Declínio para a Rússia é problema para o mundo
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;
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segunda-feira, 28 de agosto de 2023
Declínio para a Rússia é problema para o mundo - Oliver Stuenkel (O Estado de S. Paulo)
domingo, 9 de julho de 2023
Bric-Brics e agora Brics+: onde está o interesse nacional brasileiro? - Paulo Roberto de Almeida e Oliver Stuenkel
O BRIC-BRICS SEMPRE FOI RUIM PARA O BRASIL: O BRICS+ SERÁ PIOR
Paulo Roberto de Almeida
O BRIC (2006-2009) foi uma decisão equivocada, estrategicamente destruidora da autonomia em política externa, objetivo perseguido pela diplomacia brasileira desde sempre, adotada por um governo, o de Lula 1, claramente antiamericano e antiocidental, praticante de uma diplomacia partidária, sectária, enviesada e contrária aos interesses nacionais maiores do Brasil; já o ingresso da África do Sul (em 2011) representou uma imposição chinesa, que tende a se reproduzir agora na ampliação do BRICS, que só interessa à China e à Rússia.
A decisão errada adotada entre 2006-2009, depois ampliada em 2011, agora ameaça de vez a pretensa autonomia da política externa do Brasil. O “bebê” acalentado de forma excessivamente otimista ao inicio, agora se transformou num “jovem” problemático, que serve a outros interesses que não os do Brasil.
Não sei como Oliver Stuenkel ainda não percebeu isso. Meu livro sobre A grande ilusão do Brics e o universo paralelo da diplomacia brasileira (Kindle Amazon, 2022) aprofunda esse debate.
Paulo Roberto de Almeida
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AMPLIAR O BRICS É RUIM PARA O BRASIL!
Oliver Stuenkel
Analista político e professor de relações internacionais da FGV em São Paulo
O Estado de S. Paulo, 3/07/2023
No próximo dia 22 de agosto, os líderes do Brasil, da Rússia, da Índia, da China e da África do Sul se reunirão em Joanesburgo para a 15ª cúpula do Brics. Por vários motivos, será o encontro mais importante da história do bloco, que se transformou em um grupo geopolítico em 2009, ano de sua primeira cúpula.
Em primeiro lugar, o anfitrião precisa lidar com uma situação diplomática delicada: como signatária do Tribunal Penal Internacional (TPI), a África do Sul tem a obrigação de prender o presidente russo se ele comparecer à reunião, pois o TPI emitiu, em março, mandado de prisão contra Vladimir Putin pela deportação ilegal de crianças ucranianas para a Rússia.
Nos últimos meses, o governo sul-africano até considerou transferir a cúpula para a China – que não é signatária do TPI. Afinal, como o ex-presidente sul-africano Thabo Mbeki apontou recentemente: “Não podemos dizer ao presidente Putin, ‘por favor, venha para a África do Sul’ e depois prendê-lo. Ao mesmo tempo, não podemos dizer ‘venha para a África do Sul’ e não o prender – porque estamos violando nossa própria lei”.
Porém, ao que tudo indica, é justamente isso que o governo sul-africano fará, atitude que não apenas representaria um triunfo diplomático para Putin, mas também fortaleceria o grupo Brics: afinal, o país se mostraria disposto a violar sua própria legislação para preservar a tradição diplomática das cúpulas do Brics, às quais até hoje nenhum presidente deixou de comparecer.
Em segundo lugar, em Joanesburgo o grupo estará diante da decisão mais importante de sua história: criar ou não um processo formal para admitir novos integrantes. Em 2010, a China conseguiu convencer o Brasil, a Rússia e a Índia a agregar a África do Sul, argumentando que incluir um país africano dava ao Brics mais legitimidade para falar em nome do mundo em desenvolvimento.
Parte da motivação, porém, provavelmente foi o desejo chinês de tornar supérfluo o IBAS – grupo criado em 2003 composto por Índia, Brasil e África do Sul – pois a consolidação de um agrupamento de três grandes democracias no Sul Global não era do interesse de Pequim. De fato, em 2013, o IBAS, uma das principais inovações da política externa do primeiro mandato Lula, perdeu relevância.
