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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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domingo, 29 de janeiro de 2023

Um ano da morte do manipulador de consciências que quase destruiu a política no Brasil: Olavo de Carvalho


Não sou de fazer ofensas pessoais e não acho que OC tenha sido um imbecil. Era um polemista dotado de muita leitura e algumas boas reflexões sobre a deterioração da cultura no Brasil, mas também fez um enorme mal ao debate público pela exacerbação oportunista de uma fantasmagórica ameaça comunista e, sobretudo, por levar os beócios que ocuparam o poder entre 2019 e 2022, a destruir a diplomacia e o meio ambiente em especial. Foi vítima de suas próprias bobagens, sobretudo a insistência no fumo e a recusa das vacinas.

Opinião de um crítico:

“ Esse cara era perigoso. Um verdadeiro encantador de jumentos e de gado. Conseguiu a proeza de fazer com que idiotas se jactassem da sua ignorância e radicalismo. Conseguiu infiltrar seus pensamentos idiotas no meio militar e aproximou a forma de fazer política do Republicanismo radical Norte-americano ao Bolsonarismo. Foi o artífice do golpe, ao ponto de criticar Bolsonaro e os militares, sob o argumento de que haviam "perdido o momento" para o golpe. Seu maior legado foi deixar um Ministro da Educação  medíocre e um Chanceler que conseguiu destruir séculos de respeitabilidade da nossa diplomacia.”

Um julgamento peremptório:

"OC era louco. É preciso dizer com todas as letras. O fato de ter escrito alguns textos interessantes, até inteligentes, não elimina esse fato essencial. Era um desequilibrado mental, e nos últimos anos de vida não se dava sequer ao trabalho de esconder isso. De astrólogo, ex-muçulmano e ex-comunista, tornou-se um guru místico e líder de seita, abraçando teses estapafúrdias e distribuindo palavrões contra o mundo moderno, que ele odiava. Se tivesse se confinado aos livros, poderia até ter adquirido algum valor intelectual, como provocador cultural e polemista de algum talento. Mas tiveram a infeliz ideia de levá-lo a sério como "conselheiro político", posição que ele, embora negasse, assumiu com gosto. Os que assim o fizeram agiram como verdadeiros imbecis."

Gustavo Bezerra


segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

O terrível legado do olavismo para a política e a cultura no Brasil - Guilherme Casarões e Paulo Roberto de Almeida

 Importante artigo sobre uma das nossas misérias dos últimos anos. Eu li e comentei o artigo importante de Guilherme Casarões sobre o “legado” (se o termo se aplica) do olavismo, na atual recomposição dos movimentos de direita e de extrema-direita no Brasil. 

Creio que o oportunismo fisiológico da cleptocracia de parte do estamento político brasileiro prevalecerá sobre qualquer “legado” ideológico. Mas de uma coisa estou certo: o olavismo imbecil, no campo do pensamento internacional, produziu, pelas mãos e pés de um desequilibrado primeiro chanceler (o patético e submisso EA) a maior destruição da imagem externa do Brasil e da credibilidade de sua diplomacia profissional. 

Não gostaria de relembrar, por outro lado, que, à exceção dos aposentados, a quase totalidade dos diplomatas profissionais permaneceu inerme ante o trabalho de destruição de nossos princípios e valores. 

Paulo Roberto de Almeida


O LEGADO DO OLAVISMO

Guilherme Casarões 

O Estado de S. Paulo, 26 de janeiro de 2022

Morreu o homem que resgatou a direita do ostracismo, a radicalizou e a popularizou – tudo isso em poucos anos. Até meados da década passada, Olavo de Carvalho era um ideólogo de nicho. Com seus cursos de filosofia, pregava para algumas centenas de pessoas, potencializado pela inserção precoce no mundo digital e nas redes sociais.

O terremoto político iniciado em 2013, que levou à ascensão de vários movimentos de direita, coincidiu com a chegada de Olavo ao mainstream editorial. Em pouco tempo, o sucesso de seus livros começou a repercutir nas manifestações antipetistas, na forma de cartazes com o escrito “Olavo tem razão”. Olavo, de fato, tinha razão numa coisa. Havia um espaço enorme para o pensamento conservador no mercado das ideias políticas.

