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sábado, 15 de julho de 2017

Academicos gramscianos continuam com as velhas ilusoes "brics-ianas": relato em Carta Capital


Três típicos acadêmicos gramscianos criticam, no costumeiro estilo dessa tribo e no pasquim costumeiro da comunidade, a atual política externa do Brasil, a partir de um "fórum acadêmico" sobre o Brics, realizado recentemente na China
Vindo dessa categoria de analistas, não se poderia mesmo esperar outra coisa, senão uma pauta totalmente comprometida com a anterior  "política externa ativa e altiva", que tanto encantou a tribo dos convertidos. 
Como eles partem do suposto de que o governo atual é "golpista" , eles condenam igualmente a política externa, pois seu ponto de partida é a diplomacia anterior, e tudo o que discordar dos antigos pressupostos é ipso facto golpista, equivocado, caudatário do império, e todos os demais defeitos que ideólogos do lulopetismo diplomático podem encontrar em qualquer diplomacia que não esteja alinhada com suas escolhas políticas peculiares.
Eles acham que o Brics deveria ser tão importante no governo atual quanto o foi no anterior, que aliás criou o grupo, quase que totalmente dominado pela China, um país que, como se sabe é um grande defensor da democracia e dos direitos humanos. Os três não admitem que o governo atual possa ter qualquer atitude de retraimento em relação a um grupo que possui a peculiaridade de ter sido escolhido não por vontade dos quatro países originais, mas por uma sugestão específica de um economista de um banco de investimento pensando unicamente, exclusivamente, em maiores retornos de mercado para investimentos financeiros do grande capital multinacional.
Para eles não existe nenhuma contradição nesse fato, como tampouco  nenhuma estranheza em proclamar que a intenção manifesta desse grupo é a convergência entre esses países para facilitar o "reordenamento do poder mundial". 
Falta aos acadêmicos gramscianos uma reflexão ponderada sobre o significado do grupo em termos de  modernização econômica e social, com respeito aos direitos humanos, democracia e liberdades econômicas de cada um dos países, uma vez que suas convicções políticas não alcançam esses aspectos, mas permanecem num jogo de soma zero de um ilusório "poder mundial". 
Não espero converter nenhum dos três gramscianos a outras convicções, pois as deles já são arraigadas, e se manifestam em frases tão simplistas, redutoras, no limite idiotas, como a que eles repetem como um mantra: o atual governo estaria comprometido com um "alinhamento submisso aos poderes centrais". 
Eles provavelmente preferem que um governo "progressista" como o que eles defendem -- aquele mesmo que provou a Grande Destruição econômica, e lançou o Brasil no descrédito mundial ao produzir, deliberadamente, o MAIOR ESQUEMA DE CORRUPÇÃO já visto no mundo -- acompanhe outros "anti-hegemônicos" numa espécie de "alinhamento ativo com poderes periféricos". Esse é o desejo dos três gramscianos que escrevem o que transcrevo abaixo.
Como sempre, meu blog está aberto a todo tipo de reflexão, de preferência as mais inteligentes, mas mesmo argumentos idiotas, como os que figuram abaixo, merecem transcrição, numa prova de quão débil mentalmente é a nossa academia, quão simplistas podem ser esses acadêmicas, quão alinhados ideologicamente podem ser os gramscianos, quão coniventes com uma organização criminosa e um governo corrupto eles podem ser.
Paulo Roberto de Almeida  
Brasília, 15 de julho de 2017
 