Desde 2017, a China promove sua visão de um Brics ampliado, e perto de 20 países – entre eles o Egito, o Irã, a Argentina e a Arábia Saudita – sinalizaram o interesse em aderir. Como a China, cujo PIB é maior do que de todos os outros integrantes somados, sempre será vista como líder do grupo, a expansão faz sentido para Pequim, e um Brics com dez ou vinte integrantes pode ajudar a formalizar a enorme influência econômica e política que a China já exerce globalmente. Para a Rússia, a expansão também faz sentido para se proteger do crescente isolamento diplomático.
Para a Índia e o Brasil, porém, ampliar o grupo teria um custo estratégico significativo: um Brics diluído dificilmente traria o mesmo prestígio, status e exclusividade que oferece hoje. É em parte graças ao Brics que o Brasil ainda é visto como uma potência em ascensão, apesar de estar em estagnação há uma década. Enquanto Nova Deli e Brasília têm a capacidade de vetar decisões em um agrupamento de cinco países, é bem mais difícil exercer a mesma influência em uma aliança de dez ou vinte, onde o maior objetivo dos novos integrantes é fortalecer laços econômicos com a China.
Além disso, é importante lembrar que vários dos países que buscam aderir ao grupo adotam uma estratégia explicitamente anti-ocidental, contrária à estratégia brasileira e indiana de articular uma postura de não-alinhamento no contexto das crescentes tensões entre os EUA e a China. Um Brics que inclua a Venezuela, o Irã e a Síria dificultaria garantir que as declarações finais das cúpulas tenham um tom moderado.
A participação brasileira do grupo Brics, do jeito que está, produz vantagens concretas para o Brasil, trazendo prestígio diplomático e facilitando o diálogo com quatro atores-chave no sistema internacional com os quais o País não tinha relação estreita há apenas duas décadas. Aceitar um Brics ampliado equivaleria a abrir mão desses benefícios.
segunda-feira, 5 de junho de 2023
Política externa brasileira sofre de excesso de diplomacia presidencial - Oliver Stuenkel (Estadão)
Tenho um capítulo sobre os péssimos efeitos da diplomacia presidencial em meu livro Apogeu e demolição da política externa (Appris, 2021).
domingo, 28 de maio de 2023
O não-alinhamento alinhado com equívocos de uma outra era, e que continua desalinhado com a realidade - Foreign Policy, Paulo Roberto de Almeida
A Foreign Policy dedica o seu número de 28 de maio de 2023 (sumário abaixo), ao tal de não-alinhamento (sobretudo do Brasil e da África do Sul), que eu já critiquei acerbamente neste meu texto:
4328. “Não ao inaceitável “Não Alinhamento Ativo”, que só significa um Desalinhamento Passivo e Inativo”, Brasília, 26 fevereiro 2023, 1 p. Nota sobre a postura proposta ao fantasmagórico Sul Global de Não Alinhamento Ativo em relação ao conflito da Ucrânia. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2023/02/nao-ao-inaceitavel-nao-alinhamento.html).
Não creio que eu precise acrescentar mais críticas e justificativas a esse equívoco.
A Ucrânia não merece isso. Em todo caso, aqui estão alguns artigos sobre essa coisa.
Flash Points: Is nonalignment nonsensical?
Foreign Policy, May 28, 2023
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terça-feira, 31 de janeiro de 2023
O difícil caminho do não alinhamento do Brasil - Oliver Stuenkel; A miragem dos Brics - Paulo Roberto de Almeida
Acadêmicos receberam com grande entusiasmo a formação do grupo Brics, achando que seria finalmente a via para escapar do "hegemonismo ocidental". Eu sempre critiquei essa aliança contra natureza, essa ilusão descabida, um grande erro estratégico da diplomacia lulopetista. Muitos não gostaram, na diplomacia, mas não tenho por que esconder minha total desconformidade com essa miragem, como demonstrei por este livro publicado no ano passado:
Paulo Roberto de Almeida: A grande ilusão do Brics e o universo paralelo da diplomacia brasileira (Brasília: Diplomatizzando, 2022, 187 p.; Kindle book; ISBN: 978-65-00-46587-7; ASIN: B0B3WC59F4; Apresentação link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/06/meu-proximo-kindle-sobre-miragem-dos.html).
