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domingo, 17 de maio de 2020

O declínio de uma nação - Paulo Roberto de Almeida


O declínio de uma nação 

Paulo Roberto de Almeida


Existem momentos, na vida de uma nação— que podem ser simples conjunturas, ou delongar-se num inteiro processo histórico —, nos quais a quase totalidade da classe dominante (que inclui dirigentes políticos, grandes capitalistas da cidade e do campo, banqueiros, líderes de sindicatos de patrões e de empregados, magistrados, militares de alta patente, “bispos” e pastores, intelequituais) resolve embarcar na “nau dos insensatos”, parodiando Barbara Tuchman.
Aí não tem jeito: é declínio na certa, que pode ser temporário ou uma decadência de longa duração.
Vejam por exemplo a Argentina: ela decai há mais ou menos 90 anos. Agora chegou a nossa vez de decair um pouco (ou muito).
Só tem uma coisa: lá atrás, a Argentina era cinco vezes mais rica do que o Brasil e tinha 70% do PIB per capita americano; atualmente, ela só é um pouquinho mais rica do que nós, mas continua decaindo.
Chegou a nossa vez de fazer-lhe companhia no declínio.
Não fiquem muito tristes: nossos netos, ou bisnetos, vão reverter um pouco a coisa.
O país não vai acabar: só continuaremos pobres, desiguais e deseducados por mais quatro ou cinco décadas.
De quem é a culpa?
Daquela classe dominante medíocre, e dividida, mas que embarcou junta na nau dos insensatos. Na verdade, já começamos a viagem lá atrás; só paramos num porto para recolher um novo capitão, porque o anterior foi preso por roubar os mantimentos do navio. O novo prometeu consertar os estragos, mas ainda não se percebeu que se trata de um psicopata estúpido.
Por enquanto, la nave va...

Paulo Roberto de Almeida
17/05/2020

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

O que Gibbon tem a ver com o Brasil? Entramos em declínio? - Paulo Roberto de Almeida

Reflexão histórica sobre o declínio de certas sociedades (seria o caso do Brasil?)

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 24 de fevereiro de 2018
 [Objetivo: refletir sobre a decadência brasileira; finalidade: debate político]


Estou lendo, em formato Kindle, uma das versões abreviadas da imensa obra de Edward Gibbon: The Decline and Fall of the Roman Empire (edited and abridged, and with a critical Foreword by Hans-Friedrich Mueller; Introduction by Daniel J. Boorstin; illustrations by Giovanni Battista Piranesi; New York: The Modern Library, 2003). Trata-se de uma excelente edição, com uma apresentação de Daniel Boorstin, o grande historiador americano que foi “Librarian” entre os anos 1975 e 1987 — ou seja, o diretor da Library of Congress, que é uma espécie de ministro da cultura americano — e com uma introdução crítica pelo especialista em Gibbon, Hans-Friedrich Mueller, professor no Union College, em Schenectady, New York. 
Como sempre, cada vez que leio uma obra clássica, fico pensando em como, em quê, em quais condições, analógicas ou de similaridade, as opiniões e argumentos que leio nesses livros poderiam encontrar alguma aplicação nos tempos que correm, e especificamente em relação ao Brasil. Dessas leituras posso eventualmente extrair algumas ideias para a minha série de “clássicos revisitados”, que é composta por uma nova versão, ou seja, uma reescritura, da obra em questão para a nossa época, sempre quando possível aplicada ao Brasil. Já fiz isso com Marx (Manifesto), Maquiavel (O Príncipe), Benjamin Constant (De la liberté chez les Anciens...), Tocqueville (De la démocratie en Amérique), parcialmente com Sun Tzu (A Arte da Guerra), e pretendo continuar fazendo com outras “vítimas” de minhas releituras enviesadas.
Mas, o “abreviador” Hans-Friedrich Mueller termina sua erudita introdução da obra monumental do historiador inglês do século 18 notando que este não especula sobre os fatos históricos tal como efetivamente acontecidos — como diria mais tarde o alemão Ranke — e não constrói versões alternativas ao declínio e queda do império romano (do Ocidente e, 900 anos mais tarde, do Oriente). Mas ele próprio, Mueller, se permite especular se tudo não poderia ter acontecido de outra forma, a partir de sua visão de americano moderno, ou seja, não mais o súdito de um império monárquico (mas liberal democrático), como Gibbon, mas o cidadão de uma república imperial (e certamente liberal e democrática, ainda que dominadora e arrogantemente hegemônica), como é o caso dos EUA.
Transcrevo o que escreve Muller ao final dessa introdução crítica:
After the fact, History is, to be sure, fait accompli. Gibbon did not indulge in the composition of speculative and alternative histories, but for those interested in lessons or instruction, we might nevertheless ask: ‘What if, instead of vesting all powers in the hands of an incredibly corrupt and rapacious upper class, the Roman republic had developed a voting system that allowed representation of all its citizens and dependents? Would military dictatorship have been inevitable?’ These are questions that cannot be answered. The Roman republic never overcame the corruption that set in after its armies achieved military supremacy over the Mediterranean world (the ‘entire’ world to their limited geographical horizons. The answer to the crisis of Rome’s corrupted imperial republic was military dictatorship. (…) The story of the Roman empire offers instructive lessons: oppressive taxes for the sake of a despotic military establishment, tyrannical government, religious bigotry, endless warfare, and, finally, collapse. Let us hope (and pray) that we read not a blueprint but a salutary warning in Gibbon’s immortal and pleasurably instructive pages.
[final do “Critical Foreword”de Hans-Friedrich Mueller; loc 548-9 of 21896]