Relações Internacionais

Fórum Acadêmico dos BRICS e os (des)caminhos da diplomacia brasileira

por Grupo de Reflexão sobre Relações Internacionais (GR-RI) — Carta Capital, 14/07/2017; link: https://www.cartacapital.com.br/blogs/blog-do-grri/o-forum-academico-do-brics-e-os-des-caminhos-da-diplomacia-brasileira
Brasil teve participação pífia, condizente como o momento atual do país e sinalizou que os BRICS não são prioridade
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Wikimedia Commons
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Temer ao lado dos líderes dos BRICs em cúpula do G-20 em 2016. No Fórum Acadêmico deste ano, porém, participação comprovou que grupo não é prioridade
Por Renata Boulos, Diego Pautasso e Cláudio Puty*
Ocorreu em Fuzhou, na China, entre os dias 10 e 12 de junho de 2017, o 9º Fórum Acadêmico dos BRICS com o tema “Pooling Wisdom and New Ideas for Cooperation”. O Fórum reúne organizações da sociedade civil, think tanks e partidos políticos e costuma preceder a Cúpula dos BRICS no país anfitrião.
Quatrocentas pessoas formaram o público principal do evento, composto por membros dos governos dos cinco países (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), países visitantes (como Filipinas e Argentina, por exemplo), instituições acadêmicas, organizações da sociedade civil e partidos políticos.
O encontro teve grande importância para a China, pois é um dos principais fóruns onde a paradiplomacia ocupa lugar central e tem sido um espaço de consolidação dos BRICS para além dos chefes de estado.  
O Brasil teve uma participação pífia, condizente como o momento atual do país e mais uma vez sinalizou que os BRICS não são prioridade para o atual governo. O think tank brasileiro, IPEA (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas), sequer se fez comparecer porque a direção do órgão simplesmente não liberou as passagens dos pesquisadores. 
A Presidência da República e o Itamaraty mandaram representantes do terceiro escalão, que não expressaram qualquer diretriz da política externa brasileira, tampouco nossa estratégia para o agrupamento BRICS. Imaginamos que esboçá-las deva ser uma tarefa árdua, à medida que sabemos que malta temerosa hoje ocupando o Palácio do Planalto não constitua propriamente um governo.    
Talvez por conta disso, a articulação entre os membros do governo brasileiro e integrantes da sociedade civil, think tanks e partidos políticos tenha sido praticamente nula, como se fôssemos membros de países distintos. Causa espécie a falta de entendimento do papel do BRICS como mecanismo de articulação de países emergentes, cujo papel no reordenamento do poder mundial é irrefreável.
Especificamente neste Fórum - que representa um espaço para estratégias de cooperação entre buscando mecanismos de convergência de diversos setores da sociedade -  a ausência do governo diz muito, e foi notada por russos, chineses e sul-africanos, que, por sinal, enviaram delegações de alto nível.
Esse evento refletiu o quadro mais abrangente de (des)caminho da política externa brasileira, evidente desde o início do governo surgido do golpe. A outrora diplomacia acusada de ‘politizada’, agora conduzida pelo PSDB de José Serra e Aloysio Nunes produz constrangimentos em série e é digna de uma República de Bananas, não de um país da importância do Brasil.
Recordemos.  A nova direção do Itamaraty inaugurou sua gestão disparando baterias contra os países vizinhos e fechando embaixadas na África e no Caribe. Agora segue com a ridícula obsessão por ingressar na anacrônica OCDE e promove operações militares com o exército americano em plena Amazônia brasileira.
Enquanto isso, as instituições voltadas à política externa soberana e autônoma, como a UNASUL, Mercosul, CELAC, a política africana brasileira e os BRICS praticamente saíram da agenda internacional. A resposta infantil à crítica de órgãos internacionais de direitos humanos (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos e pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos) sobre o ‘uso recorrente de violência’ contra manifestantes na Cracolândia em São Paulo refletem o caráter do atual governo.
E não para por aí. Recentemente, o Brasil decidiu reduzir drasticamente sua participação no Banco de Investimento em Infraestrutura Asiático (AIIB, na sigla em inglês), encabeçado pela China e do qual o Brasil é membro fundador, ficando com 50 ações ao invés das 32 mil ações inicialmente acordadas.
Não tivemos sequer participação no Fórum do grande plano de infraestrutura da China para o mundo: o  “Belt and Road Initiative” quando até nossos vizinhos argentinos e chilenos se fizeram presentes.  Finalmente, o ápice dessa festa funesta e aziaga é a série inacreditável de gafes cometidas por Michel Temer em suas visitas internacionais.
Entre os dias 3 e 5 de setembro, ocorrerá a 9ª Cúpula de Chefes de Estado do BRICS em Xiamen, província de Fujian (China), com tema "BRICS: parceria mais forte para um futuro mais brilhante". Enquanto isso, o Brasil parece incapaz de formatar um projeto de inserção internacional para além de recuperar um alinhamento submisso aos países centrais – incluindo aí uma atuação voltada a aprofundar a crise venezuelana.  
Mais que lapsos, não ter projeto é o próprio projeto deste governo ilegítimo, impopular, envolvidos em malversações múltiplas, cuja única função é desmontar não somente o ciclo de políticas consagradas no período Lula-Dilma, mas inclusive conquistas oriundas da Constituição de 1988 e mesmo da Era Vargas. O governo Temer é a cara das nossas elites.
*Renata Boulos é mestre em relações internacionais (Universidade de Essesx) e sócia-diretora do INCIDE – Instituto de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento. Integrante do Grupo de Reflexão sobre Relações Internacionais/GR-RI
Diego Pautasso é doutor em Ciência Política (UFRGS) e professor de Relações Internacionais da UNISINOS
Cláudio Puty é Ph.D. em economia (New School for Social Reserch), professor da UFPA e professor visitante da University of International Business and Economics/Pequim

