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domingo, 23 de julho de 2023

O irmão menor da União Europeia: reunião Celac-UE em Bruxelas - Paulo Roberto de Almeida

 Meu artigo mais recente publicado na revista Crusoé, parcialmente reduzido em relação ao original submetido: 

1516. “O irmão menor da União Europeia” [título original: “O Brasil, a América Latina e a União Europeia: alguma novidade?”; Artigo sobre a cúpula Celac-EU], revista Crusoé (21/07/2023, link: https://crusoe.uol.com.br/edicoes/273/o-brasil-a-america-latina-e-a-uniao-europeia-alguma-novidade/). Relação de Originais n. 4434.  


O Brasil, a América Latina e a União Europeia: 

alguma novidade? 

 

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.

Nota sobre o encontro de dirigentes da América Latina (Celac) com contrapartes da UE.

Publicado, com cortes, e sob o título “O irmão menor da União Europeia”, na revista Crusoé (21/07/2023, link: https://crusoe.uol.com.br/edicoes/273/o-brasil-a-america-latina-e-a-uniao-europeia-alguma-novidade/).

  

A União Europeia – em sua terceira ou quarta encarnação desde o início do processo de integração – é, sem dúvida alguma, o mais sofisticado experimento de construção de unificação política, econômica e institucional que se conhece no mundo, superior a quaisquer outros esquemas de derrubadas de barreiras em escala bilateral ou plurilateral. Partindo de uma mera comunidade de seis países em 1951 – produção comum de carvão e de aço entre Alemanha, França, Itália, Bélgica, Países Baixos e Luxemburgo –, o bloco partiu para o primeiro projeto de mercado comum da história, em 1957, com os mesmos países. Treze anos depois, recebeu a adesão da Dinamarca, da Irlanda e do Reino Unido, que havia liderado um experimento concorrente, mas apenas de livre comércio, a Área de Livre Comércio Europeia (Efta), liderada pelo próprio Reino Unido. 

(...)

Esse encontro de cúpula não deverá, assim, chamar muito a atenção da mídia global, assoberbada por problemas bem mais graves em outros cenários geopolíticos. Nas manobras atuais que podem reconfigurar os grandes equilíbrios geopolíticos mundiais, a América Latina permanece excêntrica e, aparentemente, condenada a continuar a ser uma exportadora de matérias primas pelo futuro previsível. Os espanhóis e portugueses podem continuar a se interessar pela região, mas os demais europeus estão com os olhos postos em outros cenários. Quanto ao acordo Mercosul-UE, enquanto argentinos e brasileiros continuarem insistindo em seus instintos protecionistas, ele não parece ter grandes chances de ser ratificado, não importa quantas promessas de resultados concretos sejam formuladas nesta cúpula de 2023.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4434, 13 julho 2023, 3 p.

 

 Publicarei o artigo na íntegra em mais duas semanas...

sexta-feira, 2 de junho de 2023

Mercosul e União Europeia: a longa marcha da cooperação à associação - Paulo Roberto de Almeida, introdução a livro sobre relações Mercosul-UE

 Meu trabalho mais recentemente publicado, embora tenha sido escrito dois anos atrás (com revisão atualizada para publicação em outubro de 2022, antes, portanto, da mudança de governo no Brasil):

4247. “Mercosul e União Europeia: a longa marcha da cooperação à associação”, Brasília, 2 outubro 2022, 20 p. Colaboração, publicada como Introdução ao livro: André Pires Gontijo, Camilo Negri; Elisa de Sousa Ribeiro (orgs.). (Cor)Relações entre Europa e América Latina: atualidades e perspectivas. Curitiba: CRV, 2023, 290 p.; ISBN Digital 978-65-251-4631-7; ISBN Físico 978-65-251-4630-0. Divulgado na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/102774811/4247_Mercosul_e_União_Europeia_a_longa_marcha_da_cooperação_à_associação_2022_). Relação de Publicados n. 1510.

              

Disponível no site da editora, no link: https://www.editoracrv.com.br/produtos/detalhes/37887-correlacoes-entre-europa-e-america-latina-br-atualidades-e-perspectivas 


(COR)RELAÇÕES ENTRE EUROPA E AMÉRICA LATINA: ATUALIDADES E PERSPECTIVAS

Coordenadores:

André Pires Gontijo Elisa de Sousa Ribeiro Camilo Negri

Prefácio

Fernando Collor de Mello

Apresentação

André Pires Gontijo, Elisa de Sousa Ribeiro e Camilo Negri

Introdução

Paulo Roberto de Almeida

Autores
Adriana Dreyzin de Klor, Aline Beltrame de Moura, André Pires Gontijo, Beatriz Nunes Diógenes, Carlos Federico Domínguez Avila, Clarita Costa Maia, Dalia B. Carranco, Elisa Campo Dall’Orto Corrêa, Graciela R. Salas, Graziela Tavares de Souza Reis, Karina L. Pasquariello Mariano, Letícia Mulinari Gnoatton, Regiane Nitsch Bressan, Sérgio Martins Costa Coêlho, Stephanie Cristina de Sousa Vieira, Tarin Cristino Frota Mont’Alverne, Víctor Minervino Quintiere.


(COR)RELAÇÕES ENTRE EUROPA E AMÉRICA LATINA: ATUALIDADES E PERSPECTIVAS

Sumário:

APRESENTAÇÃO ..9
André Pires Gontijo
Elisa de Sousa Ribeiro
Camilo Negri

PREFÁCIO
32 ANOS DO MERCOSUL: um balanço para pensar o futuro ..13
Fernando Collor

PRÓLOGO
32 ANOS DE UMA EXPERIÊNCIA COMUNITÁRIA! ..19
Maria Elizabeth Guimarães Teixeira Rocha

INTRODUÇÃO
MERCOSUL E UNIÃO EUROPEIA: a longa marcha da cooperação à associação..21
Paulo Roberto de Almeida

HACIA LA PRÓXIMA CUMBRE CELAC-UE: continuidad, cambio y ruptura en la agenda de trabajo birregional ..41
Carlos Federico Domínguez Avila

ACUERDO MERCOSUR – UE ¿MÁS INTERROGANTES QUE CERTEZAS? EL DERECHO INTERNACIONAL EN MERCOSUR UNA PERSPECTIVA DESDE ARGENTINA ..67
Adriana Dreyzin de Klor
Graciela R. Salas

GOVERNANÇA AMBIENTAL REGIONAL E O ACORDO UNIÃO EUROPEIA-MERCOSUL ..95
Regiane Nitsch Bressan
Karina L. Pasquariello Mariano