Na realidade brasileira, que o ideólogo alegava ser dominada pelo “marxismo cultural”, o fortalecimento do conservadorismo exigiria a destruição total da esquerda. A saída, portanto, era a articulação de um projeto reacionário, uma espécie de jacobinismo de direita. Esse movimento demandava três ingredientes: uma narrativa conspiracionista, uma legião de seguidores fiéis e uma liderança populista que pudesse colocar o projeto em prática.

As teorias conspiratórias foram ganhando força após 2013. Misturando perenialismo de René Guénon, variações católicas e militares do anticomunismo e a paranoia supremacista da alt-right americana, Olavo foi capaz de criar uma narrativa que acolheu e deu sentido a um número crescente de críticos ao Partido dos Trabalhadores.

Uma vez tornadas populares, as teses de Olavo trouxeram milhares de alunos, alguns dos quais passaram a compor uma suposta “nova elite intelectual” tupiniquim. Para certos influenciadores digitais e políticos, ser aluno do Olavo era a maior das virtudes, além de receita certeira de engajamento – mesmo que isso exigisse subscrever a ideias estapafúrdias, equivocadas e muitas vezes perigosas.

O ápice do olavismo deu-se em 2018, diante da possibilidade real da vitória de Jair Bolsonaro à presidência. As concepções tortas e a vocação populista do ex-capitão, mas sobretudo seu ímpeto destrutivo, casavam-se bem com o projeto reacionário de Olavo. Mais que isso: uma vez no poder, Bolsonaro poderia transformar o ideólogo em guru e seus seguidores em peças-chave do desmantelamento institucional do país. E assim o fez.

Mas a combinação entre incompetência técnica, fundamentalismo ideológico e desavenças políticas logo tornou Olavo e seu grupo um fardo para Bolsonaro. Para chegar ao fim do mandato, o governo trocou a extrema direita jacobina pela direita fisiológica, ainda que permaneça o legado de destruição em áreas tão diversas como saúde, educação e relações exteriores.

Olavo morreu, mas suas ideias permanecem – e serão chave para compreendermos o futuro da extrema direita, de Bolsonaro e da política nacional. No momento, elas estão à espera de alguém que confira alguma unidade ao movimento forjado a partir de 2013 e que vem rachando sob o peso das disputas de poder. Resta saber se o legado do olavismo sobreviverá à ganância de seus herdeiros.

Guilherme Casarões é professor da FGV EAESP


quarta-feira, 2 de março de 2022

O ignorante Bozo e os dois espertos Rasputins, um já desaparecido - Thaís Oyama (UOL)

 OPINIÃO

WhatsApp mostra que apego de Bolsonaro a Putin vai além dos negócios

Thaís Oyama

Colunista do UOL, 02/03/2022 14h23

Antes de o Brasil votar a favor da resolução da ONU contra a Rússia, Jair Bolsonaro dizia, em público, que não poderia condenar a invasão à Ucrânia por questões pragmáticas. Sendo o país de Vladimir Putin o principal exportador de insumos para a produção de fertilizantes, o Brasil teria de manter uma posição de "equilíbrio" para não prejudicar o agronegócio, explicou o presidente. "Para nós, a questão do fertilizante é sagrada".

No privado, porém, o presidente não se furta a colidir com a ONU e externar as convicções que regem seu tirocínio geopolítico.

Como mostrou o jornal O Globo, o presidente repassou para um grupo de WhatsApp um texto apócrifo intitulado "A única verdade" — uma mensagem que mistura ideias de dois gurus: o dos Bolsonaro, Olavo de Carvalho, e o de Putin, Alexander Dugin, este vivo, operante e fundador do neo-eurasianismo, teoria política que almeja explicar por que a Rússia deve ocupar um lugar central no mundo (Olavo conheceu Dugin e um debate online entre os dois resultou no livro Os EUA e a Nova Ordem Mundial, publicado em 2020).