domingo, 6 de novembro de 2016

Falacias academicas: ensaios sobre alguns mitos persistentes (draft book, 2010) - Paulo Roberto de Almeida

No decorrer da década passada, quando eu ainda colaborava com uma revista eletrônica tipicamente acadêmica (com tudo o que isso representa do que cada um pode imaginar), eu encontrava dezenas de exemplos de argumentos factualmente errados, ou seja, sem base empírica, tantos outros artigos sem qualquer consistência histórica, sem coerência lógica, para não dizer equivocados, no meio de um oceano de conceitos vagos, mas sempre recheados por aqueles inevitáveis: classes sociais, burguesia, dominação, hegemonia, imperialismo, exploração, neoliberal, financeirização, inclusão social, espaços de políticas públicas, e por aí vai.
Atraído por essa extraordinária falta de precisão (sendo generoso), comecei a redigir uma série a que dei o nome de
Falácias Acadêmicas
para bem especificar do que eu estava falando.
Escrevi mais de uma dezena delas, ao sabor do momento, sempre provocado por uma dessas falácias que eu encontrava em minhas leituras.
Acho que já confessei -- mas talvez não devesse -- que tenho alergia à burrice.
Não a dos ignorantes legítimos, claro, daqueles que nunca tiveram oportunidade de estudar, por falta de meios, condição social, essas coisas tristes que acontecem na vida daqueles que alguns chamam, até depreciativamente, de classes subalternas, e que os marquetólogos colocam nas categorias D e E (e que os companheiros pensavam ascender à classe C, com os resultados que se sabe).
Eu me refiro à ignorância deliberada daqueles bem informados, e de todos aqueles que dispõem de todos os meios para se informar corretamente, mas que ainda assim insistem em se colocar do lado da burrice, quando não da estupidez.
Isso é mais comum do que se pensa, sobretudo nos meios acadêmicos.
Foi por isso que comecei a escrever a minha série.
Quando deixei de colaborar com a revista em questão -- acho que me excluiram, pois eu andava contestando demais certos colegas, incomodando, enfim -- reuni todas as minhas "falácias" (na verdade as deles) e fiz uma postagem em meu antigo site, que ainda é o mesmo -- pralmeida.org -- mas com outro provedor, contendo todas as publicadas, linkando-as devidamente ao original.
Depois resolvi compor um livro, revisando cada uma, reescrevendo, preparando prefácio e posfácio. Juntei tudo, organizei, e me preparei para reescrever e completar.
Devido ao acúmulo de trabalhos, nunca empreendi tal obra, que ficou parada nos últimos seis anos.
Como não faz mais sentido retomar as "velhas" falácias, e sim cabe falar das novas, inclusive porque os companheiros já se foram e deixaram vasto material para compor novas e revisar as velhas, resolvi divulgar em formato de rascunho de livro (draft book) esses velhos textos, e deixar tudo para a crítica roedora dos ratos, como já disse alguém.
Aqui o titulo do livro e seu respectivo link:
Falácias Acadêmicas: ensaios sobre alguns mitos persistentes
(http://www.academia.edu/29701444/Falacias_Academicas_ensaios_sobre_alguns_mitos_persistentes_draft_book_2010_)
Aqui abaixo a série original (com links que podem ou não funcionar) e os projetos de outras falácias que nunca foram escritas.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 6 de novembro de 2016

Falácias acadêmicas: a série
(ensaios publicados e sugestões futuras)
Paulo Roberto de Almeida
(www.pralmeida.org)
Atualizado em 21 de Agosto de 2011; revisto em 10/05/2013

Lista dos ensaios já elaborados e publicados: (Em preparação)

16) Falácias acadêmicas, 16: ???? (surprise...).