segunda-feira, 2 de janeiro de 2023
Os desafios do novo chanceler - Oliver Stuenkel (O Estado de S. Paulo)
Os desafios do novo chanceler
terça-feira, 4 de outubro de 2022
Adeus política externa ativa? - Oliver Stuenkel (Estadão)
Resultado das eleições torna menos plausível política externa assertiva do Brasil
terça-feira, 9 de agosto de 2022
Eleições brasileiras de 2022: desimportância do Brasil no contexto da crise geopolítica mundial - Oliver Stuenkel (OESP)
O mundo não vai ficar olhando para o Brasil, golpe ou não golpe, pois existem problemas mais dramáticos na agenda das grandes potências.
Eleições no Brasil perdem visibilidade por causa da crise geopolítica global
Guerra na Ucrânia, tensão sobre Taiwan e eleições nos EUA e na Itália tiram pleito brasileiro da lista de prioridades nas capitais internacionais
Estadão, 09/08/2022 | 10h05
Coluna
Oliver Stuenkel
O mundo vive hoje a mais séria crise geopolítica desde o colapso da União Soviética há mais de trinta anos. Tanto a guerra na Ucrânia quanto a tensão envolvendo Taiwan, China e Estados Unidos não terão solução simples e devem elevar o nível de instabilidade global por tempo indeterminado. Além disso, as eleições gerais na Itália em setembro e as parlamentares nos Estados Unidos em novembro absorvem a atenção de diplomatas mundo afora, haja vista o impacto que os resultados desses pleitos terão para além de suas respectivas fronteiras. Se a aliança da direita nacionalista obtiver maioria parlamentar em Roma, como as pesquisas sugerem atualmente, a Itália poderá minar a união ocidental em torno das sanções econômicas contra a Rússia. Se o Partido Republicano conseguir retomar a maioria das cadeiras na Câmara e no Senado dos EUA, o governo Biden ficará praticamente paralisado até o fim de seu mandato, e aumentará a preocupação europeia com o possível retorno de um trumpista à Casa Branca – afinal, como relata John Bolton, ex-assessor do presidente Trump, o ex-presidente republicano planejava tirar os EUA da OTAN no segundo mandato, passo que produziria verdadeiro cataclismo geopolítico mundial.
Diante de tantos focos de instabilidade, agravados pela expectativa de uma onda de calotes no mundo em desenvolvimento e uma possível crise de fome por causa da guerra na Ucrânia, o pleito brasileiro em outubro não aparece hoje na lista dos principais desafios geopolíticos. Para empresas multinacionais, por exemplo, a possibilidade de uma aproximação diplomática da Itália com a Rússia pode ter mais impacto nos mercados do que um “6 de janeiro à brasileira”.
Mesmo para governos latino-americanos, o resultado das ‘midterms’ norte-americanas pode ter consequências mais amplas do que as eleições brasileiras, devido, entre outros fatores, ao papel cada vez mais tímido do Brasil na arena internacional ao longo dos últimos anos. De fato, é difícil lembrar qual foi a mais recente iniciativa diplomática brasileira na América Latina, no G20, no grupo BRICS ou em qualquer outro fórum multilateral. Diante da provável piora na relação entre o Ocidente e a Rússia e a crescente tensão envolvendo Taiwan, futuros governos brasileiros terão cada vez mais dificuldade em pautar a agenda global.