O texto compartilhado por Bolsonaro começa pela tentativa de explicar o real motivo pelo qual o ex-capitão não pode e não deve tomar uma posição contra a Rússia.

"Só existe a Rússia, a China e a Liga Árabe capaz de enfrentar a NOM (Nova Ordem Mundial)".

A "Nova Ordem Mundial", doravante referida por sua sigla NOM, é, segundo os preceitos de Olavo de Carvalho, uma concertação secreta envolvendo arquibilionários, como George Soros, e que tem por objetivo usurpar a soberania das nações e desmontar os pilares da civilização ocidental (Deus, pátria e família), com o apoio de comunistas e por meio de disfarces insidiosos como o da filantropia.

"O Brasil está no radar da NOM", alerta o texto compartilhado por Bolsonaro.

Assim, diz o autor desconhecido, a frente russa-sino-árabe seria a única chance de o Brasil escapar de ser tragado por "um governo hegemônico mundial", interessado em fazer dele seu quintal, ou sua "horta".

Mais importante do que revelar o papel da Rússia na resistência à ameaça da NOM, o texto compartilhado por Bolsonaro resolve o dilema que, desde o início do conflito na Ucrânia, atormenta e constrange as mentes bolsonaristas: mas a Rússia não era a pátria dos nossos arquiiinimigos, os comunistas, e não era aliada da traiçoeira China e da detestável Cuba? Por que então devemos gostar de Putin e prestar "solidariedade" ao seu país?

Está tudo explicado na mensagem:

"O comunismo se transmutou, voltou para o seu berço europeu, agora não prega mais lutas de classes e sim, pautas, como as do preconceito, minorias, sexuais, machismo (...) O comunismo tem outro nome, se chama Progressismo e seu berço é a Europa".

Em suma, os reais "comunistas" (agora transmutados) são os "progressistas", defensores das causas identitárias disseminadas sobretudo por países como a França. Putin e a Rússia não têm nada a ver com isso — são gente nossa.

É por isso que Bolsonaro busca o "equilíbrio" no conflito.

Antes fosse por causa dos fertilizantes.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

OC era um farsante? Não, um espertalhão, com grande confusão mental - Paulo Roberto de Almeida

 Um comentário meu a postagem do Fernando José Coscioni sobre o recém-falecido guru presidencial que se autodemitiu ao constatar a “traição” do seu  pupilo:

“O problema de OC não era a falta de leituras ou a capacidade de escrever bem, nos seus artigos, ensaios e livros; era mais a confusão mental e a tendência a exacerbar seus posicionamentos mais à direita, como se esta detivesse a chave da interpretação dos processos políticos contemporâneos, num conservadorismo bem mais reacionário do que liberal. 

Não ouso me expressar sobre seus escritos ditos “filosóficos” - nos quais muitos especialistas apontam “exegeses” sofríveis, quando não equivocadas —, mas quanto a seus pronunciamentos sobre temas de política internacional, nos quais guardo certa competência, os exemplos  constatados são claramente estapafúrdios, quando não alucinados, no contexto das teorias conspiratórias sobre um complô globalista para retirar soberania aos Estados nacionais. 

Num “debate” que não deveria ter ocorrido — pois que eu tinha sido convidado a uma entrevista sobre “globalização e globalismo”, não a um “diálogo” com o polemista e agitador da extrema-direita—, em dezembro de 2017, ele passou a me hostilizar (depois de maneira mais ofensiva no seu blog), pelo fato de eu ter denunciado seus argumentos como uma fantasmagoria alucinada. 

Em várias oportunidades se referiu a mim como uma espécie de “ignorante ingênuo”, ao não perceber a dominação dos “globalistas” no plano multilateral e como ameaça concreta à soberania dos Estados. 

Seu pupilo no Itamaraty, o ex-chanceler acidental tinha ódio de mim, pelas denúncias que fiz das loucuras que estavam rebaixando a respeitabilidade do Itamaraty e da própria política externa.”

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 1/02/2022

domingo, 30 de janeiro de 2022

Multas e brigas na herança de Olavo - João Batista Jr. (revista Piauí)

 Multas e brigas na herança de Olavo

João Batista Jr. 

