo, condições e circunstâncias que marcam escritores que, ao mesmo tempo, enxergam a pureza putativa do céu e consideram a realidade angustiante da terra.

Alberto da Costa e Silva ocupava a cadeira número 9 da Academia Brasileira de Letras.

segunda-feira, 27 de novembro de 2023

Homenagem do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI) a Alberto da Costa e Silva, diplomata, poeta, ensaísta, memorialista e historiador brasileiro.

 O Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI) manifesta profundo pesar pelo falecimento do diplomata, poeta, ensaísta, memorialista e historiador brasileiro, Alberto da Costa e Silva. 

Reconhecido como um dos mais proeminentes intelectuais do país, Alberto era membro da Academia Brasileira de Letras e dedicou-se intensamente ao estudo da cultura e história africanas, tendo atuado como embaixador do Brasil por quatro anos na Nigéria e no Benim. Sua contribuição para o entendimento e apreciação da herança africana é um legado que perdurará através de suas obras e realizações.

Alberto teve uma longa e relevante carreira diplomática, atuando como embaixador em Portugal (1986-1990), na Colômbia (1990-1993) e no Paraguai (1993-1995). Além disso, ocupou o cargo de Inspetor-Geral do Ministério das Relações Exteriores entre 1995 e 1998.

Alberto deixou um vasto legado literário, composto por quase 40 livros, abrangendo poesia, ensaios, memórias e história e foi um intelectual engajado com as questões contemporâneas. Foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 2000 e atuou como seu presidente em 2002 e 2003. Sua notável carreira acadêmica e seus estudos sobre a história africana culminaram em 2014 com o Prêmio Camões, o mais prestigiado reconhecimento literário em língua portuguesa.

Recentemente, um artigo sobre Alberto da Costa e Silva foi publicado na 6ª edição da CEBRI-Revista, com seção especial dedicada ao continente africano. Nele, a autora Marina de Mello e Souza ressalta a importância da obra do Embaixador para o estudo da História da África. Leia o artigo aqui.

O CEBRI transmite suas sinceras condolências à família, especialmente aos seus três filhos, Elza Maria, Antonio Francisco e Pedro Miguel, bem como aos seus sete netos e bisneta.

A partida de Alberto da Costa e Silva representa uma perda tanto para a diplomacia quanto para a cultura brasileira. Sua obra, porém, permanece viva, especialmente para as gerações futuras interessadas no estudo da África, um continente de extrema relevância para o Brasil e sua política externa.

domingo, 26 de novembro de 2023

Alberto da Costa e Silva: um gigante da cultura e da historiografia africanista brasileira: homenagem


Faleceu Alberto da Costa e Silva, um grande intelectual, um grande embaixador, que tive o prazer de ter em minha banca de tese no Curso de Altos Estudos do Instituto Rio Branco, depois publicada como Formação da Diplomacia Econômica no Brasil: as relações econômicas internacionais no Império, cujo prefácio foi assinado por ele. Isso foi antes que ele organizasse o fabuloso livro, para o qual tentei fazer uma segunda edição, como registro nesta ficha: 

3260. “O Itamaraty na Cultura Brasileira: projeto de nova edição, ampliada”, Brasília, 7 abril 2018. Proposta de terceira edição da obra, com adição de novos nomes; nota enviada aos responsáveis pela primeira edição e aos novos colaboradores; redação de carta aos antigos colaboradores; encaminhada ao embaixador Alberto da Costa e Silva. Obra original colocada à disposição neste link da plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/46849306/O_Itamaraty_na_Cultura_Brasileira_2001_).


O sumário da obra vai reproduzido abaixo: 


O Itamaraty na Cultura Brasileira - Celso Lafer, p. 15

Diplomacia e Cultura - Alberto da Costa e Silva, p. 26

Varnhagen, História e Diplomacia - Arno Wehling, p. 40

Ritmos de Uma Vida: Brazílio Itiberê da Cunha Músico e Diplomata - Celso de Tarso Pereira, p. 58

Joaquim Nabuco - Evaldo Cabral de Mello, p. 88

Pai e Filho - Sérgio Martagão Gesteira, p. 106

Aluízio Azevedo: A Literatura como Destino-  Massaud Moisés, p. 136

Domício da Gama - Alberto Venancio Filho, p. 158

Oliveira Lima e Nossa Formação - Carlos Guilherme Mota, p. 180

Gilberto Amado Além do Brilho - André Seffrin, p. 198

A Vida Breve de Ronald de Carvalho - Alexei Bueno, p. 214

Ribeiro Couto, o Poeta do Exílio - Afonso Arinos, filho, p.  232

Viagem a Beira de Bopp - Antonio Carlos Secchin, p. 252

Guimarães Rosa, Viajante - Felipe Fortuna, p. 270

Antônio Houaiss, A Cultura Brasileira e a Língua Portuguesa - Leodegário A. de Azevedo Filho, p. 288