Isso não quer dizer que observadores internacionais não estejam de olho no cenário eleitoral brasileiro. Não há dúvida, porém, de que o tempo e a atenção que a imprensa e outros formadores de opinião mundo afora reservarão às eleições brasileiras em outubro serão mais limitados. Na prática, essa situação também reduz a disposição de governos no exterior de tomarem a dianteira diplomática se houver qualquer tipo de instabilidade pós-eleitoral no Brasil – por exemplo, pressionando o candidato derrotado a reconhecer logo o resultado das urnas caso demonstre resistência a fazê-lo. Afinal, se há um consenso nas chancelarias mundo afora é o de que a humanidade não precisa de mais uma crise geopolítica.
https://www.estadao.com.br/politica/instabilidade-geopolitica-global-reduz-atencao-internacional-as-eleicoes-brasileiras/
quarta-feira, 7 de julho de 2021
Sem Ernesto Araújo, Itamaraty retorna à discrição e ensaia moderação - Renato Vasconcelos (OESP)
Sem Ernesto Araújo, Itamaraty retorna à discrição e ensaia moderação
Grande desafio da gestão de Carlos Alberto França é equilibrar interesses do Brasil no duelo EUA-China, em meio à retórica 'antiglobalista' de Bolsonaro
O Estado de S.Paulo
Renato Vasconcelos
07/07/2021, 05:00
Cem dias após a saída de Ernesto Araújo, o Itamaraty ainda tenta recuperar o pragmatismo e a moderação de outrora, características esquecidas durante a gestão do ex-ministro. Sob a liderança do novo chanceler, Carlos Alberto França, a diplomacia brasileira vem trabalhando com discrição , na avaliação de ex-embaixadores e especialistas em política internacional ouvidos pelo Estadão , mas questões de política interna ainda travam mudanças mais significativas na condução da diplomacia brasileira. Apesar disso, a tensão interna no Itamaraty, que marcou os dias turbulentos vividos na gestão Araújo, ficou para trás.
"Não se podia esperar transformações em profundidade, porque o ministro é um auxiliar do presidente da República, e as linhas gerais de política externa são dadas por aquele que ganhou as eleições. Carlos França trouxe uma mudança de estilo, que é completamente oposto ao de Ernesto Araújo. Ele não é um militante político, alguém que faz parte do esquema de poder do presidente, mas sim um funcionário do Estado", afirmou o ex-embaixador brasileiro em Washington e ex-ministro da Fazendo, Rubens Ricupero.
A mudança de estilo foi notada pelo também ex-embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Rubens Barbosa. "Mudou o estilo, mudou a retórica e outra grande diferença é a disposição de reconstruir pontes, que foram dinamitadas pelo Ernesto Araújo, em restabelecer canais de comunicação”, analisou.
Carlos Alberto França assumiu o ministério das Relações Exteriores no dia 6 de abril, oito dias depois de Ernesto Araújo ser demitido do cargo. Promovido ao topo da carreira diplomática em 2019, França nunca chefiou um posto no serviço exterior, mas tem familiaridade com o poder: trabalhou no Planalto nos governos Fernando Henrique Cardoso, Dilma Rousseff e Michel Temer, sempre na área do Cerimonial.
Apesar da presumida falta de experiência do chanceler, a simples mudança de comando já foi suficiente para gerar um alívio nas pressões internas do Itamaraty, de acordo com o professor Oliver Stuenkel, coordenador do programa de pós-graduação da Escola de Relações Internacionais da FGV.
"Parte da missão do governo Bolsonaro, inicialmente, foi o desmonte do Itamaraty, que é mais difícil de ser politizado, em função de seu quadro altamente técnico, e a missão do Ernesto Araújo foi basicamente erudir o que a família Bolsonaro chamava de resistência globalista. O novo chanceler, aparentemente, não tem essa missão e trouxe um grau de normalidade à instituição", disse Stuenkel.
Ainda segundo o professor, o novo ministro demonstrou habilidade ao retirar a política externa do embate político interno. "Você não vê o chanceler radicalizando ainda mais o discurso, trazendo teorias da conspiração. Ele atua muito nos bastidores e busca desinflamar os temas de política externa."
Mas a postura não foi a única coisa que mudou no Itamaraty após a troca de comando. Dentro de suas atribuições - imerso na política externa estabelecida pelo governo Bolsonaro - a nova gestão já conseguiu atenuar posicionamentos do Planalto em temas internacionais, entre eles vacinação e clima, ambos destacados por França em seu discurso de posse.
"No tema da covid-19, voltamos a uma linha de sensatez, após a postura de Ernesto Araújo, que chegou a ser negacionista da pandemia. Agora temos uma linha mais positiva em relação à Organização Mundial de Saúde e à Covax Facility" disse Ricupero.