AGRICULTURA SUSTENTÁVEL NO MERCOSUL: o desenvolvimento da agricultura familiar e de práticas agrícolas sustentáveis ... 117
André Pires Gontijo
Elisa Campo Dall’Orto Corrêa

UMA ANÁLISE DA RECOMENDAÇÃO 2020/2129 DO PARLAMENTO EUROPEU SOBRE A OBRIGATORIEDADE DO DEVER DE DILIGÊNCIA EMPRESARIAL: instrumento extraterritorial de proteção aos direitos humanos no Brasil? ..143
Beatriz Nunes Diógenes
Stephanie Cristina de Sousa Vieira
Tarin Cristino Frota Mont’Alverne

OS REFLEXOS INTERNACIONAIS DA REGULAMENTAÇÃO EUROPEIA EM MATÉRIA DE PROTEÇÃO DE DADOS PESSOAIS ..169
Aline Beltrame de Moura
Letícia Mulinari Gnoatton 

O PROJETO LATINO-AMERICANO DE INTEGRAÇÃO EM INFRAESTRUTURA E O PAPEL DA EUROPA: os corredores bioceânicos como vetores de desenvolvimento regional e política econômica anticíclica ..193
Clarita Costa Maia

QUESTÕES ATUAIS ENVOLVENDO O DIREITO AO VOTO DOS CONDENADOS EM DEFINITIVO: perspectivas e desafios para o Brasil frente ao cenário mundial ..233
Víctor Minervino Quintiere

SIN NACIÓN: la apatridia en américa latina y europa ..261
Dalia B. Carranco

A PERSPECTIVA DE GÊNERO NO SISTEMA INTERAMERICANO E O DIÁLOGO ENTRE CORTES REGIONAIS DE DIREITOS HUMANOS ..281
Graziela Tavares de Souza Reis

A INVENÇÃO DA AMÉRICA LATINA ..307
Sérgio Martins Costa Coêlho

COORDENAÇÃO DA OBRA .329

AUTORES E AUTORAS ..331


Introdução
Paulo Roberto de Almeida

Embaixador e professor. Atuou em diversas negociações do Mercosul, na primeira década de existência do bloco, e  representou o Brasil, como delegado alterno, perante a ALADI, presidiu e fez parte de grupos de pesquisa voltados à análise da União Europeia, do comércio internacional e de processos de integração econômica.

Início da Introdução: 

Mercosul e União Europeia: a longa marcha da cooperação à associação

 

 

Paulo Roberto de Almeida[1]

 

 

Resumo: Ensaio de caráter histórico analítico sobre as diferentes etapas do relacionamento inter-regional entre o Mercosul e a União Europeia, com ênfase na longa e lenta construção do acordo de associação comercial entre os dois blocos, os percalços existentes em duas décadas e as dificuldades remanescentes com a assinatura do acordo concluído em junho de 2019. A despeito de todos os obstáculos de natureza política e econômica, a densidade de relações de todos os tipos entre as duas regiões deve assegurar, no futuro previsível, a continuidade dessa associação entre as duas únicas uniões aduaneiras em vigor no contexto do sistema multilateral de comércio.

Palavras chaves: União Europeia; Mercosul; relações Europa-América Latina; acordo de associação; sistema multilateral de comércio.

 

 

Antecedentes históricos e quadro institucional da integração na Europa e nas Américas

A América Latina, ou melhor, o hemisfério americano, na sua configuração resultante dos descobrimentos, nos albores da era moderna, é uma criação legitimamente europeia, com todos os bonus et malus de um processo marcado por fenômenos e movimentos paradoxais: pela conquista violenta e pela colonização subsequente; pelo extermínio de povos originários (voluntário, em muitos casos, mas geralmente involuntário, pelo germes); pela exploração e pela extração de recursos naturais e produtos feitos no hemisfério; pela cultura e instituições que estiveram na origem dos novos Estados independentes; pelos investimentos, pela emigração maciça e pelo comércio mantidos em todas as épocas; pela ajuda generosa concedida em diferentes momentos da vida contemporânea; pela defesa da democracia e dos direitos humanos em países dominados por ditaduras e oligarquias predatórias; pela transferência (na maior parte das vezes não deliberada) de tecnologias proprietárias e patrimônio intelectual às nações e sociedades que ali se formaram desde o início do século XIX; enfim,  tudo isso e muitas outras coisas não detectadas, ou seja, bens invisíveis ou não mensuráveis, tudo o que existe de concreto e intangível, com a exceção da quase esquecida herança humana pré-existente aos primeiros contatos civilizatórios, todos esses fatores constituem o resultado da ocupação material e humana europeia, mais especificamente dos reinos ibéricos, com alguns aportes marginais de outros europeus, notadamente britânicos, franceses, italianos, holandeses, belgas, alemães e eslavos, assim como vários outros povos europeus. [2]

Não se pode esquecer, tampouco, que muito do que foi feito, desde o início da colonização, foi o resultado dos próprios povos ameríndios e, no caso do Brasil e de outros países, basicamente de escravos africanos, arrastados para uma vida infernal, curta, dolorosa e absolutamente indigna de nações cristãs, como se pretendiam os europeus. Não cabe jamais esquecer que grande parte, senão o essencial, do que foi construído num hemisfério que se encontrava entre o paleolítico e o neolítico foi obra dos povos originários submetidos à servidão ou de escravos africanos explorados num grau de crueldade poucas vezes visto no processo civilizatório da comunidade humana em todas as épocas e lugares. 

Que a América Latina seja europeia – depois enriquecida por diversos outros aportes humanos e materiais de outras fontes culturais, notadamente Ásia e Oriente Médio – não é, ou não deveria ser objeto de contestação, embora visões revisionistas da história pretendam oferecer uma outra visão do descobrimento (ou invasão), da colonização (ou exploração), das transferências tecnológicas ou culturais (para o próprio lucro ou enriquecimento) desses “fornecedores”, o que também faz parte do universo acadêmico europeu (e americano), ou seja, o remorso pela colonização, pelo extermínio vinculado à exploração violenta e pelo racismo associado, assim como as inovações politicamente corretas do “descolonização” terminológica e conceitual e outras invencionices do gênero. Mas, falar de correlações entre a América Latina e a Europa é muito genérico, e impreciso, para abordar o objeto desde ensaio, que toma como objeto as correlações específicas entre a União Europeia e o Mercosul, ou seja, um fenômeno e um processo dos últimos trinta anos apenas, com débeis raízes nos 500 anos anteriores de interações destrutivas e construtivas entre dois continentes. Mas, mesmo nessa dimensão mais reduzida geograficamente e temporalmente, pode-se dizer que também o Mercosul é um produto genuinamente europeu, na sua inspiração, no seu formato e, embora ainda não realizadas, nas suas intenções e objetivos. 