Vinícius de Moraes O Poeta da Proximidade - Miguel Sanches Neto, p. 302

Poeta e Diplomata, na Música Popular - Ricardo Cravo Albin, p. 316

João Cabral, Um Mestre sem Herdeiros - Ivan Junqueira, p. 336

O Fenômeno Merquior - José Mario Pereira, p. 360

Os Autores, p. 380


Sua introdução, Diplomacia e cultura, é primorosa, e tomei agora o cuidado de colocá-la à disposição dos interessados neste link abaixo, embora já esteja incluída na obra completa, linkada acima: 


https://www.academia.edu/109893965/Diplomacia_e_Cultura_Alberto_da_Costa_e_Silva_2001_


Minhas homenagens a ele e a toda a sua família. Meu preito de gratidão por todo o trabalho intelectual que ele conduziu paralelamente a uma carreira brilhante.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 26 de novembro de 2023

quarta-feira, 14 de abril de 2021

O Itamaraty na Cultura Brasileira - Alberto da Costa e Silva (org.); 1a. ed. revista, preparatória a uma 3a. edição

O Itamaraty na Cultura Brasileira

Alberto da Costa e Silva 

Organizador


Editor Executivo

Paulo Roberto de Almeida

[revisão da edição original, sem os textos adicionais preparados para a 3ª. edição]



Capa: Foto do Palácio Itamaraty, Brasília, DF.

1a. edição: Instituto Rio Branco (2001); 

2a. edição: Instituto Rio Branco e Livraria Francisco Alves Editora (2002)

_____________________________________

 

Costa e Silva, Alberto da (org.); Almeida, Paulo Roberto de (ed.)

O Itamaraty na cultura brasileira. – 3a edição; Brasília: Funag, xxxx

xxx p.

 

     ISBN: 978-85-xxxx-xxx-xx

 

1. Brasil – 2. Diplomacia – 3 História – 4. Literatura – 5. Música – 6. Cultura – I: Costa e Silva, Alberto – II: Título

 

CDD –xxx-x

____________________________________________

CIP – Brasil. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação

 

[Esta versão: Paulo Roberto de Almeida (14/04/2021); sem os textos adicionais


Sumário

 

Prefácio à terceira edição (expurgada desta versão)........... 9

O Itamaraty na cultura brasileira............ 15

Diplomacia e cultura................... 25

Varnhagen, história diplomacia............ 40

Ritmos de uma vida: Brazílio Itiberê da Cunha. Músico e diplomata..... 60

Joaquim Nabuco.................... 96

Pai e filho: Luiz Guimarães Júnior e Luiz Guimarães Filho.... 116

Aluízio Azevedo: A literatura como destino........... 151

Domício da Gama............ 176

Oliveira Lima e nossa formação......... 198

Gilberto Amado: além do brilho............ 217

A vida breve de Ronald de Carvalho......... 234

Ribeiro Couto, o poeta do exílio.............. 25

Viagem a Beira de Bopp............ 272

Guimarães Rosa, viajante........... 293

Antônio Houaiss, a cultura brasileira e a língua portuguesa.......... 312

Vinícius de Moraes: o poeta da proximidade......... 327

Vinícius, poeta e diplomata, na música popular......... 343

João Cabral, um mestre sem herdeiros........... 364

O fenômeno Merquior............. 387


(Textos preparados para a 3ª. edição, expurgados desta versão:

Vasco Mariz: meu tipo inesquecível..... 412

Lauro Escorel: um crítico engajado.......... 439

Roberto Campos: um humanista da economia na diplomacia............... 459

Wladimir Murtinho, Brasília e a diplomacia da cultura brasileira........ 492

Sérgio Corrêa da Costa: diplomata, historiador e ensaísta.................. 503

Meira Penna, um liberal, crítico do Estado patrimonial brasileiro........ 541

Diplomacia no tempo: notas sobre a evolução da carreira diplomática. 572


Nota à Segunda Edição............ 577

Sobre os autores............ 579



Texto integral, revisto, da 1a. edição, neste link: 


https://www.academia.edu/46849306/O_Itamaraty_na_Cultura_Brasileira_2001_



quinta-feira, 25 de julho de 2019

Alberto da Costa e Silva, 88 anos - Documentario da ABL

Estou aguardando o lançamento, em 5 de agosto de 2019
Paulo Roberto de Almeida

Documentário “Alberto da Costa e Silva - Filho da África”, que exorta a trajetória do historiador, embaixador e acadêmico, estreia na ABL

Aos 88 anos, o historiador, embaixador e Acadêmico Alberto da Costa e Silva recebe os produtores Stéphanie Malherbe e Ricardo Vilas para “abrir o livro de sua vida e trajetória”. Com a discrição do diplomata e o humor fino do poeta, Alberto da Costa e Silva fornece neste filme um depoimento único sobre sua carreira, suas viagens e a importância da África no Brasil.

Percurso

Acadêmico Alberto da Costa e Silva conta sobre sua infância em Fortaleza, quando ia para a escola montado num carneiro, as brincadeiras com as crianças do bairro e pelo mundo imaginário encarnado por seu pai, o poeta Antônio da Costa e Silva. Relata a força de sua mãe, que trazia a marca das mulheres da sua família.