Revista Piauí, 29 janeiro 2022

https://piaui.co/34i0o7H&hl=pt-BR&gl=br&strip=1&vwsrc=0

 

Rompida com o pai e os irmãos, filha mais velha do guru bolsonarista quer revelar o faturamento e os financiadores da máquina olavista

 

Heloísa de Carvalho, de 52 anos, estava em sua casa em Atibaia (SP) na madrugada de terça-feira (25) quando acordou com o ronco de sua cachorra, Nina, uma mestiça de pastor branco com vira-lata. Carvalho havia se deitado depois de assistir à novela das nove da TV Globo, Um Lugar ao Sol. Em recuperação por ter realizado recentemente uma cirurgia na perna, ela vem passando mais tempo do que gostaria na cama. Tendo despertado, pegou o celular para zapear as redes sociais e se deparou com vários de seus seguidores perguntando se procedia o rumor de que Olavo de Carvalho havia morrido. Eram quase duas horas da manhã.

Heloísa, que não sabia de nada, foi atrás de perfis de seguidores próximos de seu pai e viu que alguns deles lamentavam a morte do escritor e ex-astrólogo. Uma nota oficial publicada no perfil de Olavo dissipou qualquer dúvida.

Confirmada a notícia da morte, Heloísa não ficou triste nem feliz. Em sua conta no Twitter, onde soma 35,6 mil seguidores, foi sucinta: 

“No dia que o Olavo postou que não tinha 1 morte por covid, perdi uma querida amiga, que era viva e deixou 3 crianças com menos de 10 anos órfãs, Olavo morreu de covid, não tem como eu sentir grande tristeza pela morte dele, mas também não estou feliz. Sendo sincera comigo e meus sentimentos.” 

Em hipótese alguma Heloísa, a mais velha de oito irmãos, usa o termo “pai” para se referir ao guru bolsonarista.

Ela e Olavo estavam rompidos desde que a extrema direita se fortaleceu no Brasil e as FakeNews se tornaram uma estratégia organizada de massacre de reputações. Nos últimos anos, a relação entre pai e filha foi marcada por ataques mútuos nas redes sociais e na esfera jurídica. Heloísa conta que, em 2017, Olavo prestou uma queixa-crime no Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), em São Paulo. Ele relatou aos policiais que a filha era chefe de uma organização criminosa apoiada por partidos de esquerda cujo objetivo era minar a reputação dele no Facebook e no Twitter. Heloísa chegou a prestar depoimento em delegacia, mas o caso foi arquivado por falta de provas.

No mesmo ano, o guru bolsonarista processou Heloísa por calúnia e difamação depois que ela escreveu uma carta aberta contando, entre outras coisas, que seu pai certa vez ameaçou os filhos com uma arma e culpou uma de suas filhas, ainda criança, por ter sido violentada por um parente próximo. A filha, no caso, era a própria Heloísa. Sem ter provas a apresentar, mas afirmando que tudo de fato aconteceu, ela sabia dos riscos que correria se o processo fosse adiante. Pai e filha, então, assinaram um acordo judicial: ela deletou seu perfil no Facebook, ele encerrou o litígio. “Tanto a queixa-crime quanto a ação por calúnia tinham um único objetivo: tornar a mim, a filha de esquerda, indigna de seu pai – e com isso me afastar de uma eventual partilha de bens”, disse Heloísa em entrevista a Piauí por video-chamada. Isso, porém, não aconteceu. Heloísa faz parte do espólio de Olavo.

E agora vai começar outra batalha.

Olavo de Carvalho teve oito filhos: Heloísa, Luiz, Tales e Davi, do casamento com Eugênia Maria de Carvalho; Maria Inês e Percival, do relacionamento com Silvana de Barros Panzoldo; e Leilah e Pedro, frutos da união com Roxane Andrade de Souza Carvalho. Olavo e Roxane se casaram em 2005, e desde então viviam juntos nos Estados Unidos.