"A política ambiental também foi atenuada. Houve a carta ao presidente americano Joe Biden, a presença de Bolsonaro na Conferência do Clima... Agora vamos ver como o novo Ministro e o Itamaraty vão definir a posição do Brasil no Acordo de Paris", disse Barbosa.
Apesar da tentativa de mudança na narrativa da questão ambiental, Ricupero explica se tratar da linha mais frágil entre as agendas prioritárias do Itamaraty, por depender de mudanças reais no governo. "O papel (do MRE) tem sido tentar negar evidências. Isso diminui o poder de convencimento".
Foi na gestão França que o Itamaraty modulou o voto do Brasil sobre as sanções americanas a Cuba na ONU - enquanto o País se alinhou a Estados Unidos e Israel ao votar contra a retirada dos embargos, neste ano o País se absteve, deixando o bloco opositor.
Os analistas apontam que a nova fase do Itamaraty deve ser marcada por um maior pragmatismo, principalmente no que diz respeito à disputa por protagonismo entre Estados Unidos e China na América do Sul. Ao contrário do que aconteceu no começo do governo Bolsonaro, quando houve um alinhamento quase integral ao governo de Donald Trump.
O alinhamento não ocorreu apenas por causa da gestão de Ernesto Araújo. Ricupero aponta que a própria inclinação do presidente e do filho dele, Eduardo Bolsonaro, aos EUA acabaram por definir este papel, o que fez o Itamaraty se omitir de buscar o melhor posicionamento para o Brasil, uma vez que a derrota do ex-presidente americano na eleição do ano passado deixar o Brasil em uma situação em que é alvo de desconfiança tanto da China quanto do governo Biden.
Não bastasse a desconfiança, o Brasil mantém relações estreitas e importantes tanto com China quanto com Estados Unidos, sendo dependente de ambos em temas estratégicos. O antagonismo com a China - acentuado em alguns momentos - colocou em risco alguns dos principais setores econômicos do país, como o mercado de soja, cujo maior comprador é a China, e os EUA um dos nossos maiores concorrentes.
"Esse lado desapareceu (com a saída de Araújo), mas desapareceu também da parte do presidente. Talvez ele tenha aprendio a lição", diz Ricupero. "O que vai acabar acontecendo é que nós vamos ter uma relação pragmática. Caso a caso, vai se ver o interesse do Brasil".
O pensamento é endossado por Barbosa, que projeta uma posição de independência do Brasil em relação aos dois países. "Não tem como a gente prever, mas eu acho que o chanceler Carlos França vai continuar fazendo o possível para ser o fator de moderação na política externa brasileira".
Assim como Araújo não é o único responsável pelas omissões do Itamaraty na questão envolvendo a política externa da vacina e o alinhamento aos EUA, a troca no comando por si só não resolve a perda de credibilidade da diplomacia brasileira nos últimos anos, que transformou o Brasil em pária internacional.
"A essência do projeto bolsonarista - de ser antiglobalista, questionar o multilateralismo, de não buscar a liderança e a cooperação regional - é o que explica essa situação. Para uma superação do que aconteceu nos últimos dois anos, só se houver uma guinada da política interna", afirma Stuenkel.
Carlos Poggio, professor de Relações Internacionais da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), explica que a deterioração da imagem da diplomacia brasileira não é algo que se supere facilmente. "Não é uma questão de dias ou de meses, é uma questão de anos até uma recuperação completa da imagem do Brasil", disse. E completa: "É um alívio (a troca de comando), é um respiro e uma esperança de um retorno a alguma normalidade no Itamaraty, mas é algo que ainda talvez demore para se reconstruir totalmente, não no curto ou no médio prazo".
"É um processo de reconstrução. Esse é apenas 'o começo do início', porque o principal dano é o que vem do próprio Bolsonaro, na figura dele e do governo dele. O conjunto da obra do governo dele. O que Carlos França fez muito bem foi eliminar o componente que era agregado pelo Ernesto Araújo, mas isso talvez não fosse nem 10% do total. Todo mundo sabe que o papel dele é limitado", afirma Ricupero.
sábado, 14 de novembro de 2020
Trump Drove Latin America Into China’s Arms - Oliver Stuenkel (Foreign Affairs)
Oliver Stuenkel mostra como a política de Trump para a AL backfired, por incompetente, ideológica e puramente aventureira, como se espera de bestas quadradas...