Trailer: “Alberto da Costa e Silva - Filho da África”



O documentário também aborda a adolescência no Rio de Janeiro, na Tijuca, onde a família se instala, pois sua mãe acredita que essa mudança propiciaria um futuro melhor para o filho. E trata, ainda, da escolha de Alberto pela carreira diplomática para “vingar seu pai”, que, antes dele, teve seu ingresso recusado na diplomacia. Mas essa escolha também foi justificada por seu gosto pela aventura, pelo desconhecido e pelo distante.
"
É uma alegria falar sobre Alberto da Costa e Silva, um homem incomum, singular... Eu diria que é um mestre. Um mestre da cultura, do pensamento... Um mestre da vida."
Fala da Acadêmica Nélida Piñon para o filme "Alberto da Costa e Silva - Filho da África".

Alberto da Costa e Silva e a África

Acadêmico Alberto da Costa e Silva é, reconhecidamente, no Brasil, o maior especialista em África, em razão de sua sede insaciável de procurar e entender as raízes do Brasil. Aos 14 anos, sendo um jovem branco e de classe média, tomou um choque ao ler Casa-Grande & Senzala, de Gilberto Freyre, descobrindo que nós, brasileiros, éramos negros. Mas, então, de onde viemos?” - perguntava-se, pois todos os escritos que encontrava traziam relatos mencionando negros já chegados ao Brasil, como se nascessem no próprio navio negreiro e não tivessem um passado, uma história ou uma cultura por trás de cada um. Era como se a África, de onde vinham, não existisse.
Alberto vai pesquisar, sem descanso, a História das Áfricas, porque sem a África não existiria o Brasil, tornando-se, assim, um pioneiro no Brasil dos estudos africanos.

O documentário

Além dos depoimentos de Alberto da Costa e Silva, o filme conta com testemunhos de intelectuais e pesquisadores, como Nélida Piñon, Franklin Martins, Muniz Sodré e Lilia Schwarcz, e de artistas, como Haroldo Costa, Nei Lopes e Martinho da Vila.
Alberto da Costa e Silva - Filho da África” terá sua primeira exibição pública no dia 6 de agosto, às 15h30, no Teatro R. Magalhães Jr., na Academia Brasileira de Letras. O evento contará com a participação do cineasta e Acadêmico Carlos Diegues, que coordena as ações de cinema na ABL. A Entrada é franca, limitada à capacidade do teatro. Faça sua reserva abaixo!
Inscrições para a sessão no RJ: http://www.academia.org.br/node/28333

Academia Brasileira de Letras

Teatro R. Magalhães Jr.
Av. Presidente Wilson, 203 - 1º andar
Castelo
Rio de Janeiro - RJ
Brasil
(21) 3974-2500

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

O Itamaraty na Cultura Brasileira - Alberto da Costa e Silva (org.)


O Itamaraty na Cultura Brasileira


Organizador: Alberto da Costa e Silva
Realização: Instituto Rio Branco
1a. edição: Instituto Rio Branco, 2001 (grande formato, ilustrada)
Produção Executiva: Arte 21 – Escritório de Arte e Projetos Culturais
Coordenação Geral de Produção: Karla Osório Netto
Programação Visual: Lumen Argo – Arte e Projeto Evandro Salles

Sumário da 1a. edição:
O Itamaraty na Cultura Brasileira, Celso Lafer *15
Diplomacia e Cultura, Alberto da Costa e Silva *26
Varnhagen, História e Diplomacia, Arno Wehling *40
Ritmos de Uma Vida: Brazílio Itiberê da Cunha Músico e Diplomata, Celso de Tarso Pereira *58
Joaquim Nabuco, Evaldo Cabral de Mello *88
Pai e Filho (Luis Guimarães Júnior e L. G. Filho), Sérgio Martagão Gesteira *106
Aluízio Azevedo, A Literatura como Destino, Massaud Moisés *136
Domício da Gama, Alberto Venancio Filho *158
Oliveira Lima e Nossa Formação, Carlos Guilherme Mota *180
Gilberto Amado Além do Brilho, André Seffrin *198
A Vida Breve de Ronald de Carvalho, Alexei Bueno *214
Ribeiro Couto, o Poeta do Exílio, Afonso Arinos Filho *232
Viagem à Beira de Bopp, Antônio Carlos Secchin *252
Guimarães Rosa, Viajante, Felipe Fortuna *270
Antônio Houaiss, A Cultura Brasileira e a Língua Portuguesa, Leodegário A. de Azevedo Filho *288

Vinícius de Moraes, O Poeta da Proximidade, Miguel Sanches Neto *302
Vinícius, Poeta e Diplomacia, na Música Popular, Ricardo Cravo Albin *316
João Cabral, um Mestre sem Herdeiros, Ivan Junqueira *336
O Fenômeno Merquior, José Mario Pereira *360
Os Autores, *380
2a. edição: Editora Francisco Alves, 2002 (brochura)
Acréscimo de Nota final (sobre funções e títulos diplomáticos), por José Roberto de Andrade Filho

Proposta de 3a. edição: (formato a definir)


Paulo Roberto de Almeida (21/03/2018)