Caso Olavo e Roxane tenham firmado um regime de comunhão parcial de bens, a viúva se tornar meeira do patrimônio – ou seja, 50% de todos os bens amealhados durante a relação pertencerão a ela. Metade da parte de Olavo automaticamente será distribuída entre todos os seus filhos – isto é, 25% do total de bens. Já a outra metade pertencente a Olavo (os 25% restantes) pode ter sido designada para quem ele bem entendesse. Essa divisão só será confirmada quando o inventário for aberto. O que se sabe é que Olavo deixou um testamento pronto (anos atrás ele registrou esse fato no Facebook).

A abertura do processo de inventário, em geral feita até trinta dias após a morte, tudo o que Heloísa de Carvalho almejava. Não pelo dinheiro, mas pelo acesso a informações. “O Olavo passou a vida se fazendo de pobre coitado, sem ser transparente sobre suas fontes de renda. Agora, como sou parte do espólio, terei acesso aos dados das contas bancárias, os honorários com as vendas de livros e, quem sabe, poderei descobrir se empresários financiavam a máquina de ódio e Fakenews do guru bolsonarista”, afirma a primogênita. Caso não conste nada em nome do pai, Heloísa deve pedir a quebra de sigilo bancário de Roxane e da irmã Leilah.

“Já tenho falado com três advogados para ficar bem instruída.”

Se há muitas dúvidas sobre o real patrimônio de Olavo de Carvalho, há algumas certezas sobre os passivos jurídicos. Em outubro de 2021, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro reconheceu a necessidade de retomada da penhora de bens que estava suspensa em virtude de dois recursos apresentados pela defesa de Olavo. Não cabe novo recurso. Os advogados de Caetano Veloso, que processou o escritor em 2017, já deram entrada com o pedido de execução da dívida de 2,9 milhões de reais. Esse valor vultoso é fruto de uma multa que Olavo recebeu por não ter acatado a decisão judicial de deletar postagens em que acusava Veloso de pedofilia. A acusação, publicada nas redes sociais naquele ano, se refere ao fato de que o cantor começou um relacionamento com Paula Lavigne quando ela era menor de idade. O casal está junto há mais de três décadas e tem dois filhos.

Olavo manteve no ar as publicações ofensivas e caluniosas durante 281 dias. Daí o valor alto da multa. “Em um momento inicial, Olavo não foi orientado a apagar as postagens. Depois ele deletou algumas, mas outras permaneceram. Se tivesse removido tudo, não haveria multa. Era uma questão que poderia ter sido evitada”, explica Fernando Malheiros Filho, advogado criminalista de Porto Alegre que assumiu a defesa de Olavo em 2019. Malheiros Filho entrou para o caso a convite dos amigos e advogados Daniel Saldanha e Rodrigo do Canto. Tanto Saldanha quanto Canto foram alunos do guru bolsonarista. Malheiros Filho não foi aluno, mas comunga de muitos pensamentos de Olavo: escolheu não se vacinar contra o coronavírus e promete votar em Bolsonaro nas eleições deste ano.

Com a morte de Olavo, a multa milionária decorrente do processo de Caetano Veloso ficará sob responsabilidade do espólio. Se as dívidas forem maiores do que a própria herança, os herdeiros não terão direito a um tostão – tudo será utilizado para liquidar as pendências. De todo modo, caso o escritor não tenha deixado bens suficientes para arcar com 100% do passivo judicial, o que sobrar da dívida não será transferido aos filhos – será extinto.

Fora a multa de Caetano Veloso, a família de Olavo poderá herdar outros processos com valores menores. Jean Wyllys, por exemplo, conseguiu uma indenização por danos morais de 25 mil reais numa decisão de primeira instância. Isso porque Olavo, sem qualquer prova, associou o ex-deputado federal ao atentado realizado por Adélio Bispo contra o então candidato Jair Bolsonaro, em 2018. O ex-astrólogo recorreu.

“Agora essa apelação aguarda julgamento”, diz o advogado João Tancredo, que representa Willys.

Toda a briga e troca de farpas nas trincheiras virtuais deram visibilidade nacional para Heloísa de Carvalho.