O caso é clássico, e pode ter acontecido o mesmo com o império britânico — ao qual pertencia Gibbon — e pode estar acontecendo agora com o próprio império americano, como pode acontecer no futuro com o atual império chinês em construção (ou reconstrução) sob o domínio dos novos mandarins comunistas.
E qual é a lição dessas possíveis trajetórias concordantes, similares ou convergentes?
Todos os grandes impérios, ao cabo de uma trajetória de relativo sucesso inicial, acabam se excedendo e ignorando as peculiaridades e necessidades de suas “províncias“: depois de completada a dominação militar e do estabelecimento de certa ordem jurídica e material, ou seja, uma paz temporária, acabam ocorrendo impostos excessivos, extorsão, corrupção e, eventualmente, tirania política. Abre-se, então, um período de declínio e de queda, como analisou Edward Gibbon a partir da longuíssima trajetória histórica do império romano.

Mas esta minha reflexão crítica, do ponto de vista de um cidadão brasileiro do início do século 21 — talvez não exatamente um cidadão, mas o “súdito” de um Estado “imperial” extorsivo, corrupto e ineficiente —, não se dirige a qualquer império brasileiro em construção, ou já em decadência, mas à nossa nação (ou sociedade), tal como existente, agora, ao início de 2018, num momento de crise, de transição, de duros ajustes tentativos depois de uma experiência desastrosa de 13 anos sob a dominação de companheiros ineptos e corruptos, antes de mais um exercício eleitoral que pode nos levar a uma fase de “renascimento”, ou, ao contrário, a mais declínio, mais decadência, à continuidade da corrupção, da violência generalizada e da perda completa do sentido de nação.
Seria esse o nosso destino atual? Ou a nossa trajetória inevitável?
Estaríamos condenados a continuar decaindo, em face da ausência completa de estadistas capazes de nos levar à retomada de um processo sustentado de crescimento econômico, em face de um Congresso reiteradamente fragmentado, entregue a uma pletora de partidos não representativos, a velhos caciques patrimonialistas, a sindicalistas rústicos, a evangélicos ignorantes (mas rapaces), dominados que somos por um Estado omnipresente, administrado por corporações de ofício focadas em seus próprios interesses pecuniários, servido “legalmente” por uma classe imensa de mandarins do Judiciário interessados apenas em defender seus privilégios inaceitáveis, um Estado que oprime despudoradamente os verdadeiros criadores de riqueza, os empresários industriais e agrícolas, os administradores de serviços comerciais e uma imensa maioria de trabalhadores extorquidos por impostos abusivos e serviços públicos deploráveis? 
Este seria a trajetória de “declínio e queda” do Brasil atual?
Pode ser, a julgar pelo que vemos todos os dias, pelo que assistimos nos canais de informação — notícias invariavelmente dominadas pela violência contínua, pelas desigualdades gritantes, pela corrupção e pela ineficiência estatal — e pelo que contemplamos pessoalmente no trânsito, no trabalho, nos shopping e supermercados.
Seria esse o nosso destino?
Gostaria de crer que não, mas confesso que as contínuas “novidades” negativas — na frente das investigações de corrupção da parte dos mais altos dirigentes da nação e também por altos magistrados, igualmente corruptos e politicamente motivados — me fazem pensar que sim.
Como o grande intelectual francês Raymond Aron — com o qual não pretendo me comparar —, minha atitude básica, nesta fase da vida nacional, é a de exibir um pessimismo ativo, no quadro do qual não mantenho muitas ilusões quanto à capacidade dos homens públicos brasileiros de encontrarem, racionalmente, o melhor caminho para a reconstrução do Brasil, mas ainda assim me resta algum resquício de esperança de que isso seja um dia possível. Continuarei sendo o mesmo espectador engajado que sempre fui ao longo de meio século de leituras, reflexões e escritos, sem qualquer aspiração a uma impossível (e indesejada) carreira política, apenas animado pelo desejo de perseguir a mesma função pedagógica ou didática que tem sido a minha nessa longa trajetória de uma vida adulta feita basicamente de livros, viagens e observações sobre o Brasil e o mundo.
Os próximos meses, talvez anos, em direção do segundo centenário de nossa vida como Estado independente, nos dirão o que esperar de uma sociedade, de uma nação que parecem permanentemente em construção.
Estarei atento ao que nos reserva o futuro, e talvez até mesmo possa, quem sabe?, participar um pouco, modestamente, dessa construção...

