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sábado, 28 de julho de 2018

Brasil: uma tragedia no quesito liberdades econômicas - Robert Lawson

Brasil é uma tragédia quanto à liberdade econômica

Diretor do O’Neil Center For Global Markets and Freedom diz que País fez muito pouco para liberalizar a economia

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Na 150ª posição de um ranking que avalia a liberdade econômica de 159 países, o Brasil, apesar de ser menos fechado do que há algumas décadas, fez, historicamente, pouco para liberalizar a economia. A consequência disso é conviver com taxas de crescimento mais baixas. Essa é a avaliação do Diretor do O’Neil Center For Global Markets and Freedom, Robert Lawson.
Em entrevista para o UM BRASIL, realizada em parceria com o Centro Mackenzie de Liberdade Econômica (CMLE), Lawson afirma que o País é um dos mais avessos à abertura da economia e à redução da interferência do Estado na sociedade.
“O Brasil é uma tragédia em vários aspectos. Enquanto a maior parte do mundo está se liberalizando radicalmente, o Brasil apenas continua o mesmo. Tem alguns altos e baixos, mas, em relação ao resto do mundo, as coisas parecem não mudar tão rápido no País”, afirma. “Praticamente o mundo todo se moveu na direção de menos impostos, mais privatizações, negócios mais livres, e o Brasil fez muito pouco disso”, completa.
O coautor do Índice de Liberdade Econômica Mundial (World Economic Freedom Index), do Fraser Institute, explica que “liberdade econômica é a liberdade de gerir a sua vida econômica sem a interferência de outras pessoas” e que o índice mede “o quanto as pessoas são livres para viver suas vidas sem interferências”.
Nesse sentido, apesar de argumentar que o Estado deve prover segurança, um sistema legal justo e realizar investimentos, Lawson diz que “o maior violador da liberdade econômica das pessoas é o governo”. “O que descobrimos e o que nos preocupa é que quando o governo faz demais dessas coisas, quando cobra impostos demais, quando faz regulações demais, ele pode tornar nossas vidas piores”, salienta.
Com base nos dados que apontam Hong Kong, Singapura e Nova Zelândia na liderança – e a Venezuela na última posição –, em termos de liberdade econômica, o doutor em Economia pela Universidade Estadual da Flórida (EUA) ressalta que, contrariando o senso comum, quanto mais livre for o país, mais seguro ele será. “São os países menos livres que têm mais inseguranças. Eu acho que há um mito em que as pessoas acreditam sobre como a liberdade funciona. Parece mais arriscado, mas, quando você olha para os dados, as pessoas mais livres não são as mais inseguras. Na verdade, é o contrário.”
Lawson comenta que, em geral, os países que mais se liberalizaram foram recompensados com taxas de crescimento mais elevadas. Além disso, defende que o nível de liberdade de uma nação deve ser decidido pela sociedade, e não imposto por um governo autoritário.
“Eu acho que tem a ver com o coração e a mente das pessoas. Quero dizer, os políticos fazem o que as pessoas os elegeram para fazer. Se nós elegermos políticos para aumentar impostos, eles vão aumentar impostos. Se nós elegermos políticos para privatizar estatais, é isso que eles vão fazer”, reitera.
Importante: As opiniões contidas neste texto são do autor do blog e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney.

domingo, 19 de fevereiro de 2017

Brasil, um pais socialista; China, um pais capitalista, e mais livre que o Brasil - Economic Freedom of the World

Brasil despenca em ranking de liberdade econômica: somos mais socialistas do que China e Rússia

Instituto Liberal de São Paulo
http://www.ilisp.org/noticias/brasil-despenca-em-ranking-de-liberdade-economica-somos-mais-socialistas-do-que-china-e-russia/