Ela se filiou ao PT no ano passado, mas não sabe se irá se candidatar a algum cargo nas eleições de outubro.

 

João Batista Jr.

 

segunda-feira, 22 de novembro de 2021

Rasputin de Suburbio (Olavo de Carvalho) volta para o seu subúrbio de Richmond - Daniela Abade

Recebido via Twitter

 A ROCAMBOLESCA FUGA DO ASTRÓLOGO CAGÃO!

A Daniela Abade publicou, no twitter, um fio sensacional com tudo o que ela descobriu sobre a fuga do Olavo, o ideólogo dos toscos®, que ao ser intimado pela PF picou a mula, desapareceu e reapareceu nos Estados Unidos. Tudo indica que a FAB se prestou ao papelão de ajudar no enredo dessa comédia (se não fosse, claro, uma tragédia).

Eu juntei os posts do twitter dela num texto só e trouxe pra cá. Quem quiser ver os mapas e ilustrações, é só ir ao twitter.

TAÍ A TRETA MONSTRA DA SEMANA

Do twitter de Daniela Abade (@_danielaabade, onde  estão as fotos e mapas).

“Vou soltar aqui a thread com tudo o que descobri do Olavo e como foi essa história, ok? Então segura, porque tem coisa demais.

Tudo começou com uma dica de uma pessoa com boas ligações em Brasília: “Olavo de Carvalho foi para os Estados Unidos no avião do ministro Fábio Faria”.

Por mais confiável que seja a fonte, eu fiz o que toda pessoa responsável deve fazer quando ouve uma história nesse nível de gravidade, fui conferir onde estava o ministro antes de ir para os Estados Unidos. A resposta era pública e estava lá no Instagram de Fabio Faria: o ministro estava em Glasgow, na Escócia, na Conferência do Clima. E foi de lá para Nova York, nos Estados Unidos. A conclusão mais rápida seria: “Não, não é possível que Olavo de Carvalho tenha usado o mesmo avião de Fabio Faria, porque ele estava em São Paulo.”

Mas uma pessoa responsável tbm ñ tira conclusões rápidas. Fui em busca dos registros de voo da FAB em novembro e uma informação interessante apareceu: o ministro Fabio Faria ñ tinha se deslocado de Glasgow p/ NY pela FAB. Ele só começou a usar um avião da FAB em NY no dia 14.

Que avião era esse? Como e quando saiu do Brasil? 

Era a hora de combinar os dados: segundo a coluna do Lauro Jardim, Olavo de Carvalho foi visto saindo da Clínica Saint Marie no dia 11 de novembro. Com isso fui buscar todos os voos da FAB no dia 11.

Houve 1 só voo, q foi do Ministro Paulo Guedes que viria para SP para dois compromissos, o último, às 5:30 da tarde. Na planilha ele voltou p/ Brasília no mesmo dia 11, embarcando quase às 10 da noite. O avião foi com 5 pessoas e voltou c/ as mesmas 5, segundo o registro da FAB.

Mas o avião do Guedes era o mesmo de Faria? Foi a hora de fazer uma busca por eliminação, entre todos os modelos de transporte q a FAB dispõe e suas rotas, pelo menos as rastreadas. Depois de algumas horas e vários sites, encontrei o avião de Faria, pelo site flightaware.

Era um Legacy, prefixo VC99B, número de cauda: FAB2582 e o número do voo BRS46. Existe o registro dele voltando ao Brasil, via Martinica, que é uma parada de abastecimento desse tipo de avião, por não ter autonomia para um voo tão longo.

Com a confirmação do avião, o trabalho agora era rastrear os voos que essa aeronave fez desde o dia 11. Acessando o site de rastreamento mais famoso, o Flight Radar, não é possível encontrar qualquer resultado porque a FAB pediu sigilo nesses voos. Mas, isso só acontece no site.

No aplicativo, existe o registro, mesmo que pareça q ñ exista. Clicando na flecha do lado direito, vc tem a imagem do itinerário, mesmo que ñ tenha sido registrado os locais, q são gravados pelos equipamentos de radar. E lá a 1ª confirmação: o voo de Faria trouxe Guedes a SP.