Três décadas antes da formação do bloco do Cone Sul, o primeiro experimento de integração na região também tomou como base experimentos anteriores na Europa, sob a forma de zonas de livre comércio ou de união aduaneira, como materializado na Tratado de Montevidéu de 1960, criando uma Associação de Livre Comércio da América Latina, fundado juridicamente no Artigo 24 do Gatt, que tomou como base o único experimento existente em sua elaboração, em 1947, o Benelux, a união aduaneira entre Bélgica, Países Baixos e Luxemburgo (formulada originalmente em Londres em 1944, e formalizado pelo Tratado da Haia de 1947). Já a integração negociada no âmbito da Cepal, na segunda metade dos anos 1950, era inspirada nos primeiros experimentos comunitários do Tratado de Paris de 1951, que criou a CECA (a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, entre França, Alemanha, Itália e os três do Benelux), e dos tratados de Roma de 1957, criando, entre outros órgãos e mecanismos de integração mais profunda, o mercado comum europeu.

A etapa seguinte, a substituição da Alalc pela Aladi, por meio do segundo Tratado de Montevidéu, de 1980, criando a Associação Latino-americana de Integração, tem mais a ver com desenvolvimentos no âmbito do Gatt – especificamente a decisão da Rodada Tóquio, de 1979, instituindo uma “cláusula de habilitação” –, do que com inovações europeias, uma vez que a nova faculdade de concluir acordos preferenciais e parciais, não mais submetidos aos requerimentos do Artigo 24 do Gatt, estava restrita às partes contratantes consideradas menos desenvolvidas. Mas, o processo que conduziu precipuamente ao Mercosul também pode ser considerado como um derivativo de movimentos inspiradores a partir do “berço” europeu, como agora se pode expor sucintamente. Depois de uma fase de relativa “euroesclerose”, do final dos anos 1970 a meados da década seguinte, o “Ato Único” europeu, de 1986, criando um mercado unificado num espaço de seis anos, representou um avanço bastante ousado na então Comunidade Econômica Europeia, já bastante ampliada em relação aos seis membros originais, o que significava desmantelar centenas de normas nacionais e outros dispositivos restritivos para realmente consolidar a livre circulação de bens e serviços no continente. Tal decisão apareceu a parceiros externos do outro lado do Atlântico como suscetível de criar uma “fortaleza europeia”, já particularmente protecionista na área agrícola.

A reação não tardou a se organizar. Na América do Norte, Estados Unidos e Canadá decidiram ampliar o livre comércio automotivo que já vigorava entre os dois países desde meados dos anos 1960 para um acordo geral de livre comércio, o que foi concretizado em 1988. No Cone Sul, Argentina e Brasil decidem, de seu lado, dar início a um cuidadoso processo de liberalização comercial recíproca – por meio do PICE, o Programa de Integração e Cooperação Econômica, de 1986 – que se consolidaria num Tratado de Integração em 1988, já prevendo um mercado comum em dez anos, mas baseado num roteiro gradual e flexível de conformação progressiva de cadeias de valor, por meio de protocolos setoriais, num total de mais de duas dúzias, que passaram a reger a abertura recíproca de indústrias e setores agrícolas dos dois países. A chegada de dois presidentes mais inclinados a um modelo mais liberal do que intervencionista de integração, Carlos Menem e Fernando Collor, levou a que esse modelo cauteloso de integração fosse substituído por um outro, de desmantelamento automático das barreiras existentes, o que foi feito pela Ata de Buenos Aires, de julho de 1990, já prevendo o estabelecimento de um mercado comum na metade do tempo, em 1995.

Na América do Norte, depois de uma proposta hemisférica de liberalização geral feita pelo presidente George Bush (pai) em 1990, a iniciativa evoluiu para um primeiro acordo tripartite, estendendo ao México o acordo de livre comércio já feito com o Canadá dois anos antes, o que resultou no NAFTA, aprovado em 1994, ao mesmo tempo em que o México era aceito para integrar a OCDE, alterando, portanto, sua tradicional postura desenvolvimentista. No caso da América do Sul, o anúncio de um projeto de mercado comum bilateral entre o Brasil e a Argentina estimulou os países vizinhos a se juntarem ao esquema da Ata de Buenos Aires e, em menos de um ano, Paraguai e Uruguai aderem ao esquema, que foi formalizado por meio do Tratado de Assunção, de março de 1991, nos mesmos termos do acordo anterior.[3]

 

Mercosul e União Europeia: vidas paralelas?

(...)

(...)

Final do texto: 

Numa conjuntura em que a desglobalização econômica e o acirramento das tensões geopolíticas parecem, novamente, ameaçar o mundo com uma nova fragmentação de blocos não convergentes entre si, a unidade de propósitos e o diálogo político entre o bloco europeu e o sul-americano constitui, possivelmente, um patrimônio diplomático que não seria conveniente descartar. Com efeito, o acordo de associação representa bem mais do que uma simples relação de interesse comercial, ao consolidar uma trajetória de laços históricos e de imbricações de povos e culturas de mais de cinco séculos de existência. Diferente da Ásia e da África, a América Latina, especialmente os países da América do Sul e os povos e nações do Mercosul constituem filhos legítimos da Europa ocidental, no pleno significado cultural e civilizatório do conceito. O acordo não é, portanto, um mero instrumento de intercâmbios econômicos, e sim uma interação natural e necessária. Trata-se, provavelmente, da mais intensa correlação entre a Europa e a América Latina que se possa conceber no plano da geopolítica mundial, tão relevante quanto têm sido, desde mais de 500 anos, as relações euro-atlânticas entre a Europa Ocidental e a América do Norte.

[Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4247: 2 outubro 2022, 20 p.]

 


[1] Diplomata de carreira, professor universitário; doutor em Ciências Sociais; mestre em Planejamento Econômico; diretor de Relações Internacionais no Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal; CV: http://lattes.cnpq.br/9470963765065128; Contatos: www.pralmeida.orgpralmeida@me.com.

[2] Para uma visão geral do relacionamento entre as duas regiões ao início dos anos 1980, cabe referir-se ao artigo de Wolf Grabendorff, “El papel de Europa en las relaciones internacionales de la América Latina”, revista Relaciones Internacionales(Universidad Nacional de Costa Rica, vol. 5, n. 2, 1982, p. 82-92; disponível: https://www.revistas.una.ac.cr/index.php/ri/article/view/7024; acesso: 10 jul. 2022).