Lançada hoje, a versão 2017 do Índice de Liberdade Econômica da Heritage Foundation mostra o efeito do desastre criado pelos últimos anos do governo Dilma Rousseff (e até o momento não revertido por Michel Temer) na liberdade econômica do país.
Apenas em um ano, o país caiu 3,6 pontos percentuais no ranking, estando agora na 140a posição. Em outras palavras, somos tão socialistas quanto Togo (138°), Burundi (139°), Paquistão (141°) e Etiópia (142°), e mais socialistas do que países como Gabão (103°), Tadjiquistão (109°), China (111°, ainda controlada pelo Partido Comunista), Rússia (114°, o coração da antiga União Soviética), Nigéria (115°), Congo (117°), Senegal (120°), Zâmbia (122°), Tunísia (123°), Grécia (127°) e Quênia (135°).
Comparação da liberdade econômica de Brasil (cinza), China (amarelo) e Rússia (azul) nos últimos anos em relação à média mundial (rosa) Fonte: Heritage Foundation
De acordo com a análise da Heritage Foundation em relação ao Brasil, a interferência do estado na economia brasileira tem sido crescente, enquanto os serviços estatais continuam sendo de péssima qualidade. A implantação de qualquer reforma tem sido difícil e as barreiras ao empreendedorismo incluem altas taxas, excesso de regulação e uma rígida legislação trabalhista (a fascista CLT). Os escândalos de corrupção fizeram a população acreditar cada vez menos nas instituições, contribuindo para a queda do país no Ranking de Competitividade do Fórum Econômico Mundial (uma das 42 variáveis que compõem o ranking da Heritage). O aumento dos gastos do governo (39,5% do PIB), o contínuo aumento da burocracia para abertura ou expansão de empresas e o excessivo protecionismo governamental em relação às importações contribuíram para a queda do país no ranking.
Em relação à China, a análise da Heritage Foundation destaca que o país continua majoritariamente socialista (com o estado controlando todas as terras, por exemplo), mas que os avanços feitos no sentido de reduzir impostos, a manutenção de certa liberdade trabalhista (maior do que a brasileira) e uma maior liberdade para importação e exportação colocaram o país à frente do Brasil no ranking.
No caso da Rússia, a análise destaca que o país está igualmente longe de ter liberdade econômica (com uma crescente intervenção do estado na economia gerando problemas para empresas privadas e maior inflação), mas que o país tem impostos menores do que o Brasil – alíquota de imposto de renda para pessoas físicas fixa em 13% e uma alíquota máxima de 20% para empresas, em comparação com as alíquotas de até 27,5% para pessoas físicas e até 34% de impostos para empresas -, menores gastos e dívida pública (17,7% do PIB na Rússia contra 73,7% do PIB no Brasil), maior liberdade para abertura e fechamento de empresas do que o Brasil e maior facilidade para importação e exportação, garantindo a Rússia na 114a posição do ranking.
Os países com maior liberdade econômica (ou seja, com maior liberdade para trocas capitalistas e menor intervenção do estado na economia em comparação com os demais) do mundo continuam sendo Hong Kong, Singapura, Nova Zelândia, Suíça e Austrália. No continente americano, os países com maior liberdade econômica atualmente são Canadá (7°), Chile (10°) e Estados Unidos (17°, a cada ano caindo mais no ranking).

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Liberdades economicas: seu significado (e uma prova para o Enem)

Leio, no último relatório anual da Heritage Foundation, Economic Freedom of the World 2015 (mas baseado em dados consolidados de 2013), que os fundamentos (cornerstones) da liberdade econômica são (transcrevo, traduzindo):

"1) escolha pessoal;
2) intercâmbio voluntário coordenado por mercados;
3) liberdade de entrar e competir nos mercados;
4) proteção às pessoas e suas propriedades contra agressões de terceiros.

A liberdade econômica está presente quando aos indivíduos é permitido escolher por si próprios e entrar em transações voluntárias desde que não ofendam outras pessoas ou suas propriedades. Indivíduos dispõem do direito de seu próprio tempo, talentos e recursos, mas eles não têm o direito de tomar coisas dos demais ou pedir que outros lhes provenham de bens. O uso da violência, do roubo, da fraude, das invasões físicas não são permitidas numa sociedade economicamente livre, mas ao contrário, os indíviduos são livres para escolhar, transacionar, e cooperar com outras, ou competir segundo julguem adequado.
Numa sociedade economicamente livre, o papel essencial (primary role) do governo é o de proteger os indivíduos e suas propriedades das agressões de terceiros."

Gwartney, James; Lawson, Robert; Hall, Joshua. Economic Freedom of the World: 2015 Annual Report (Vancouver: Fraser Institute, 2015, 258 p.; ISBN: 978-0-88975-363-1)
Disponível: http://www.freetheworld.com/2015/economic-freedom-of-the-world-2015.pdf

Pergunta para uma prova do ENEM, ou algum vestibular qualquer: 

Com base nesses critérios, como você avaliaria o caso do Brasil?

Bem, entre 152 países, estamos classificados em lugar 118, no ranking geral, mas se desagregarmos os indicadores setoriais, e selecionarmos, por exemplo, apenas aqueles que têm a ver com a ação governamental, nossa posição ainda cai muitos pontos, como seria de se esperar.
Conclusão: o Estado brasileiro é o principal obstrutor das liberdades econômicas.

Segundo outras constatações do mesmo relatório, baseado em dados objetivos, sem qualquer subjetivismo ou emocionalismos, os países mais livres são os mais prósperos, os de mais alta renda, os de maior longevidade, os menos desiguais, etc.
As pessoas mais pobres dos países mais livres são 100% mais ricas (renda per capita em dobro) do que a média de renda dos países menos livres.
São constatações...

Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 24 de setembro de 2015

segunda-feira, 30 de junho de 2014

Chile 14 vs Brasil 0: Copa das liberdades economicas e dos resultados sociais

Na verdade, o resultado final não é 13 a 1, e sim 14 a 0. O único item que aparentemente colocaria o Brasil na frente do Chile, o desemprego menor, de fato é maior, de acordo com as estatísticas amplas do IBGE, e não com a amostra de apenas 8 regiões metropolitanas que resulta nessa taxa mais favorável.
O Brasil perde em todos os capítulos.
Paulo Roberto de Almeida

Longe do gramado, Brasil toma goleada do Chile.
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Na "Copa da Liberdade Econômica", o Brasil patrimonialista de Dilma e Lula perde de 13 a 1 para o Chile, segundo levantamento realizado pelo Instituto Liberal de São Paulo:


Independentemente do resultado dentro dos gramados, fora deles o Chile é talvez o maior exemplo de como o Brasil poderia prosperar se adotasse medidas liberais em sua economia. Partido de indicadores muitos próximos aos brasileiros, o 7° país mais liberal do mundo teve nos últimos 30 anos uma grande melhora em todos os indicadores sociais e econômicos, goleando o Brasil em praticamente todos e atingindo níveis de países do primeiro mundo. Os chilenos vivem mais, têm facilidade muito maior para abrir empresas (11 *minutos* e pela internet), assassinatos são raros, a imprensa é muito mais livre, a corrupção é baixa e o sistema de saúde é muito superior. Tudo isso com baixa inflação e taxa de juros, levando o Chile a ter o maior PIB per capita da América Latina.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

O Estado brasileiro contra o Brasil: liberdades economicas (5) - Paulo Roberto de Almeida

17/11/2011

Como os países avançam na economia global? - V

Paulo Roberto de Almeida
De forma geral, o relatório de 2011 do Fraser Institute, Economic Freedom of the World, confirma o que esse mesmo instituto e diversos outros centros de pesquisa e os organismos internacionais vêm afirmando desde muito tempo: nações que são mais livres economicamente registram melhor desempenho e superam em prosperidade as nações menos livres, vistos os diversos critérios de bem-estar e os de ganhos de produtividade. Consolidando os dados de 2009, o relatório registra que as nações no quarto superior da escala das liberdades econômicas apresentam uma renda média per capita de US$ 31.501, comparados aos US$ 4.545 para as economias que ocupam o quarto inferior dessa mesma escala (os valores foram os obtidos a partir de um dólar constante de 2005).

Em termos de crescimento econômico, o quarto superior da escala registrou uma progressão anual do PIB per capita entre 1990 e 2009 de 3,07%, ao passo que as economias do quarto inferior cresceram apenas 1,18% no mesmo período. A distribuição de renda também é mais favorável nas nações mais livres do que naquelas oprimidas por um Estado onipresente e onipotente: a renda média da fração mais pobre da população (os 10% de menor renda) era de US$ 8.735 nos países mais livres, contra apenas US$ 1.061 para aqueles situados no décimo estrato inferior dos países menos livres.

Um outro dado interessante é este: a renda média dos 10% mais pobres nos países do quarto superior mais livre (ou seja, os mesmos US$ 8.735) é quase o dobro da renda média geral dos países do quarto inferior (US$ 4.545); ou seja, as pessoas mais pobres nos países mais livres são quase duas vezes mais ricas do que os habitantes dos países menos livres (renda média).

Por outro lado, o limite de US$ 1,25 por dia utilizado pelos organismos internacionais para identificar a linha de pobreza – na verdade de miséria – se materializa para apenas 2,7% da população dos países economicamente mais livres, ao passo que essa renda de miséria é encontrada em 41,5% da população nos países do quarto inferior das liberdades econômicas. Ademais, a esperança de vida alcança 79,4 anos nos países mais ricos, contra apenas 60,7 anos nos de menor liberdade econômica.

Como enfatiza, no capítulo 3, Jean-Pierre Chauffour (economista-chefe do Banco Mundial para a regiões do Oriente Médio e do norte da África), as políticas que promovem as liberdades produzem mais desenvolvimento econômico do que aquelas que enfatizam “direitos sociais” (entitlements), o que é sustentado por dados empíricos. Como regra geral, portanto, as liberdades fundamentais são mais relevantes dos que as políticas ativistas dos Estados na promoção do crescimento econômico de longo prazo.

Isto é, aliás, inteiramente comprovado no caso da China, a despeito do que acreditam muitos ingênuos, que insistem em enfatizar as “políticas de Estado”, em lugar do que seria mais correto, justamente: o crescimento da liberdade econômica na ex-economia socialista. A China cresce mais do que o Brasil não porque ela pratica “políticas estatais mais corretas” – o que também pode ocorrer, mas nos setores em que o Estado deve ser mais atuante, justamente –, mas porque ela liberou as energias dos seus milhões de empreendedores.

Chaffour, de fato, confirma que, para um conjunto de condições exógenas, os países que favorecem a liberdade de escolha – a liberdade econômica e as liberdades civis e políticas – sobre “direitos sociais” são mais propensos a registrar taxas mais altas de crescimento sustentado e a alcançar os traços mais característicos do sucesso no plano do bem-estar, tal como identificados pela Comissão sobre Crescimento e Desenvolvimento do Banco Mundial (ver The Growth Report 2008: Strategies For Sustained Growth And Inclusive Development).

Em contrapartida, a busca da realização de “direitos sociais” – mínimos, se possível “igualitários” – através de controles mais extensivos por parte do Estado e mediante políticas que requerem, justamente, maior extração de recursos da sociedade por parte de burocracias ativistas, tem maiores probabilidades de se revelar frustrante (self-defeating) no longo prazo. A história do socialismo mundial, aliás, é um livro aberto a esse respeito: se políticas redistributivas centralmente organizadas fossem sinônimo de avanços sociais e de desenvolvimento, os países do socialismo real teriam sido campeões da prosperidade e dos avanços tecnológicos, e não a miséria que efetivamente foram.