15) Falácias acadêmicas, 15: o modo repetitivo de produção do marxismo vulgar no Brasil, Brasília, 26 junho 2011, 15 p. Discussão das mistificações cometidas contra o marxismo pelos repetidores de slogans superficiais. Espaço Acadêmico (ano 11, n. 122, julho 2011, p. 111-122). Relação de Publicados n. 1040. 

14) Falácias acadêmicas, 14: o mito do colonialismo como causador de subdesenvolvimento, Shanghai, 9 maio 2010, 19 p. Continuidade da série, abordando o fenômeno do colonialismo como indutor de progresso e avanços materiais (e até sociais) nas sociedades dominadas. Relação de Originais n. 2140. Espaço Acadêmico (vol. 10, n. 109, junho 2010, p. 12-26). Relação de publicados n. 972.
[O livro composto em 2010 só integra os textos abaixo, faltando os dois de cima]
13) Falácias acadêmicas, 13: o mito do socialismo de mercado na China, Brasília, 17 setembro 2009, 12 p. Continuidade do exercício serial, com abordagem  da experiência chinesa em matéria de transição renovada ao capitalismo. Espaço Acadêmico (ano 9, n. 101, outubro 2009; ISSN 1519-6186, p. 41-50).
12) Falácias acadêmicas, 12: o mito da exploração capitalista, Brasília, 26 agosto 2009, 11 p. Continuidade do exercício serial, contestando o caráter nocivo da exploração, tanto do homem pelo homem, quanto das sociedades pobres pelas ricas. Espaço Acadêmico (ano 9, n. 100, setembro 2009, p. 142-150).
11) Falácias Acadêmicas 11: o mito da transição do capitalismo ao socialismo, Brasília, 26 julho 2009, 20 p. Continuidade do exercício serial, com estudo sobre o processo de transição do socialismo ao capitalismo, com base nas experiências chinesa e soviética, aproveitando o trabalho 158.
10) Falácias acadêmicas, 10: mitos sobre o sistema monetário internacional, Brasília, 23 junho 2009, 9 p. Décimo artigo da série especial, sobre a fragilidade das recomendações pretensamente keynesianas a partir da crise econômica internacional. Espaço Acadêmico (vol. 9, n. 98, julho 2009, p. 15-21). 2019.
9) Falácias acadêmicas, 9: o mito do socialismo do século 21, Brasília, 24 maio 2009, 17 p. Nono artigo da série especial, desta vez sobre as loucuras econômicas de certos conselheiros do príncipe. Espaço Acadêmico (vol. 9, n. 97, junho 2009, p. 12-24). 2009.
8) Falácias acadêmicas, 8: os mitos da utopia marxista, Brasília, 3 maio 2009, 15 p. Continuidade da série proposta, enfocando os principais equívocos do pensamento marxista nos campos do materialismo histórico e da análise econômica. Espaço Acadêmico (n. 96, maio 2009; arquivo em pdf). 2002.
7) Falácias acadêmicas, 7: os mitos em torno do movimento militar de 1964, Brasília-Rio de Janeiro, 20 março 2009, 23 p. Continuidade do exercício, tocando no maniqueísmo construído em torno do golpe ou da revolução de 1964, condenando a historiografia simplista que converteu-se em referência nos manuais didáticos e paradidáticos. Espaço Acadêmico (n. 95, abril 2009); Espaço da Sophia (n. 26, maio 2009). 1990
6) Falácias acadêmicas, 6: o mito da Revolução Cubana, Brasília, 1 de março de 2009, 17 p. Continuidade do exercício, tocando nos problemas do socialismo em Cuba. Espaço Acadêmico (n. 94, março 2009; arquivo em pdf). 1986.
5) Falácias acadêmicas, 5: o mito do complô dos países ricos contra o desenvolvimento dos países pobres, Brasília, 21 janeiro 2009, 11 p. Continuação da série, tratando desta vez das teses do economista Ha-Joon Chang. Espaço Acadêmico (n. 93, fevereiro 2009; arquivo em pdf); 197
4) Falácias acadêmicas, 4: o mito do Estado corretor dos desequilíbrios de Mercado, Brasília, 15 novembro 2008, 12 p. Da série programada, com críticas a economistas keynesianos. Espaço Acadêmico (n. 91, dezembro 2008; arquivo em pdf); 195
3) Falácias acadêmicas, 3: o mito do marco teórico, Buenos Aires-Brasília, 30 setembro 2008, 6 p. Da série programada, com algumas criticas a filósofos famosos. Espaço Acadêmico(n. 89, outubro 2008; arquivo em pdf); 1931
2) Falácias acadêmicas, 2: o mito do Consenso de Washington, Brasília, 3 setembro 2008, 16 p. Considerações em torno dos equívocos conceituais, históricos e empíricos de setores acadêmicos com respeito ao CW. Espaço Acadêmico (n. 88, setembro 2008; arquivo em pdf); 1922.
1) Falácias acadêmicas, 1: o mito do neoliberalismo, Brasília, 26 julho 2008, 9 p. Considerações em torno de equívocos conceituais, históricos e empíricos de acadêmico selecionado para avaliação crítica. Espaço Acadêmico (n. 87, agosto 2008; arquivo em pdf); 1912.