[3] Para as origens e os fundamentos do processo de integração no Cone Sul, ver Paulo Roberto de Almeida, Mercosul: Fundamentos e Perspectivas (São Paulo: Editora LTr, 1998.


quarta-feira, 25 de maio de 2022

‘ As áreas de influência não existem mais', diz embaixador da União Europeia no Brasil - André Duchiade (O Globo)

'As áreas de influência não existem mais', diz embaixador da União Europeia no Brasil

Em entrevista ao Globo, Ignacio Ybáñez reitera que desmatamento impede avanço de acordo comercial, pede para Brasil se somar às sanções e critica declarações de Lula

Por André Duchiade — Rio de Janeiro
O Globo, 25/05/2022 04h30  Atualizado há uma hora

Embaixador da União Europeia (UE) no Brasil, o espanhol Ignacio Ybáñez é um diplomata franco. Em entrevista ao GLOBO no Rio, onde esteve para um seminário na PUC-Rio na semana passada, ele reconhecer incongruências na política imigratória europeia e faz análises sobre a política externa russa com a experiência de quem foi embaixador em Moscou quando integrava o corpo diplomático da Espanha. Assim como o fez no começo da guerra, Ybáñez também pede para o Brasil se somar às sanções contra a Rússia — segundo ele, o caminho mais rápido para restabelecer a normalidade internacional. Também afirma que o desmatamento impede o avanço do Acordo Comercial entre Mercosul e UE, critica a recente declaração do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva equiparando os líderes de Rússia e Ucrânia e assegura a confiança europeia no sistema de votação eletrônica brasileiro.

A Comissão Europeia deu sinais de que a Ucrânia poderia ser aceita na União Europeia por meio de um processo de admissão rápido. No entanto, vários países, incluindo Alemanha e França, já deixaram claro que isso não irá acontecer. Por que a UE alimentou estas esperanças?
Para ser membro da UE é necessário cumprir requisitos bem importantes: ser europeu, mas também ser uma democracia onde o Estado de direito funcione, onde haja um sistema Judiciário que funcione perfeitamente, onde haja mecanismos para o controle da corrupção. O processo nunca é de um dia para outro, é realmente necessário cumprir uma longa série de avaliações e ajustar políticas. O processo é conduzido pela Comissão Europeia, mas os Estados-membros sempre têm a palavra. O importante é quando a UE reconhece um país como candidato, e isso é o que pode acontecer no caso da Ucrânia. Ninguém falou nunca que a adesão seria repentina.

E como a Comissão Europeia vê a admissão ucraniana?
O importante para nós é, em primeiro lugar, combater a ideia de que existem áreas de influência, e que portanto há limitações de quem quer que pode ser membro. Essas áreas de influência já não existem mais. Existia no tempo da União Soviética e dos Estados Unidos; nós, como europeus, não gostávamos dessa situação, e agora gostamos ainda menos. Os países têm a liberdade de escolher em qual grupo querem entrar e se associar. O fato de que a sociedade da Ucrânia demonstrar uma vontade determinada para aderir à UE é muito gratificante e positivo, por vir de um país que tinha um sistema bem diferente, tendo feito parte da União Soviética. É gratificante que queiram fazer uma transformação tão grande.

Como as declarações do ex-presidente Lula à revista Time equiparando Zelensky a Putin foram recebidas em Bruxelas e em outras capitais europeias?
Qualquer declaração que põe no mesmo patamar o país agressor e o país agredido não é aceitável para nós. No âmbito privado, quando há uma pessoa que agride outra, as condições entre elas são diferentes. No caso dos países acontece a mesma coisa. Nós não compreendemos, portanto. Podemos compreender que haja uma vontade, por países não europeus, de tentar encontrar soluções para uma crise que logicamente afeta o mundo inteiro. Essa vontade que o presidente Lula expressou de tentar encontrar uma solução é também a nossa. Mas é importante atribuir a responsabilidade correta a cada ator, e o país que precisa tomar uma ação para restituir a legalidade internacional é a Rússia. Se a Rússia mudar de comportamento e parar sua agressão, todos nós, europeus, e seguramente também o Brasil, estaremos preparados para nos sentar e discutir como responder às preocupações, inclusive algumas que podem ser legítimas, da Rússia.

Qual seria uma política brasileira, em termos concretos, que a União Europeia gostaria de ver em relação à Ucrânia?
Algumas delas o Brasil já faz. Para nós é muito importante manter a unidade da comunidade internacional na condenação à agressão da Rússia, e vimos isso nas vezes em que tivemos uma votação no Conselho de Segurança, com o Brasil votando nessa direção. Avaliamos muito positivamente o Brasil no Conselho de Segurança. Na Assembleia Geral, também os votos do Brasil foram positivos, foram sempre na mesma direção. Somente em alguns organismos não concordamos com a posição do Brasil, como o voto sobre a expulsão da Rússia do Conselho de Direitos Humanos, no qual o Brasil se absteve.

E no âmbito das sanções?
O Brasil não acredita nas sanções, não somente nesta questão, mas em outras. Queremos convencê-lo de que as sanções são o caminho mais curto para chegar ao ponto aonde queremos chegar. Queremos restabelecer a legalidade internacional, e pensamos que, quanto maior a pressão sobre a Rússia agora, mais probabilidade temos de que o conflito seja curto. Ao contrário, se não exercemos a pressão, o conflito pode durar anos e o efeito sobre a Ucrânia vai ser devastador, e também sobre o conjunto da comunidade internacional, porque há muitíssimas coisas que precisam funcionar bem, como as Nações Unidas e o G20, que não vão poder cumprir a sua função.

A recepção na UE aos refugiados que saem da Ucrânia tem sido muito diferente do que vimos em outras crises, como por exemplo na crise síria em 2015. Essa diferença não prejudica a imagem europeia?
O tema dos refugiados e da migração é sempre muito delicado. É fácil fazer juízos de valor, mas difícil cumprir os valores que nos promovem. Há um fator de integração, que é importante, e também, eu diria, da percepção da opinião pública em cada um dos momentos. É normal haver uma maior compreensão de um conflito em um país vizinho do que de algo muito distante.A crise ucraniana é muito mais uma crise europeia do que a crise na Síria, por exemplo. Isso não é bom do ponto de vista moral, mas é compreensível do ponto de vista humano. Mas a solidariedade europeia à população da Síria foi importante, a UE continua a ser uma das regiões que recebeu o maior número de pessoas refugiadas de lá. Podemos fazer mais, é verdade, mas temos que ter ciência de que chegadas massivas de refugiados acarretam em problemas de integração E, logicamente, populações culturalmente mais próximas são mais fáceis de integrar. Por exemplo, no caso da Espanha, a migração que chega dos países da América Latina é muito mais facilmente integrável, porque falam o mesmo idioma e tem uma cultura muito mais próxima do que uma pessoa vinda de um país africano com outro idioma ou outros costumes.