A decolagem aparece às 14:59, mas é o horário UTC, o horário universal coordenado. Três horas a mais do que o horário de Brasília. Embarque 11:30, a decolagem foi meio dia e 59.

E o voo de volta? Dia 11 também, mas às 9:52 da noite, meia noite e cinquenta e dois no horário UTC. Dessa vez, seguindo a planilha da FAB, só com dois minutos de atraso para voltar a Brasília.

Mas foi esse avião mesmo avião que foi para os Estados Unidos? Foi. Apesar de não ter  registro desse voo no site da FAB, o avião saiu às 12:38 do dia 13. O curioso é que o ADS-B, o equipamento que registra esses deslocamentos, só foi ligado na altura de São Gabriel de Goiás.

De lá temos o trecho inteiro do voo, separado em quatro vídeos. Um segue aqui.

Outro aqui.

O avião pousou no aeroporto Mac Arthur, de Long Island. Aí outra estranheza. Esse é um aeroporto doméstico, desconhecido. Os 3 principais aeroportos de NY são JFK, Newark e La Guardia. Esse avião no dia seguinte estava no aeroporto JFK p/ servir ao Ministro das Comunicações.

Não faz sentido algum esse pouso em Long Island. Por que pousar num aeroporto pouquíssimo movimentado? Por que esse voo não foi registrado?

Essas perguntas a FAB agora tem que responder. Porque imagina o escândalo se a Força Aérea Brasileira, junto com dois ministros de estado, facilitou a fuga de Olavo de Carvalho a uma intimação da Polícia Federal?”

domingo, 4 de abril de 2021

Queda de Araújo é derrota de Olavo de Carvalho e de seita de Steve Bannon - Marcos Augusto Gonçalves

 Como um bando de idiotas, pretensamente tradicionalistas — mas adepto de uma destruição preliminar da ordem existente, como condição para reconstruir o seu munfo imaginado — levou o Brasil ao maior desastre já conhecido em sua história: um desgoverno de desconstrução e de inação em face de problemas reais.

Paulo Roberto de Almeida 

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES

Queda de Araújo é derrota de Olavo de Carvalho e de seita de Steve Bannon

Indicado por guru de Bolsonaro, chanceler pediu demissão sob forte pressão do Congresso

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MARCOS AUGUSTO GONÇALVES

Editor da Ilustríssima e editorialista. Foi editor da Ilustrada, de Opinião e correspondente em Milão e em Nova York

[RESUMO] Demissão do chanceler Ernesto Araújo representa novo fracasso do ideólogo Olavo de Carvalho, que o indicou para o cargo, e do Tradicionalismo, escola filosófica que rejeita a concepção moderna de progresso e defende um projeto reacionário de destruição da ordem estabelecida.​

Em janeiro de 2019, logo após a posse de Jair Bolsonaro, um grupo de brasileiros foi recebido para um jantar na casa de Steve Bannon, em Washington.

A “townhouse”, com imagens ao estilo grego nas paredes e carpete azul com estrelas brancas, no segundo piso, onde os comensais se reuniram, era uma espécie de embaixada do campeão da alt-right, que liderou a campanha vitoriosa de Donald Trump à Casa Branca e foi seu estrategista-chefe no início do governo.

Entre os convidados estava Ernesto Araújo, diplomata pouco conhecido que se tornara subitamente ministro das Relações Exteriores de Bolsonaro, por indicação de Olavo de Carvalho, seu professor e espelho inspirador.

Ernesto Araújo (esq.), Olavo de Carvalho e o presidente Jair Bolsonaro durante encontro na embaixada do Brasil em Washington, em 2019 - Alan Santos - 17.mar.19/Presidência da República/AFP

Olavo era a grande atração da noite, inaugurada com palavras entusiasmadas pelo banqueiro Gerald Brant, meio americano, meio brasileiro.

Disse ele: “É um sonho que se torna realidade. Trump está na Casa Branca e Bolsonaro, em Brasília. E nós estamos em Washington: Bannon e Olavo de Carvalho face a face. Isso é um mundo novo, amigos!”.