Proposta parcial de temas para ensaios a serem elaborados gradualmente:
(sem nenhuma ordem específica programada)

O mito da especulação
O mito da deterioração dos termos do intercâmbio
O mito do desenvolvimentismo
O mito da mão invisível do mercado
O mito da mão visível do Estado
O mito da volatilidade financeira
O mito da concentração capitalista
O mito das crises terminais do capitalismo
O mito da reforma agrária
O mito do distributivismo
O mito do igualitarismo
O mito da justiça social
O mito do freudismo
O mito da objetividade acadêmica
Uma teoria das falácias acadêmicas
(sugestões são sempre bem-vindas...)

Primeira elaboração desta lista de sugestões: 
Buenos Aires, 30.09.2008

sábado, 6 de agosto de 2016

O golpe de 1964 e os academicos de 2013: persistem os maniqueísmos - Paulo Roberto de Almeida


O golpe de 1964 e os acadêmicos de 2013: persistem os maniqueísmos

Paulo Roberto de Almeida

Leio, num dos trabalhos apresentados no VI ENABED, Sexto Encontro Nacional da Associação dos Estudos de Defesa (2013), esta frase, emblemática do pensamento de acadêmicos atuais, sobre o golpe de 1964:
As novas gerações de oficiais ainda são formadas com a ideia de que o golpe de 1964 foi um bem para o país! Nada mais revelador da subordinação da sociedade ao falso e vão orgulho corporativo. A grandeza está no reconhecimento da verdade, não em sua obtusa negação. Esse passo é fundamental para que as corporações [militares] se abram efetivamente ao diálogo amplo com a sociedade.

A razão desse texto encontra-se num parágrafo anterior, no qual o mesmo acadêmico diz o seguinte:
Muitos brasileiros concordam que é premente a necessidade de equipar as corporações militares em consonância com as aspirações do Estado brasileiro no que diz respeito à presença no cenário internacional. (...) Mas é intrigante o silêncio quanto a algo fundamental para a legitimação das instituições militares: o pedido de desculpas pelos crimes praticados contra comunistas, patriotas e democratas durante a sangrenta ditadura militar.

O autor acredita que:
Esse assunto é tabu até em certos ambientes acadêmicos, pretensamente mais livres para a expressão do pensamento. (...) A simples menção de fatos do passado recente é tida como provocação desajuizada. O fato de mencionar que brasileiros... foram torturado em estabelecimentos militares é tido como 'revanchismo de derrotado'. Ora, os derrotados não foram os que lutaram contra a ditadura, mas os que a sustentaram!