Essas evidências deveriam sugerir importantes lições de políticas públicas para todos os países, sendo apenas surpreendente que dirigentes dos países menos bem sucedidos na corrida ao desenvolvimento não as tenham aprendido depois de tantos dados comprobatórios confirmando o acertado das políticas de maior liberdade sobre as de maior controle estatal.

A história (de várias décadas) da Argentina, assim como a experiência recente da Venezuela, empenhada em construir, pelas mãos pouco econômicas de seu caudilho não esclarecido, um “socialismo do século XXI” – que nada mais é do que uma confusa versão dos piores coletivismos do século XX –, deveriam, no entanto, servir de vitrines vivas para as teses principais do Relatório do Fraser Institute.

Mesmo no caso de países já desenvolvidos, priorizar políticas de maior liberdade individual, sobre os famosos “direitos sociais”, pode ser uma via mais eficiente para lograr reformas econômicas e os ajustes necessários no chamado “Estado de bem-estar” (hoje em dia, em crise um pouco em todas as partes), do que insistir na manutenção dos velhos esquemas do welfare State que já fizeram água e conduziram a crises fiscais mais ou menos prolongadas.

Para os países de renda média, como seria o caso do Brasil, esta seria uma importante lição a ser aprendida na definição de estratégias de crescimento no longo prazo: a abertura para maiores direitos políticos e para níveis mais elevados de liberdade econômica cria melhores condições de desenvolvimento do que a estratégia do Estado ativista que foi a tônica nas décadas que se seguiram a Bretton Woods.

Se, por outro lado, formos consultar o Índice dos Estados Falidos, do Fund for Peace, veremos que, à parte todos os conhecidos desastres africanos – e pelo menos um latino-americano, o Haiti, e que se explicam, muitas vezes, pela ausência de Estado –, o Brasil, justamente, está longe de poder ser classificado como um país “sustentável”, estando bem mais no limite dos casos a serem observados com atenção.

Os fatores negativos que nos colocam numa posição de 65 pontos nesse índice, para uma escala máxima de 120 pontos, são justamente aqueles que deveriam ser de responsabilidade do Estado, mas que não são por ele atendidos, por insuficiência de meios ou por ineficiência geral da máquina pública.

Ora, considerar que o Brasil vai melhorar socialmente pela contínua extração de recursos da sociedade pelo Estado – como vem ocorrendo de forma contínua nas últimas décadas – representaria inverter os dados do problema e apontar na direção errada. Isso significaria tornar a sociedade – se ela já não é – refém de um ogro pantagruélico que suga, cada vez mais, a renda dos cidadãos em favor de elites privilegiadas, ao mesmo tempo em que distribui alguns parcos recursos aos mais desprovidos, a título de “direitos sociais” que não corrigem, fundamentalmente, os dados e as raízes da questão.

Como se pode constatar pelos dados e pelos estudos constantes do relatório do Fraser Institute, o Brasil é um país quase “socialista” se comparado com a China “ex-socialista”. Ele é, em todo caso, muito mais regulado do que o gigante asiático, no sentido de tolher os negócios dos seus empresários; a China vem crescendo, justamente, pelo fato de ter liberado os “seus” capitalistas da pesada canga herdada do período socialista, sem impor-lhes os entraves burocráticos – negativamente “mandarinescos” – e a pesada carga tributária que vigora no Brasil, em todos os níveis (e que representa, em média, o dobro daquela observada na China). Os resultados, em termos de crescimento, saltam à vista e não permitem outra conclusão: se o Brasil quiser crescer como a China, terá de libertar seus capitalistas dos grilhões que os prendem ao ogro estatal.

Não se deve, no entanto, esperar uma grande renovação conceitual das políticas em curso a partir da contribuição de nossas faculdades de economia: pelo que se conhece dos currículos e das orientações disciplinares, parece claro que elas não pretendem trazer Adam Smith ao Brasil, como aparentemente fizeram os chineses em suas faculdades de economia e de administração. Os modernos mandarins chineses são aliados dos seus capitalistas na busca da maior eficiência possível para que o sistema econômico produza crescimento.

Por aqui, não se sabe quando, exatamente, os líderes políticos conseguirão pautar-se pelas lições de simples bom-senso econômico do filósofo escocês, retirando as bolas de ferro que atam os pés dos nossos capitalistas. Revoluções mentais são sempre mais difíceis de ocorrerem do que certas evoluções materiais.

Mas fica dado o recado...

(Fim, provisório, desta série)

Paulo Roberto de Almeida é doutor em Ciências Sociais pela Universidade de Bruxelas (1984). Diplomata de carreira desde 1977, exerceu diversos cargos na Secretaria de Estado das Relações Exteriores e em embaixadas e delegações do Brasil no exterior. Trabalhou entre 2003 e 2007 como Assessor Especial no Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República. Autor de vários trabalhos sobre relações internacionais e política externa do Brasil. 