Moscou se recusa a falar com Bruxelas, sempre preferindo conversar diretamente com os Estados-membros. Em fevereiro de 2021, o chanceler russo, Sergei Lavrov, desrepeitou Josep Borrell, o principal diplomata da UE, em uma visita à Rússia. Quais são os limites à atuação da UE nesta crise?
Fui embaixador da Espanha na Rússia, e conheço essas ações. Elas são usadas pelo ministro Lavrov com o objetivo de criar uma divisão dentro da União Europeia. Ao preferir falar com os Estados do que com a União, ele acredita que divide o grupo. No caso da guerra, a Rússia errou esse cálculo. Erraram quando estavam convencidos de que a ofensiva levaria dias ou no máximo semanas, e seriam recebidos como libertadores em Kiev. Mas também erraram quando estavam convencidos de que a UE ia se dividir, que cada um dos países atuaria por conta própria. A Rússia recebeu a melhor lição que um político pode receber, a de que as suas teorias não são reais. A UE demonstrou uma unidade enorme. Agora todos compreendem os desafios que muitos países já falavam antes. Em 2014, o Ministro das Relações Exteriores da Polônia falava de uma possível invasão a Kiev, e os outros ministros pensavam ser um exagero. A unidade que estamos demonstrando, entre UE, EUA, Canadá, Suíça, e também os países da América Latina condenando a agressão da Rússia é a melhor demonstração de que a multilateralidade também serve para defender valores.

Nas últimas semanas vimos uma mudança de objetivo estratégico de Washington. Agora há explicitamente a estratégia de enfraquecer a Rússia. A UE corrobora essa meta?
A UE tem a plena convicção de que é necessário que o custo desta agressão seja o mais alto possível, adotado o mais rapidamente possível. Estamos convencidos que se deixarmos a situação sem uma reação internacional, a Rússia vai continuar com essa política. Hoje pode anexar uma parte da Ucrânia, mas amanhã pode ir além. O que queremos é que nossas sanções mudem o comportamento da Rússia. São medidas que queremos que sejam focadas, para que não haja muito dano à população russa, e sim para a liderança. Estamos tentando focar em setores particulares, como a energia, ou então reduzir a capacidade da Rússia de financiar a guerra, e também limitar as operações dos seus bancos. Todas as questões que achamos que podem ser tomadas, e se for por um número maior de países, melhor.

Na semana passada, os EUA removeram algumas sanções relacionadas à Venezuela. Podemos esperar alguma aproximação da União Europeia?
Sempre mantivemos a convicção de que a solução para a situação da Venezuela só é possível a partir dos próprios venezuelanos, não chegando de fora. Ou seja, o regime e a oposição precisam negociar uma negociação e trabalhar juntos. Nenhuma solução sustentável vai chegar de fora. Essa era a intenção do Grupo de Contato Internacional no México, e o diálogo parou por conta do regime. Todos os passos para a redemocratização são bem vindos e estamos abertos para a discussão, mas ela precisa incluir a oposição. Ouvi falar muito sobre essas conversas entre o regime e os americanos. Quando pergunto aos americanos, respondem que o objetivo continua a ser o apoio ao restabelecimento da democracia e a volta do regime para a mesa de negociação. Então, se for isso, continuamos no mesmo caminho. Acreditamos que o Brasil tem um papel muito relevante a desempenhar nesse diálogo. É verdade que o governo Bolsonaro decidiu cortar vínculos e tirar a embaixada, mas avaliamos que o Brasil tem um papel a cumprir.

Como o senhor explica que o acordo entre União Europeia e Mercosul não tenha andado até agora?
O acordo é a nossa aposta para o futuro. Acreditamos 100% nele, tanto que não queremos mudar nenhuma vírgula, e não queremos reabrir as negociações. Mas é verdade que há uma percepção na Europa, no Parlamento Europeu e em muitos Estados-membros, de que é difícil finalizar e assinar um acordo se uma das partes começa a ir contra os princípios do acordo antes mesmo de sua entrada em vigor. Desse ponto de vista, é importante que o Brasil cumpra seu compromisso com o Acordo de Paris. Os números do desmatamento impedem o Brasil de cumpri-lo. Há uma demanda da opinião pública europeia, e também de vários governos, de que precisamos ter garantias maiores por parte do Brasil. A participação do Brasil na COP-26, com o compromisso de zerar o desmatamento ilegal até 2028, foi em uma boa direção. O que faltam são os resultados. É muito difícil dizer que o Brasil acredita no Acordo de Paris se todos os meses os números do desmatamento aumentarem. É verdade que a guerra torna ainda mais importante fechar acordos comercial, mas não os faremos em detrimento dos valores.

Recentemente, o TSE desistiu de convocar observadores eleitorais da UE para as eleições de outubro. Como a UE vê essa desistência?
É o Brasil que deve pedir os observadores. Nós estamos à espera. Tivemos primeiro uma petição do TSE, e demonstramos vontade de aceitar, mas em seguida o TSE, depois de conversas com o governo, decidiu retirá-la. A situação europeia é que já não existe um pedido brasileiro de observação. Nós não entramos no debate interno. Vamos acompanhar o processo eleitoral, sabemos que o Brasil é uma democracia que funciona bem, que tem um sistema de voto eletrônico que tem funcionado muito bem. Acreditamos nesse sistema. Desejamos que seja um processo aberto, transparente, no qual se respeitem os resultados.

https://oglobo.globo.com/mundo/noticia/2022/05/as-areas-de-influencia-nao-existem-mais-diz-embaixador-da-uniao-europeia-no-brasil.ghtml

quarta-feira, 9 de março de 2022

Quando a Europa se “militarizou” em favor da Ucrânia - Jean-Pierre Stroobants (Le Monde)

 

«Il fallait faire vite» : des sanctions contre la Russie à l’armement de l’Ukraine, les quatre jours qui ont bouleversé l’Union européenne

Entre le 24 février, lorsque les chefs d’Etat et de gouvernement, réunis à Bruxelles, ont écouté le poignant appel à l’aide de Volodymyr Zelensky, et l’annonce d’une aide européenne pour l’armement de Kiev, le 27 février, l’UE a vécu un tournant dans son histoire. 
Par Jean-Pierre Stroobants (Bruxelles, bureau européen)
Le Monde, 8/03/2022
Un instructeur explique à un jeune civil comment charger un fusil d’assaut dans un entrepôt de Lviv (Ukraine), le 8 mars 2022.
Un instructeur explique à un jeune civil comment charger un fusil d’assaut dans un entrepôt de Lviv (Ukraine), le 8 mars 2022. LUCAS BARIOULET POUR « LE MONDE »

Ce sont les quatre journées qui ont changé l’Union européenne (UE), qui ont gommé des décennies de « soft power » et ont fait basculer l’Europe dans le rôle inattendu d’un fournisseur d’armes. Quatre journées qui marqueront un tournant dans son histoire.