Meu comentário a partir do que li. O autor parece acreditar que o golpe de 1964 foi um mal para o país, ou pelo menos para pessoas como ele, que se opuseram ao golpe e foram provavelmente submetidas a tratamento rigoroso por parte da repressão policial e militar, eventualmente tortura. Esse fato, essa realidade, a da repressão e da tortura, são o resultado de um desenvolvimento ulterior do movimento militar que derrubou o governo Goulart que não estava necessariamente inscrito na lógica do “golpe” enquanto tal, ou seja, o ato de derrubada de um governo e a instalação de um governo autoritário, que pretendia corrigir certas “mazelas” do sistema político brasileiro, para depois tentar voltar à “normalidade”, isto é, um regime democrático civil, mas expurgado daqueles “elementos subversivos” que os militares identificavam como responsáveis pela deterioração da governança sob o regime Goulart.
O autor fala de “crimes praticados contra comunistas, patriotas e democratas durante a sangrenta ditadura militar”, mas esquece de mencionar que esses crimes foram perpetrados depois que a esquerda armada deu início a uma ofensiva contra o regime e o governo, num projeto de luta pelo socialismo no Brasil. Em outros termos: esses “crimes” teriam ocorrido se a oposição política ao regime e ao governo fosse apenas limitada ao terreno político civil, sem as tentativas de guerra de guerrilhas, urbana ou camponesa? Ele também esquece que o golpe não foi dado por uma motivação de seus principais atores no sentido de instaurarem um regime de exceção, autoritário, ou de imediato comprometido com a eliminação física de seus oponentes. Esses traços da ditadura militar são uma consequência ulterior de um longo processo político que viu o governo Goulart entrar em virtual colapso, no plano do parlamento e dos movimentos civis, quando forças aparentemente majoritárias na sociedade pressionam os militares para intervir mais uma vez no cenário político, que vivia praticamente em colapso nos momentos finais desse governo.
Com todos os equívocos de julgamento sobre o “golpe de 1964”, o autor em questão representa uma communis opinio de grande parte, senão da maioria, da comunidade acadêmica brasileira, que parece desempenhar o papel dos historiadores jacobinos da revolução francesa, ou seja, uma visão comprometida com uma versão peculiar da história, feita mais de ideologia do que de exposição objetiva dos fatos.
A trajetória do Brasil sob o regime militar merece uma avaliação menos passional e mais equilibrada de uma deterioração política que deve tanto à esquerda armada quanto à direita radical o fato de ter enveredado por caminhos tortuosos e desenvolvimentos dramáticos, que provavelmente não teriam ocorrido caso a oposição, a resistência e a luta contra a ditadura tivesse assumido formas essencialmente políticas, ou seja pacíficas, de expressão.
Vou escrever a respeito, aliás já estou escrevendo. Divulgarei no momento oportuno.