O Estado brasileiro contra o Brasil: liberdades economicas (4) - Paulo Roberto de Almeida

10/11/2011

Interpretando alguns indicadores setoriais de liberdade econômica - IV

Paulo Roberto de Almeida 
Que observações poderiam ser feitas a partir da tabela constante do : Economic Freedom of the World: 2011 Annual Report ) e de outros dados desagregados (setoriais) constantes dos dados dos países – ver o artigo anterior desta série – tendo o Brasil como referência de comparação com outros países emergentes? Já tínhamos constatado que, em termos de liberdades econômicas, o Brasil fica atrás mesmo de economias que, até duas décadas atrás, ainda eram consideradas socialistas ou em mera transição para o capitalismo; no caso da China, a situação é ainda mais bizarra, uma vez que ela ainda é oficialmente apresentada como uma “economia socialista de mercado”(1).

Ora, a China, bastante admirada em certos círculos econômicos do Brasil – tanto acadêmicos quanto governamentais – em razão do papel supostamente mais preeminente do Estado, como planejador ou indutor do crescimento econômico, quando não como “promotor” do desenvolvimento econômico e social, situa-se vários pontos acima do Brasil, tanto na classificação geral, quanto em áreas relevantes da atividade econômica, como a 2a. (Estrutura Legal e Garantia de Direitos de Propriedade), a 4a. (Liberdade de Comerciar Internacionalmente) e a 5a. (Regulação do Crédito, do Trabalho e dos Negócios), com exceção, justamente, da primeira, relativa ao tamanho do governo.

Paradoxalmente, portanto, e curiosamente, a economia “socialista” da China é bem mais “capitalista” do que a brasileira, uma vez que seu governo – importante como ele aparece nas estatísticas quanto ao seu tamanho – é de fato responsável por todas as obras de infraestrutura (portos, aeroportos, energia, etc.) que são relevantes para impulsionar os negócios dos seus capitalistas, deixando para o setor privado todos aqueles setores que sustentam uma economia competitiva no plano mundial e que fazem da China, justamente, um país imbatível quando se trata de dinâmicas competitivas.

Se formos considerar, por exemplo, a área 2 (Estrutura Legal e Garantia de Direitos de Propriedade), registraremos que a proteção legal dos direitos de propriedade é muito mais bem assegurada na China (6.85 pontos) do que no Brasil (5.45 pontos, apenas); ou que a aplicação formal dos contratos é mais bem respeitada na China (6.73) do que no Brasil (4.82 pontos). No que se refere à liberdade de transacionar internacionalmente (área 4), as taxas aplicadas ao comércio exterior, bem mais baixas na China, a colocam à frente do Brasil (pontuação de 8.15, contra apenas 7,28 para o Brasil); as barreiras não-tarifárias também dão à China uma melhor posição (6.01 pontos, acima dos 4.77 do Brasil).

Ainda nessa área do comércio internacional – que constitui, como se sabe, um dos mais relevantes fatores de competitividade internacional e de ganhos de produtividade via incorporação de novas tecnologias e melhoria geral do desempenho das empresas expostas à concorrência externa –, a China apresenta uma proporção do comércio exterior, relativamente ao tamanho da sua economia bem mais favorável do que a do Brasil (9.12 pontos, contra apenas 2.44), o que significa que o seu coeficiente de abertura externa cumpre seu papel de modernizar a economia e trazer ganhos de oportunidade para o conjunto de seus empresários.

É importante registrar aqui que a China tornou-se um formidável competidor internacional no campo das manufaturas industriais não em virtude do tamanho do seu Estado, mas graças ao dinamismo de seus empresários e à política de abertura comercial, justamente praticada pelo Estado chinês. Ou seja, a China vem registrando essas extraordinárias taxas anuais de crescimento econômico a despeito do tamanho do seu Estado, não graças a ele, na direção contrária, portanto, do que apontam nossos intervencionistas renitentes da academia ou do governo. O Estado chinês se conforma, assim, a um padrão “Adam Smith” de intervenção na vida econômica (2).
Focalizando, agora, a última área detalhada no relatório do Fraser Institute (Regulação do Crédito, do Trabalho e dos Negócios), constatamos, uma vez mais, que a China “socialista” não apenas é mais capitalista do que o Brasil, como ela é mais amiga do “capital financeiro”, ou da “financeirização” como a designam certos socialistas brasileiros, qualquer que seja a significação desse termo: a regulação do mercado de créditos é, aparentemente, mais eficiente na China do que no Brasil (7.43 pontos, contra apenas 6.65)l também, o crédito ao setor privado é bem mais abundante no “socialismo de mercado” (9.73, de um total de 10 pontos, recorde-se) do que no “capitalismo periférico” (apenas 7.59).

Mais importante, no quesito controle sobre taxas de juros e taxas de juros reais, a China recebe a pontuação máxima (10 pontos), para miseráveis 6 pontos no Brasil. Quanto ao mercado laboral, ele é regulamentado de forma bem mais liberal na China “socialista” do que no Brasil “capitalista”; em geral, é mais fácil e rápido contratar, despedir e fazer barganhas coletivas no país asiático do que aqui (em média 5.11 a 8.90 lá, contra apenas 2.23 a 5.44 no Brasil). De fato, o Brasil é mais “generoso” com seus trabalhadores, mesmo se eles dificilmente conseguirão dobrar sua renda pessoal antes de 5 ou 6 décadas, ao passo que na China os ganhos de renda dobram em menos de vinte anos. Qual é, então, a melhor perspectiva em termos de progressos individuais?