Tout démarre avec un long silence, beaucoup d’émotion et quelques larmes. Jeudi 24 février, les chefs d’Etat et de gouvernement sont réunis en sommet à Bruxelles, dans le bâtiment Europa. Ils viennent d’écouter Volodymyr Zelensky, le président ukrainien, tee-shirt vert olive et visage marqué, qui s’est adressé à eux par visioconférence et a formulé un poignant appel à l’aide, comme celui qu’il adressera la semaine suivante au Parlement européen.

« Cela a été un choc », dira l’un des présents. Une vive discussion s’engage alors quant à la nature de la riposte à opposer au Kremlin. Et, pour une fois dans cette enceinte, il ne s’agit pas de négocier à la baisse, mais à la hausse, le projet de conclusions, le texte final pesé au trébuchet, habituellement livré à la presse après de longues heures de palabres.

Mais pour éviter toute mauvaise surprise et toute remise en question d’une unanimité acquise après ce qu’un haut fonctionnaire appelle le « long massage » de certains dirigeants, le président du Conseil, Charles Michel, a rompu avec la tradition. Il a fait diffuser le communiqué au milieu de la réunion. La salle de presse pourra, pour une fois, aller se coucher tôt, après avoir conclu que ce deuxième train de sanctions qui vise, pour l’essentiel, l’industrie russe, le secteur de l’énergie, des banques et quelques personnalités, est éloigné de la « bombe atomique » qu’évoquaient certains. Celle que réclamait Volodymyr Zelensky.


(…)


segunda-feira, 7 de março de 2022

União Europeia: as várias camadas do bloco europeu - Visual Capitalist

European Union

The European Union (EU) is a unique economic and political union between 27 European countries.

First created as the European Economic Community in the aftermath of WW2, the organization’s main focus was to foster economic cooperation. The idea was simple: countries that trade with one another and become economically interdependent are more likely to avoid conflict.

Beginning with six countries in 1958, the European Economic Community has since added 21 more countries (the UK left the EU in 2020), with a primary focus on single or internal markets.

Here are the countries that comprise the European Union:

Here are the countries that comprise the European Union:


 As of 2021, NATO officially recognizes three aspiring NATO members: Bosnia and Herzegovina, Georgia, and Ukraine. Ukraine has voiced its desire to join NATO since 2014 but hasn’t met its political and military criteria.

Eurozone

The eurozone is a geographic and economic region that consists of countries that have adopted the euro as their national currency. Approximately 340 million people live in the euro area.

Today, the eurozone consists of 19 countries of the European Union. Here they are:


quarta-feira, 15 de setembro de 2021

A Alemanha precisa ser forte outra vez ? - Dominique Moisi

Institut Montaigne, Paris – 14.9.2021

La nouvelle angoisse du "Trop peu d'Allemagne"

La réunification de l'Allemagne au début des années 1990 a fait craindre à ses voisins européens la résurgence d'une puissance qui avait commis le pire 50 ans plus tôt. Aujourd'hui, c'est le risque d'une Allemagne trop faible sur le plan militaire et géopolitique qui doit nous interroger.

Dominique Moîsi

 

"La réunification de l'Allemagne est une bonne nouvelle pour l'Europe, pas pour la France", aurait dit en privé François Mitterrand. Au lendemain de la réunification allemande, la presse internationale était remplie de caricatures représentant le chancelier Helmut Kohl coiffé du casque à pointe, cher à Bismarck et Guillaume II. Tout semblait se passer comme si, du seul fait de la réunification, le "problème allemand" était revenu. Il y avait simplement à nouveau trop d'Allemagne en Europe, comme il y avait eu trop d'Espagne jusqu'à la déroute de "La Grande Armada" à la fin du XVIème siècle, trop de France entre Louis XIV et Napoléon, et puis trop d'Allemagne de 1871 à 1945.

Trop puissante et dynamique économiquement, trop forte démographiquement - trop bon élève aussi peut-être de la classe atlantique et européenne - l'Allemagne n'était plus seulement une source d'irritation, elle était redevenue une source d'inquiétudeOublié le discours prononcé plus de quatre ans avant la chute du mur de Berlin, le 8 mai 1985, par le président de la République fédérale, Richard Von Weizsäcker. L'Allemagne n'a pas été défaite le 8 mai 1945, disait-il aux Allemands. Elle a été libérée d'un régime criminel qui l'avait placée au ban de l'humanité.

Avec Konrad Adenauer, l'Allemagne avait normalisé sa relation avec l'Ouest de l'Europe. Elle en avait fait de même avec l'Est de l'Europe grâce à Willy Brandt. Avec Richard Von Weizsäcker, l'Allemagne normalisait sa relation avec elle-même : une normalité allemande qui passait par l'autocritique la plus sévère et la plus lucide.

 

Exigence de normalization

 

Ce rappel historique n'est pas inutile. En 2021, l'Allemagne doit faire face à une quatrième exigence de normalisation. Et c'est l'évolution géopolitique du monde, que l'Allemagne doit intégrer dans sa psyché d'abord et traduire dans ses politiques ensuite. Cette dernière forme de normalisation est l'enjeu profond des élections du 26 septembre prochain. Les voisins et amis de l'Allemagne en sont parfaitement conscients. Et de fait leur préoccupation (celle de la France, en particulier) est exactement l'inverse de ce qu'elle pouvait être il y a trente ans. À la peur qu'une Allemagne trop forte puisse dominer l'Europe, s'est substituée la crainte qu'une Allemagne guidée par des dirigeants trop faibles, soit incapable de jouer le rôle que l'on attend d'elle dans le nouveau contexte géopolitique mondial. Autrement dit, on est passé de l'angoisse du "trop d'Allemagne" à celle du "trop peu d'Allemagne" qui signifierait "trop peu d'Europe".

Après le long "règne" d'Angela Merkel, une telle crainte est naturelle. Il est difficile de succéder à "Mutti". Le bilan de son action est contrasté et fait et fera l'objet de débats virulentsTel n'est pas le cas de sa personne. Première femme à la tête de l'Allemagne, Angela Merkel a su au fil des années, imposer sa modération, sa lucidité, sa dignité, son sens de l'humour aussi. Sa réputation a traversé les frontières.