Bem, o jantar, as conversas, as emoções e as lágrimas contidas de alguns, tudo é descrito em pormenores no livro “A Guerra pela Eternidade” (Editora da Unicamp), de Benjamin Teitelbaum, etnógrafo e pesquisador norte-americano especializado em movimentos radicais de direita, que estava lá naquela noite (em março, em visita aos EUA, o próprio presidente seria homenageado por Bannon e Olavo).

O projeto da obra, baseado em farta pesquisa e entrevistas, era identificar, entre ideólogos internacionais do populismo de ultradireita, a influência de uma espécie de filosofia ou seita ideológica denominada Tradicionalismo —assim mesmo, com maiúscula no T, para diferenciar do uso corrente do termo.

Essa escola espiritual e política manteve um grupo reduzido e eclético de seguidores ao longo dos últimos cem anos e terminou por se amalgamar com propostas nacionalistas autoritárias recentes.

O resultado, segundo Teitelbaum, foi a emergência de “um radicalismo ideológico raro e profundo”.

Entre os principais ideólogos influenciados pelo Tradicionalismo, ainda que com diferenças e reservas, figura o russo Aleksandr Dugin —além, claro, de Bannon e Olavo.

Parafraseando resumo que fiz nesta Ilustríssima, em resenha do livro, o patriarca do Tradicionalismo foi um francês convertido ao islamismo chamado René Guénon, morto em 1951, no Cairo.

Ele e seus seguidores acreditavam que existiu um dia uma religião —“a Tradição, o cerne, ou a Tradição perene”— que se perdeu, deixando apenas fragmentos dispersos em outras religiões. A linha mestra do pensamento de Guénon vem da crença do hinduísmo de que a história humana percorre um ciclo de quatro idades: a de ouro, a de prata, a de bronze e a sombria —que antecede o retorno ao primeiro e glorioso estágio.

A idade de ouro corresponde ao poder dos sacerdotes; a de prata, ao dos guerreiros; a de bronze, ao dos comerciantes; e a das trevas, à desordem e colapso da espiritualidade e das hierarquias sociais. As duas primeiras têm protagonistas guiados por ideais. As seguintes são a degeneração materialista.

O Tradicionalismo ganhou a seguir a contribuição do barão italiano Julius Evola, que acentuou a inclinação para o ideário de extrema direita fascista. Além de uma estratificação com a espiritualidade no topo e o materialismo na base, ele também pregava hierarquizações por raça. A branca ariana, claro, acima de todos —certo, Filipe Martins?

Pela cabeça dessa turma, estaríamos agora em plena degeneração materialista, que rompe a ordem e os valores tradicionais do espírito, franqueando poderes a mulheres, negros, gays etc. E na qual o sistema capitalista internacional, instituições globais de governança e comunismo asiático são a mesma coisa. Globalização e China? “Hope you guess my name”.

Essa concepção circular da história implica a rejeição da ideia moderna de progresso. Afinal, o caminho para superar as trevas é aprofundar a decadência, num processo de destruição que levará à renovação do ciclo.

Esse é o poço profundo de Araújo, que Teitelbaum, com razão, considera mais fiel ao Tradicionalismo do que Olavo. O ex-chanceler bolsonarista cita Guénon em textos, argumentos e bibliografia. O mestre é mais safo, digamos assim.

Entender a discussão sobre o Tradicionalismo e suas imbricações com a nova direita radical (a sempre atenta Patrícia Campos Mello, aliás, entrevistou o autor antes de mim) é importante para entender um pouco melhor que nem tudo é bizarrice reacionária aleatória. Tem também, mas sobretudo evidencia-se um compromisso fundamentalista com um projeto de destruição, condição necessária para o retorno do sonhado mundo ancestral dos sacerdotes e da espiritualidade comunitária sem frestas.

derrota de Araújo é um renovado fracasso do olavismo, apoiado por Eduardo e os demais filhos zeros do presidente, e do Tradicionalismo reempacotado pelo satânico Dr. Bannon e sua alt-right sinistra, já devidamente enxotada pelos eleitores americanos.