(a continuar...)
Notas: (1). Ver Paulo Roberto de Almeida, “Falácias acadêmicas, 13: o mito do socialismo de mercado na China”, Espaço Acadêmico, ano 9, n. 101, outubro 2009; ISSN 1519-6186 (on-line); p. 41-50; link: http://www.periodicos.uem.br/EspacoAcademico (2). Com base nessa constatação, se poderia sugerir, talvez ironicamente, que o título de um dos mais conhecidos livros do sociólogo dos sistemas mundiais Giovanni Arrighi, Adam Smith in Beijing: Lineages of the Twenty-First Century (2007; publicado no Brasil como: Adam Smith em Pequim: origens e fundamentos do século XXI; Rio de Janeiro: Boitempo, 2008), fosse mudado para algo mais conforme à realidade: A China vai à Escócia, e ter eventualmente como subtítulo: “como um gigante da economia mundial do século XXI opera um retorno aos padrões da escola liberal de economia do século XIX”. Muitos seguidores ingênuos de Giovanni Arrighi no Brasil provavelmente acreditam que a China está “revolucionando” o capitalismo, ao supostamente introduzir uma versão “administrada” pelo Estado desse “modo de produção”, quando é precisamente o Estado chinês que está abrindo as portas da economia chinesa às formas mais clássicas do capitalismo, um processo raramente visto no mundo desde a primeira revolução industrial: a China se move no mundo graças a seus capitalistas, não ao Estado “socialista” (que quando existe, sob a forma de empresas estatais, atua de modo perfeitamente capitalista).

O Estado brasileiro contra o Brasil: liberdades economicas (3) - Paulo Roberto de Almeida

03/11/2011

O que dizem os indicadores sobre as liberdades econômicas? - III

Paulo Roberto de Almeida 
As tabelas ao lado, resumindo alguns dos dados do relatório de 2011 do Fraser Institute (Economic Freedom of the World: 2011 Annual Report; disponível: http://www.freetheworld.com/2011; para os outros anos: http://www.freetheworld.com/reports), apresentam exemplos significativos, que podem colocar em perspectiva a posição do Brasil em face de outros casos de sucesso ou de atraso relativos. Primeiro, um resumo da classificação geral, para os países mais importantes ou para os casos mais “interessantes”.

Registre-se, em primeiro lugar, a invejável posição do Chile, à frente de muitos outros países desenvolvidos, considerados, por vezes equivocadamente, como exemplos de economias de livre mercado. Para os muitos (geralmente da academia brasileira) que desprezam o “modelo chileno”, como sendo o de uma “pequena economia” dominada pelo “neoliberalismo” e sem qualquer relevância para o Brasil, pode-se retorquir que essa opção pela abertura garante ao país o acesso a praticamente 80% do PIB mundial, em função dos muitos acordos de livre comércio negociados com parceiros relevantes em todos os continentes.

Pergunta-se a esses ideólogos o que pode haver de errado em ter os seus produtos competitivos à disposição em praticamente todos os supermercados do mundo? Se existirem razões ponderáveis para se opor à competitividade chilena, seria o caso de demonstrar em quê, ou como, o livre comércio se opõe à prosperidade nacional.

Observe-se, em seguida, a inacreditável degringolada da Argentina, um país que, no início do século XX superava em prosperidade muitos países europeus, exibindo uma renda per capita que representava mais de 70% do nível dos EUA, já então um dos países mais ricos do planeta. Cem anos depois, a renda per capita dos argentinos corresponde a pouco mais de 33%, apenas, do valor dos EUA, e um terço a mais do que a dos brasileiros, quando ela era cinco a seis vezes superior um século antes.

Esses resultados catastróficos certamente têm a ver com a perda de liberdades econômicas e com os sucessivos experimentos de políticas econômicas esquizofrênicas (aliás, até hoje). Outro país que envereda pelo mesmo caminho é a Venezuela, situada em antepenúltimo lugar na escala do Fraser Institute, a despeito de uma renda per capita ainda superior à da maior parte dos países latino-americanos (devido ao petróleo, claro, mas muito mal distribuída).

Os dois outros sócios pequenos do Mercosul (Uruguai e Paraguai), assim como os três países associados (Chile, Peru e Bolívia), figuram à frente do Brasil, todos eles, com exceção da Bolívia, superando alguns países considerados avançados. Da mesma forma, o Brasil é ultrapassado por todos os demais membros do Brics, alguns deles invejados, talvez, pelo dinamismo de suas economias, mas não necessariamente famosos pelas liberdades civis ou pela qualidade de suas instituições democráticas.

A realidade, porém, é que, com a extraordinária exceção do já citado (e patético) caso da Argentina, o Brasil figura em muito má postura no quadro das liberdades econômicas em escala global. A tabela a seguir registra alguns dos dados a partir dos quais se poderia buscar as razões para essa classificação relativamente deprimente para o orgulho nacional.
(a continuar...)

O Estado brasileiro contra o Brasil: liberdades economicas (2) - Paulo Roberto de Almeida

06/10/2011

Os indicadores sobre a liberdade econômica no mundo - II

Paulo Roberto de Almeida 
O mundo contemporâneo, cada vez mais integrado em escala global, conta com certa pletora de indicadores comparativos, alguns deles incidindo sobre critérios de desempenho – como, por exemplo, o da competitividade econômica, elaborado pelo Fórum Econômico Mundial – enquanto outros focalizam critérios menos brilhantes, como o relatório do Fund for Peace sobre os Estados falidos.