Une candidate à la présidentielle en France, Valérie Pécresse, se présente comme "deux tiers Merkel, un tiers Thatcher". En Allemagne, c'est paradoxalement le candidat du SPD Olaf Scholz qui a su bénéficier de cette nostalgie pour la personnalité rassurante, presque consensuelle d'Angela Merkel.Il se présente comme le plus proche héritier de la chancelière et le véritable candidat de la continuité. Ce qui n'est pas en soi une véritable surprise, compte tenu des orientations presque "sociales-démocrates" d'Angela Merkel et de l'extrême modération centriste d'Olaf Scholz lui-même.

 

Les questions de Défense

 

Mais il est un domaine clé - et c'est le cœur du problème - où le SPD n'a pas évolué ou si peu : les questions de défense. Elles demeurent ainsi très largement absentes du programme d'un parti, qui est encore dominé par une ligne, qui continue de flirter avec l'antimilitarisme. Comment mettre l'accent sur une continuité rassurante lorsque l'Histoire frappe lourdement à la porte et exige plus de ruptures que de continuité, surtout sur les questions de géopolitique ?

En 1991, la peur d'une Allemagne trop forte était largement dépassée, anachronique même. Qu'y avait-il vraiment à craindre de l'Allemagne, à l'heure où, "l'Amérique hyperpuissance", pour reprendre la formule d'Hubert Védrine, dominait le monde ? En 2021 à l'inverse, la crainte d'une Allemagne qui continuerait d'être absente géopolitiquement, alors même qu'elle demeure une puissance incontournable sur le plan économique, est beaucoup plus fondée. De fait, il existe comme un décalage toujours plus grand, entre l'évolution de l'Allemagne et celle du monde.

Il est un domaine clé - et c'est le cœur du problème - où le SPD n'a pas évolué ou si peu : les questions de défense. 

Certes, et c'est peut-être l'essentiel, l'Allemagne continue d'être sur le plan des valeurs, politiquement rassurante. Le parti d'extrême droite, l'AFD, ne fait guère plus, selon les derniers sondages, que 10 % des intentions de votes. Ce qui est moins de la moitié des voix attribuées au Rassemblement national en France. Mais comment "réveiller l'Europe" à ses responsabilités géopolitiques face à la Chine et à la Russie, - et ce dans un contexte nouveau dominé par l'absence de l'Amérique - lorsque le parti qui s'apprête peut-être à accéder au pouvoir dans le plus important pays d'Europe, demeure figé dans une logique et un discours largement antimilitariste ?

 

Servitude volontaire

 

La Grande-Bretagne a quitté l'Union attirée par les mirages d'un projet "Global Britain" qui a montré toute sa vacuité au lendemain du retrait américain de Kaboul. L'Italie, derrière Mario Draghi, surprend heureusement ses détracteurs traditionnels, comme ses amis fidèles. Mais quel que soit son dynamisme, son énergie, elle ne saurait se substituer sur le plan géopolitique à l'Allemagne. Reste bien sûr la France, avant les élections d'avril 2022. À en croire les sondages, Emmanuel Macron fait la course en tête. Mais la vérité d'aujourd'hui n'est pas nécessairement celle de demain.

Ce qui est certain, c'est que plus que jamais, la France a besoin à ses côtés d'une Allemagne forte qui ait intégré dans ses choix et son comportement les changements radicaux qui sont en train de se produire sur l'échiquier du monde. Ne nous y trompons pas, l'alternative à une Europe forte et lucide, c'est une Europe qui, victime de ses incertitudes et de ses divisions, prendrait le chemin d'une servitude volontaire. C'est aussi cela l'enjeu des élections allemandes du 26 Septembre.

 

Dominique Moïsi est un politologue et géopoliticien français. Il rejoint l'Institut en septembre 2016 comme conseiller spécial, notamment afin d'accompagner le développement de sa stratégie internationale.

Membre fondateur de l’Institut français des relations internationales (Ifri) en 1979, il en a été le directeur adjoint puis conseiller spécial. Actuellement professeur au King’s College à Londres, il a enseigné à l'université d’Harvard, au Collège d'Europe, à l'École nationale d'administration, à l'École des hautes études en sciences sociales ainsi qu’à l'Institut d'études politiques de Paris. Chroniqueur aux Echos et à Ouest France, il publie également des articles dans le Financial Times, le New York Times, Die Welt et d'autres quotidiens. Il est membre de la Commission Trilatérale.

Il est diplômé de Sciences Po Paris et d'Harvard, il obtient un doctorat en Sorbonne sous la direction de Raymond Aron, dont il a été l’assistant.

sábado, 6 de fevereiro de 2021

Lista de trabalhos sobre Mercosul, União Europeia e integração, 1987-2020 - Paulo Roberto de Almeida

Lista de trabalhos sobre Mercosul, União Europeia e integração, 1987-2020

 

 

Paulo Roberto de Almeida

(www.pralmeida.orghttp://diplomatizzando.blogspot.com)

 [Objetivo: listar trabalhos temáticos; finalidade: relação em 31/01/2021]

 

 

Lista anterior: 

3658. “Seleção de trabalhos sobre o Mercosul e a integração regional”, Brasília, 1 maio 2020, 25 p. Compilação parcial efetuada em 01/05/2020, com base na lista geral de trabalhos originais; novembro de 1989 a dezembro de 2019. Divulgado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/05/trabalhos-sobre-o-mercosul-e-integracao.html). Disponível na plataforma Academia.edu (https://www.academia.edu/42906163/Selecao_de_trabalhos_sobre_o_Mercosul_e_a_integracao_regional_-_PRA_1989-2019_).

 

Livros:

O Mercosul e o regionalismo latino-americano: ensaios selecionados, 1989-2020, Edição Kindle, 453 p.; 1567 KB; ASIN: B08BNHJRQ4; ISBN: 978-65-00-05970-0; disponível neste link da Amazon: https://www.amazon.com/Mercosul-regionalismo-latino-americano-selecionados-Portuguese-ebook/dp/B08BNHJRQ4/ref=sr_1_1?dchild=1&keywords=Mercosul&qid=1593305045&s=digital-text&sr=1-1); Sumário e Prefácio e índice detalhado divulgados no blog Diplomatizzando (23/06/2020; links: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/06/o-mercosul-e-o-regionalismo-latino.html) e https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/06/o-mercosul-e-o-regionalismo-latino_23.html)Relação de Originais n. 3702.

 

A ordem econômica mundial e a América Latina: ensaios sobre dois séculos de história econômica, Brasília, 1 julho 2020, 308 p. Livro com textos de história econômica. Sumário no blog Diplomatizzando (link: https://www.academia.edu/43494964/A_ordem_economica_mundial_e_a_America_Latina_ensaios_sobre_dois_seculos_de_historia_economica_2020_). Publicado em Edição Kindle, 363 p.; 2029 KB; ASIN: B08CCFDVM2; ISBN: 978-65-00-05967-0; disponível neste link da Amazon: https://www.amazon.com.br/ordem-econ%C3%B4mica-mundial-Am%C3%A9rica-Latina-ebook/dp/B08CCFDVM2/ref=sr_1_1?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&crid=I6QXH0T8I6L4&dchild=1&keywords=paulo+roberto+de+almeida&qid=1593992634&s=digital-text&sprefix=Paulo+Rob%2Caps%2C288&sr=1-1). Relação de Originais n. 3706.