Paulo Roberto de Almeida
Foreign Affairs, November/December 2020
Trump Drove Latin America Into China’s Arms
Biden Has a Chance to Wrest It Back
November 13, 2020
The administration of U.S. President Donald Trump took an aggressive approach to Latin America that has spectacularly backfired. Two years ago, John Bolton, who was then the U.S. national security adviser, dubbed the autocratic regimes of Venezuela, Cuba, and Nicaragua the “Troika of Tyranny” and confronted the three countries with crippling sanctions and menacing rhetoric. “Today, we proudly proclaim for all to hear: the Monroe Doctrine is alive and well,” Bolton said in April 2019, referring to the principle behind the long and traumatic history of U.S. interventions in Latin America.
The result was to unite Latin American governments of all stripes against the United States. Regional leaders, concerned about the precedent that U.S. intervention in Venezuela could set, reluctantly sided with the country’s dictator, Nicolás Maduro. Even those strongly critical of Venezuela, such as Colombia, rejected all talk of military intervention, and Brazilian President Jair Bolsonaro, who had made radical alignment with the United States the centerpiece of his foreign policy, found himself overruled by the country’s armed forces, which categorically oppose the presence of foreign troops in neighboring countries. The autocratic leaders of Venezuela, Nicaragua, and Cuba are still in power—in part because U.S. pressure created a rally-round-the-flag effect and helped them deflect blame onto Washington for internal woes.
Even as it failed to achieve its primary objective, the Trump administration’s policy undermined broader U.S. strategy in Latin America by strengthening China’s hand in the region. Indeed, the aggressive U.S. stance has left Latin American policymakers scrambling for partners who can balance Washington’s influence—a role that Beijing has been only too willing to play. In Venezuela, sanctions have sidelined U.S. firms, creating an ideal opening for Chinese companies to expand their influence. If the Maduro regime were to collapse, Beijing would be well positioned to assume a dominant role in the country’s reconstruction.
During the Trump presidency, China has grown more influential and more powerful in Latin America in virtually every dimension. Brazil is perhaps the most remarkable example: despite Bolsonaro’s anti-China rhetoric and his efforts to strengthen ties to Washington, Brazil’s trade with the United States has fallen to its lowest level in 11 years, while trade with China is booming. Fully 34 percent of Brazilian exports go to China, and China’s relatively quick economic recovery from the coronavirus pandemic will likely lead that figure to grow.
Latin American heads of state watched closely as Trump repeatedly humiliated Bolsonaro—surprising him with tariffs on Brazilian products, for example. The lesson they drew was simple: a partnership with Washington entailed significant economic and political risk. They looked to Beijing instead: Chile’s president sought to make his country the region’s main interlocutor with China, and Argentina welcomed a Chinese military-run space station, which began operating in 2018. Of seven countries that shifted ties from Taipei to Beijing during the Trump presidency, three—the Dominican Republic, El Salvador, and Panama—are in Latin America. Paraguay faces growing pressure to join them. Many Latin American countries are likely to adopt Huawei’s 5G infrastructure, despite U.S. threats of unspecified “economic consequences” for those that do.
President-elect Joe Biden has an opportunity to take a more constructive approach to Beijing’s growing influence in Latin America. Doing so will require the new administration to avoid antagonizing the region’s leaders and to emphasize shared interests instead. Washington will have to counteract an ugly impression that the Trump administration has created—one that suggests the United States is driven largely by the desire to contain China rather than support the region’s economic development.
DAY ONE
The less threatening the United States appears from a Latin American perspective, the less of an urge the region’s leaders will feel to balance its influence with China’s. Trump administration officials, including former and current Secretaries of State Rex Tillerson and Mike Pompeo, have made frequent reference to the Monroe Doctrine. The incoming U.S. administration must explicitly distance itself from this language. Such talk was a gift to the Chinese, who defend the principle of nonintervention—a principle that Latin American governments strongly support.