O Brasil progride em alguns deles, embora venha declinando (absoluta e relativamente) no critério anterior, o de competitividade. O que se pode observar, geralmente, é uma correspondência elementar entre os indicadores construídos por ONGs ou entidades oficiais, e o famoso indicador de desenvolvimento humano do PNUD: não é, assim, surpresa para ninguém constatar uma classificação quase similar entre o IDH e esses indicadores mais amplos ou mais específicos no plano econômico. Sociedades prósperas são também países mais estáveis institucionalmente e economias mais produtivas e mais competitivas.

Uma consulta, mesmo sumária, ao relatório das liberdades econômicas para 2011 do Fraser Institute, consolidando dados de 2009, na verdade – revela uma riqueza de informações quantitativas e qualitativas sobre como os países se organizam interna e externamente, assim como sobre a validade relativa das políticas que promovem as liberdades individuais, sobretudo econômicas, comparativamente a outras políticas que visam garantir “direitos sociais” (entitlements).

Uma tabela apresentada na pág.9 traz a classificação dos países, com algumas surpresas, como o recuo dos Estados Unidos dos primeiros lugares para uma modesta 10ª posição. No plano global, é o segundo ano consecutivo em que se registra um recuo nas liberdades econômicas em todo o mundo, desde os anos 1980. Mas, os “suspeitos de sempre” fazem boa figura: Hong Kong, como já referido, ocupa o primeiro lugar, seguida de Cingapura, Nova Zelândia, Suíça, Austrália e Canadá.

A surpresa do ano – mas correspondendo inteiramente aos progressos registrados consistentemente ao longo dos anos – é a posição ocupada pelo Chile, em 7º lugar, precedendo os EUA e diversos outros países desenvolvidos (vê-se, por exemplo, a França, sempre dirigista, aparecendo num distante 42o lugar).

No contexto dos Brics, o Brasil assume o papel de “economia socialista”; a Rússia – não exatamente um modelo de capitalismo competitivo – aparece na posição 81a, com 6.55 pontos, seguida da China, na posição 92a (6.43 pontos) e da Índia, com 6.40 pontos (em 94o lugar). O Brasil dirigista e intervencionista aparece bem atrás (em 102o lugar, com 6.19 pontos), ainda assim, bem à frente da Argentina, que aparece na posição 119a, com 5.90 pontos.

As razões dessa decalagem brasileira em relação a países que, pouco mais de 20 anos atrás, eram praticamente socialistas (como a Índia) ou declaradamente comunistas (como a Rússia, e teoricamente, ainda hoje, a China), devem ser esclarecidas, para detectar quais fatores são os responsáveis por essa situação bizarra, já que, de todos eles, o Brasil era a única economia teórica e oficialmente capitalista – embora atrasada – desde o século XIX. Mesmo a África do Sul, que recém ingressou no Brics, figura bem à frente do Brasil, em 87o lugar, com 6.49 pontos, segundo a metodologia do relatório.

(a continuar...)

O Estado brasileiro contra o Brasil: liberdades economicas (1) - Paulo Roberto de Almeida

Foi publicado recentemente, eu aqui informei e postei o link, o relatório da Heritage Foundation e do Fraser Instituto sobre as liberdades econômicas no mundo.
A "novidade" -- que não é nenhuma surpresa -- é que o Brasil recuou, aliás fortemente, se situando agora no lugar 114 (apenas para comparação, o Chile se situa na 7a posição, à frente de muitos países supostamente avançados, como a França, por exemplo, num vergonhoso 70o. lugar).
Não tenho tempo, agora, para fazer uma análise dos indicadores desse relatório, mas nada mudou para o Brasil, a não ser para pior, desde que eu fiz uma análise de um relatório anterior.
Por isso mesmo, me permito reproduzir aqui o que eu escrevi dois anos atrás sobre as liberdades econômicas e o Brasil, um país que é caracterizado, com toda razão, como um país "mostly unfree", ou seja, geralmente não livre.
Não estamos ainda na companhia de Cuba e Coreia do Norte, mas estamos na companhia de outros fascistas estatizantes que engessam a economia num emaranhado de regulações burocráticas, tornando a vida dos empresários um verdadeiro inferno.
Paulo Roberto de Almeida

29/09/2011

O Estado brasileiro contra o Brasil

Paulo Roberto de Almeida 
Os brasileiros pagaram mais impostos em 2010 do que eles haviam pago em 2009; mas eles já haviam pago mais impostos em 2009, comparativamente a 2008; aliás, 2008 também já tinha representado um aumento em relação a 2007, assim como 2007 tinha seguido essa mesma tendência, e assim por diante (ou, neste caso, assim para trás), até onde a vista alcança no passado.