 

- Integração Regional: uma introdução (São Paulo: Saraiva, 2013, 174 p.; ISBN: 978-85-02-19963-7; Academia.edu: https://www.academia.edu/5550117/19_Integra%C3%A7%C3%A3o_Regional_uma_introdu%C3%A7%C3%A3o_2013_).

 

- Le Mercosud: un marché commun pour l’Amérique du Sud, Paris: L’Harmattan, 2000, 160 p.; ISBN: 2-7384-9350-5; Academia.edu: https://www.academia.edu/5546907/07_Le_Mercosud_un_march%C3%A9_commun_pour_l_Am%C3%A9rique_du_Sud_2000_). 

 

- Mercosul: Fundamentos e Perspectivas (São Paulo: Editora LTr, 1998, 160 p.; ISBN: 85-7322-548-3; Academia.edu: https://www.academia.edu/42290608/Mercosul_fundamentos_e_perspectivas_1998_ )

 

- O Mercosul no contexto regional e internacional (São Paulo: Edições Aduaneiras, 1993, 204 p.; ISBN: 85-7129-098-9; Brasília, 23 março 2020, 143 p. Reformatação completa do livro para fins de livre acesso nas redes de intercâmbio acadêmico. Divulgado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/03/mercosul-fundamentos-e-perspectivas.html); Academia.edu: https://www.academia.edu/42007009/O_Mercosul_no_Contexto_Regional_e_Internacional_1993_).

 

Livros de terceiros: 

 

Araújo, Ricardo Guerra de: O jogo estratégico nas negociações Mercosul-União Europeia (Brasília: Funag, 2018, 385 p.; ISBN: 978-85-7631-759-3; Curso de Altos Estudos; disponível na Biblioteca Digital da Funag).

 

Artigos, papers, entrevistas, questionários:

 

3728. “O Brasil e os projetos de integração regional: passado, presente e futuro”, Brasília, 5 agosto 2020, 27 p. Contribuição ao 18 Congresso Brasileiro de Direito Internacional (no dia 27/08, 19h30) e à publicação decorrente: Boletim da Sociedade Brasileira de Direito InternacionalTexto pessoal divulgado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/08/o-brasil-e-os-projetos-de-integracao.html) e nas plataformas Research Gate (link: https://www.researchgate.net/publication/343808733_O_Brasil_e_os_projetos_de_integracao_regional_passado_presente_e_futuro) e Academia.edu (link: https://www.academia.edu/43917653/O_Brasil_e_os_projetos_de_integracao_regional_passado_presente_e_futuro). Palestra (link: https://streamyard.com/6bc92sr4sg ).

 

3651. “Sobre a situação do Mercosul em 2020”, Brasília, 25 abril 2020, 4 p. Comentários, nas ferramentas de comunicação social, sobre uma alegada saída da Argentina do Mercosul. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/04/sobre-uma-suposta-e-inexistente-nunca.html).

 

3267. “Regional integration in Latin America: an historical essay”, Brasília, 13 abril 2018, 2 p. Revisão do trabalho 3043/2016, “Regional integration in Latin America: historical developments, current challenges, especially in Mercosur”. Publicado, sob o título original, em Meridiano 47 (Brasília: IRel-UnB, vol. 19, 2018; ISSN: 1518-1219; DOI: http://dx.doi.org/10.20889/M47e19015; link para o artigo: http://periodicos.unb.br/index.php/MED/article/view/M47e19015; link em pdf: http://periodicos.unb.br/index.php/MED/article/view/M47e19015/20731). Available in Academia.edu (link: http://www.academia.edu/36527913/Regional_integration_in_Latin_America_historical_developments_current_challenges_especially_in_Mercosur). Divulgado no Diplomatizzando (https://diplomatizzando.blogspot.com.br/2018/04/regional-integration-in-latam-case-of.html) e no Facebook (link: https://www.facebook.com/paulobooks/posts/1896939273702847). Integrado à base de dados de Social Sciences Research Network (29/05/2018; link: http://ssrn.com/abstract=3182150). Relação de publicados n. 1279. 

 

(...)

 

215. “A Integração Sub-regional e as Relações MERCOSUL-CEE”, Montevidéu, 3 novembro 1991, 5 p. Projeto de Termos de Referência para servir de base a estudo a ser elaborado por Consultor da CEE (Paolo Cecchini), sobre as consequências e potencialidades do Mercosul para as relações com a CEE. Feita versão em francês (Encaminhado à Representação junto a CEE (Bruxelas). Revisto com base em observações do Emb. Jório Dauster em 7 de dezembro de 1991 (7 p.); Anexo: Plano de Trabalho sobre o tema.

 

186. “Europa e América Latina no rumo da Integração: Desafios do Presente, Promessas do Futuro”, Montevidéu, 29 junho 1990, 16 p. Texto de conferência sobre problemas da Europa e América Latina em perspectiva, preparado para o ex-Presidente José Sarney. Apresentado, em versão modificada, em seminário do IRELA, em Buenos Aires, em 6/07/1990. 

 

154. “Europe-Amérique Latine: de l’Intégration Individuelle à la Coopération Commune”, Genebra, 30-31 janeiro 1988, 10 p. Artigo sobre as relações internacionais da Europa e da América Latina e sobre a crise do desenvolvimento latino-americano. Preparado, com base no trabalho n. 084, para o IVème Colloque Amérique Latine-Europe, Milão, 4-6/02/88. Não apresentado.

 

151. “Europa e América Latina no Limiar do Ano 2000: a Dimensão Leste-Oeste”, Genebra, 15 setembro 1987, 4 p. Considerações sobre uma relação assimétrica e sobre os principais eixos de política internacional em cada continente.

 

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 31/01/2021

Postado na plataforma Academia.edu (link:https://www.academia.edu/45068630/Trabalhos_PRAlmeida_sobre_Mercosul_Uniao_Europeia_e_integracao_1987_2020); anunciado no blog Diplomatizzando (link: ).

 

VER A LISTA COMPLETA AQUI:

 Postado na plataforma Academia.edu; link: 

https://www.academia.edu/45068630/Trabalhos_PRAlmeida_sobre_Mercosul_Uniao_Europeia_e_integracao_1987_2020