Badmouthing China makes Washington look desperate to dominate and afraid to compete.
The Biden administration should make clear from day one that military intervention in Venezuela is off the table, and it should put an end to broad sanctions that immiserate the country’s citizens. Even Venezuelans who despise Maduro largely oppose the U.S. sanctions, which have caused vast human suffering in a region where millions of people are already sliding back into poverty because of the pandemic. The United States should calibrate sanctions to hurt only those who assure Maduro’s hold on power. It should do the same in Nicaragua and Cuba, because whatever Latin Americans may think about the regime in Havana, broad sanctions fuel anti-Americanism in the region and make China’s life easier.
A POSITIVE AGENDA
Latin American policymakers are far more likely to be influenced by constructive U.S. policies toward their countries than by negative U.S. rhetoric about China. Trade with China has had many positive economic consequences for Latin America over the past two decades, and the United States sounds patronizing and dishonest when it seeks to dissuade the region’s leaders from sustaining these relations. Such meddling is counterproductive—even when the United States has genuinely relevant concerns, such as those about the inequality of a trade relationship that has Latin America mainly selling commodities to China and buying value-added goods in return, or about the risks that Huawei telecommunications infrastructure may pose to privacy.
The Biden administration should instruct its ambassadors and officials not to speak about Chinese–Latin American relations in public at all. Badmouthing China, rather than promoting U.S. strengths, makes Washington look desperate to dominate and afraid to compete. A Central American diplomat once privately told me that when U.S. officials complain about China in Latin America, “they sound like a jealous ex-boyfriend.”
The United States should instead lay out a positive agenda on matters of common concern across the region. Some of these pertain to other regions as well: the United States under Biden should of course return to the World Health Organization and adopt more generous policies to help poor countries gain access to masks, ventilators, and vaccines against COVID-19. Such measures will go a long way in countering China’s growing influence in Latin America.
Biden will need particular diplomatic skill to deal with Bolsonaro.
In Latin America in particular, Washington should emphasize and deepen its work with local partners to promote human rights, protect the environment, and strengthen civil society. It should be an ally in the region’s fight against corruption and a source of economic aid at the current moment of profound crisis. A constructively engaged United States can convene regional discussions to help tackle drug trafficking and transnational crime, which victimizes hundreds of thousands of young Latin Americans every year.
PRESIDENTIAL DIPLOMACY
U.S. presidential diplomacy could go a long way toward overcoming the region’s polarities, and Biden may be particularly well suited for such an enterprise. He is unusually knowledgeable about Latin America for a U.S. president-elect, and his moderate, pragmatic style may allow him to establish a meaningful rapport with leaders from the left (Bolivia, Mexico, Argentina), through the center-right (Colombia, Chile, Uruguay), to the far right (Brazil). Dialogue in the region has all but broken down in recent years: President Bolsonaro has so far refused to speak to his Argentine counterpart, and Mexico’s president, Andrés Manuel López Obrador, has yet to visit a single Latin American country. Only if and when these leaders resume a constructive dialogue will the region be able to address its most urgent problems, such as migration from Venezuela and Central America, environmental degradation in Brazil, transnational crime, and a poverty rate nearing 40 percent.
Biden will need particular diplomatic skill to deal with Bolsonaro. The self-styled “Trump of the Tropics” repeatedly attacked the Democratic candidate during the campaign because of his comments about deforestation in the Amazon. Biden’s task will be to get Brazil to adopt more stringent environmental rules—but to do so without pushing it into the arms of China, which is careful never to criticize Brazil’s controversial environmental policies, and without issuing public threats, which Bolsonaro uses to mobilize his radical followers.
No matter how much U.S. diplomacy improves under Biden, trade between China and Latin America is almost certain to continue growing, and China will therefore consolidate some influence on the continent. Economic ties to China may help to mitigate the worst of the coming recession in Latin America, even if it can’t be staved off altogether. Nonetheless, Washington has an opportunity to become a far more trusted and influential partner to Latin America than it has been under President Trump. The new administration should seize the moment as the region charts its geopolitical course.