Desde a promulgação da Constituição de 1988, os brasileiros pagam progressivamente mais impostos a cada ano, quase como a “crônica de uma extorsão anunciada”. Mas não se pense que, antes, o cenário de espoliação fosse mais ameno para os contribuintes brasileiros; eles já vinham sendo espoliados de forma relativamente eficiente um pouco mais a cada ano, desde o início do regime militar. A Constituição de 1988 apenas consolidou esse processo, ao “encomendar” despesas sempre crescentes, a partir de todas as “bondades” prometidas a todos e a cada um.

O pagamento de impostos, contudo, é apenas uma das categorias retidas pelo Fraser Institute, de Vancouver (Canadá), em cooperação com o Cato Institute, de Washington, para classificar os países segundo o critério básico das liberdades econômicas no Economic Freedom of the World: 2011 Annual Report (disponível: http://www.freetheworld.com/2011...; para os outros anos: http://www.freetheworld.com/reports...). A metodologia utiliza mais de quatro dezenas de critérios, organizados em cinco grandes categorias, para atribuir uma pontuação comparativa a quase uma centena e meia de países, indo do mais livre (Hong Kong) até o mais “oprimido” (o Zimbábue, na 141a., e última, posição).

As cinco grandes categorias em torno das quais são organizados os 42 critérios de avaliação da pesquisa sobre liberdades econômicas no mundo são as seguintes: tamanho dos governos (despesas, impostos, investimentos); estrutura legal e garantias quanto aos direitos de propriedade; disponibilidade de moeda estável; liberdade de transacionar no plano mundial; regulação do crédito, do trabalho e do ambiente empresarial.

Os fundamentos das liberdades econômicas, na tradição dos inspiradores desse estudo – Adam Smith, Alfred Hayek e Milton Friedman –, são a liberdade de escolha, as trocas voluntárias e a existência de mercados abertos. Friedman, como se sabe, era um grande admirador de Hong Kong, não que isso significasse uma adesão da ex-colônia britânica às sua teorias: a ilha simplesmente seguia o pragmatismo britânico, tendo aliás superado a renda per capita da metrópole muito tempo antes de ser “devolvida” à China.

Hong Kong, hoje uma região autônoma do gigante asiático, exibe 9.01 pontos de um máximo de 10, posição que ela vem ocupando de forma consistente desde 1980. O Zimbábue, por sua vez, não passa de 4.08 pontos, degradando por pouco o antepenúltimo lugar da Venezuela, que figura na lista com 4.28 pontos. Apenas antecipando a análise mais detalhada que se fará adiante, o Brasil aparece na posição 102o, com 6.19 pontos, sendo o pior dos Brics na categoria das liberdades econômicas, ainda assim superando com folga a vizinha Argentina, que persegue sua própria marcha para a opressão estatal.

(a continuar...)

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Liberdade Econômica, IDH e Renda Per Capita de Países Selecionados

 Liberdade Econômica, IDH e Renda Per Capita de Países Selecionados

Paulo Roberto de Almeida

            Coletei alguns dados, de países diversos, selecionados ao acaso, mas bastante representativos do grupo de alto IDH e de médio IDH, com apenas um (Madagascar) de baixo IDH e baixíssima renda per capita (e também um de alto IDH, mas de “baixa” renda per capita no grupo dos avançados, a Coreia do Sul).
            Pensei escrever algo, mas os dados são tão eloquentes que dispenso-me de comentar o que quer que seja, salvo para evidenciar o óbvio: a distância de IDH não é assim tão grande, mas as diferenças de renda per capita são enormes. Nenhum país no segundo grupo supera 10.000 dólares de renda, ao passo que com a exceção da Coreia (cuja renda PPP, no entanto, alcança quase 30 mil dólares), todos os países do primeiro grupo exibem alta renda per capita.
            A variável explicativa, do meu ponto de vista, é o índice de liberdade econômica. Pode até ser que a Rússia ostente um índice próximo de 0,8 em termos de IDH, mas seu indicador de liberdade econômica não parece nada brilhante. Quanto à China, país notoriamente autoritário, e que ainda se define como “socialista”, ela possui um índice de liberdade econômica superior ao do Brasil.

Liberdade Econômica, IDH e Renda per capita (US$*) de países selecionados
Países de alto IDH, renda e liberdade
Países de baixo IDH, renda e liberdade
País
ILE
IDH
Renda
País
ILE
IDH
Renda
Noruega
7,30
0,938
85.340
Rússia
6,55
0,799
9.910
Austrália
7,98
0,937
43.590
México
6,74
0,750
8.930
EUA
7,60
0,902
47.240
Brasil
6,19
0,699
9.390
Canadá
7,81
0,888
41.950
Tunísia
6,40
0,635
4.060
Suécia
7,24
0,885
43.903
China
6,43
0,633
4.260
Alemanha
7,45
0,885
43.290
Egito
6,42
0,620
2.440
Japão
7,44
0,884
42.130
África Sul
6,49
0,597
6.090
Coreia Sul
7,32
0,877
19,890
Índia
6,40
0,519
1.340
Reino Unido
7,71
0,849
38.560
Madagascar
6,29
0,435
430
Fontes: Fraser Institute (Economic Freedom 2011); UNDP (HDI 2011); World Bank (World Development Indicators 2010); US$*= dólares correntes.


            O que, aliás, é confirmado por esta simples correlação linear traçada pelo Fraser Institutue.


 Brasília, 4/11/2011