Paulo Roberto de Almeida 
Brasília, 6 de agosto de 2016

segunda-feira, 25 de abril de 2016

Bases da dominancia ideologica do lulopetismo - Paulo Roberto de Almeida

Bases ideológicas da dominância política do lulopetismo

Paulo Roberto de Almeida

A dominância política do lulopetismo na sociedade brasileira, que é ou foi um fato, baseia-se em dois pilares, para além de resultados eleitorais favoráveis que, justamente, refletem esses dois fatos: a crença nas virtudes proclamadas pelo lulopetismo na resolução de alguns dos grandes problemas da sociedade brasileira (pobreza, desemprego, carências reais em matéria de saúde, educação, segurança, habitação, renda, etc.), e a contínua publicidade em torno dessas virtudes das políticas propostas pelos lulopetistas para equacionar e resolver esses problemas, bem como na atribuição de responsabilidades por uma situação negativa a supostos "inimigos do povo", que seriam políticos e partidos não identificados com, ou opostos às políticas e propostas dos lulopetistas, ou a fatores objetivos que poderiam ser vencidos por eles: as elites, o capitalismo, o imperialismo, os ricos, os donos de terra, a "grande mídia", o neoliberalismo, e por aí vai. 
Para que tenha sucesso, essa "estratégia" tem de vir embasada em duas outras "forças" que podem ser criadas ou alimentadas por quem tenha condições de fazê-lo: por um lado, poderosas crenças sociais nas virtudes daquelas políticas "boas" e naquela concepção do mundo que sustenta essas crenças; por outro lado, uma publicidade, ou propaganda poderosa que reforce essas crenças, que, independentemente de estarem certas ou erradas, precisam de meios materiais para se manter, para se multiplicar, para penetrar meios sociais cada vez mais amplos. 
O lulopetismo teve a seu favor, para ser bem sucedido na primeira linha, crenças já existentes na sociedade, criadas por essa categoria que eu chamo de acadêmicos gramscianos -- não precisa ler ou conhecer Gramsci, basta atuar no universo conceitual que ele elaborou -- e continuamente reiteradas pela estrutura de ensino, nos três níveis de educação abertos à população em geral. Essa foi a primeira condição e a razão do "sucesso" eleitoral do lulopetismo.
A outra perna, a da publicidade, necessita de poderosos recursos, para criar ou alimentar um poderoso exército de propagandistas das "boas causas", e de ataque sistemático aos "inimigos" das boas causas. Para isso é preciso largas somas de dinheiro, e é a isso que a máquina partidária do lulopetismo se dedicou desde o início, antes mesmo de conquistar o poder central na República. Conquistado esse poder, em 2003, tudo se tornou mais fácil: a máquina de publicidade do lulopetismo passou a dispor de quase todos os recursos do Estado, de somas fabulosas, de possibilidades gigantescas, disponíveis não só no Estado, mas também fora dele, junto a grandes capitalistas desejosos ou necessitados de contratar com o Estado, para obras de grande valor unitário, geralmente empreiteiras e construtoras, mas também banqueiros e grandes redes, que podem ser "seduzidos" ou convenientemente extorquidos.
Ambas políticas possuem o seu lado normal, digamos assim, como "doações eleitorais", por exemplo, mas também o seu lado obscuro, criminoso, que são os superfaturamentos planejados, sobrepreços, contratos fictícios, subsídios legais ou disfarçados, ou até roubos deliberados.
O PT e o lulopetismo (que se completam, mas não são exatamente a mesma coisa) usaram e usam, largamente, abundantemente, regularmente, sistematicamente, legalmente e criminosamente, dos dois expedientes para criar, manter, defender e ampliar o seu poder sobre a sociedade, a começar pelo seu próprio domínio sobre o Estado, lotando a máquina pública de militantes obedientes, comprando (literalmente) ou subornando parlamentares e mesmo máquinas partidárias inteiras, designando juízes amigos para os tribunais superiores, e sobretudo criando e multiplicando as redes sociais de divulgação de suas ideias, das crenças, da propaganda tanto correta quanto das mensagens mentirosas. 
Estas são as bases, antes durante e ainda hoje, do grande, fabuloso, poder do lulopetismo sobre a sociedade: crenças e recursos, ambos se suportando mutuamente.
Cortar os recursos, pelo menos em parte, é possível fazer, desde que se expulse, legalmente, os lulopetistas do poder. Extirpar as falsas crenças é uma tarefa muito mais difícil, pois ela radica num esforço imenso de educação e de reeducação da sociedade brasileira a partir de ideias corretas, não baseadas sobre falácias e simplismos redutores, ou falsidades deliberadas, mentiras mil vezes repetidas, para usar uma expressão consagrada. 
De minha parte, como não tenho, nem pretendo ter nenhuma atividade político-partidária, minha dedicação, sempre e no futuro previsível, se vincula à missão didática acima referida: a exposição honesta, objetiva, se possível completa, de um conjunto de argumentos de natureza política, econômica e "ideológica" (sim, a expressão é essa) sobre o mundo, sua organização, seu melhor ordenamento para fins nobres do ponto de vista social, que é a elevação dos padrões materiais e espirituais da humanidade, a começar pelo Brasil. 
Voilà: eis o sentido de minha atividade voluntária, independentemente de minha "profissão" temporária.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 25 de abril de 2016