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 24 de fevereiro de 2018


sábado, 24 de fevereiro de 2018

Reflexao historica sobre o declinio de certas sociedades (seria o caso do Brasil?) - Paulo Roberto de Almeida

Reflexão histórica sobre o declínio de certas sociedades (seria o caso do Brasil?)

Paulo Roberto de Almeida
 [Objetivo: refletir sobre a decadência brasileira; finalidade: debate político]




Estou lendo, em formato Kindle, uma das versões abreviadas da imensa obra de Edward Gibbon: The Decline and Fall of the Roman Empire (edited and abridged, and with a critical Foreword by Hans-Friedrich Mueller; Introduction by Daniel J. Boorstin; illustrations by Giovanni Battista Piranesi; New York: The Modern Library, 2003). Trata-se de uma excelente edição, com uma apresentação de Daniel Boorstin, o grande historiador americano que foi “Librarian” entre os anos 1975 e 1987 — ou seja, o diretor da Library of Congress, que é uma espécie de ministro da cultura americano — e com uma introdução crítica pelo especialista em Gibbon, Hans-Friedrich Mueller, professor no Union College, em Schenectady, New York.
Como sempre, cada vez que leio uma obra clássica, fico pensando em como, em quê, em quais condições, analógicas ou de similaridade, as opiniões e argumentos que leio nesses livros poderiam encontrar alguma aplicação nos tempos que correm, e especificamente em relação ao Brasil. Dessas leituras posso eventualmente extrair algumas ideias para a minha série de “clássicos revisitados”, que é composta por uma nova versão, ou seja, uma reescritura, da obra em questão para a nossa época, sempre quando possível aplicada ao Brasil. Já fiz isso com Marx (Manifesto), Maquiavel (O Príncipe), Benjamin Constant (De la liberté chez les Anciens...), Tocqueville (De la démocratie en Amérique), parcialmente com Sun Tzu (A Arte da Guerra), e pretendo continuar fazendo com outras “vítimas” de minhas releituras enviesadas.
Mas, o “abreviador” Hans-Friedrich Mueller termina sua erudita introdução da obra monumental do historiador inglês do século 18 notando que este não especula sobre os fatos históricos tal como efetivamente acontecidos — como diria mais tarde o alemão Ranke — e não constrói versões alternativas ao declínio e queda do império romano (do Ocidente e, 900 anos mais tarde, do Oriente). Mas ele próprio, Mueller, se permite especular se tudo não poderia ter acontecido de outra forma, a partir de sua visão de americano moderno, ou seja, não mais o súdito de um império monárquico (mas liberal democrático), como Gibbon, mas o cidadão de uma república imperial (e certamente liberal e democrática, ainda que dominadora e arrogantemente hegemônica), como é o caso dos EUA.
Transcrevo o que escreve Muller ao final dessa introdução crítica:
After the fact, History is, to be sure, fait accompli. Gibbon did not indulge in the composition of speculative and alternative histories, but for those interested in lessons or instruction, we might nevertheless ask: ‘What if, instead of vesting all powers in the hands of an incredibly corrupt and rapacious upper class, the Roman republic had developed a voting system that allowed representation of all its citizens and dependents? Would military dictatorship have been inevitable?’ These are questions that cannot be answered. The Roman republic never overcame the corruption that set in after its armies achieved military supremacy over the Mediterranean world (the ‘entire’ world to their limited geographical horizons. The answer to the crisis of Rome’s corrupted imperial republic was military dictatorship. (…) The story of the Roman empire offers instructive lessons: oppressive taxes for the sake of a despotic military establishment, tyrannical government, religious bigotry, endless warfare, and, finally, collapse. Let us hope (and pray) that we read not a blueprint but a salutary warning in Gibbon’s immortal and pleasurably instructive pages.
[final do “Critical Foreword”de Hans-Friedrich Mueller; loc 548-9 of 21896]

O caso é clássico, e pode ter acontecido o mesmo com o império britânico — ao qual pertencia Gibbon — e pode estar acontecendo agora com o próprio império americano, como pode acontecer no futuro com o atual império chinês em construção (ou reconstrução) sob o domínio dos novos mandarins comunistas.
E qual é a lição dessas possíveis trajetórias concordantes, similares ou convergentes?
Todos os grandes impérios, ao cabo de uma trajetória de relativo sucesso inicial, acabam se excedendo e ignorando as peculiaridades e necessidades de suas “províncias“: depois de completada a dominação militar e do estabelecimento de certa ordem jurídica e material, ou seja, uma paz temporária, acabam ocorrendo impostos excessivos, extorsão, corrupção e, eventualmente, tirania política. Abre-se, então, um período de declínio e de queda, como analisou Edward Gibbon a partir da longuíssima trajetória histórica do império romano.

Mas esta minha reflexão crítica, do ponto de vista de um cidadão brasileiro do início do século 21 — talvez não exatamente um cidadão, mas o “súdito” de um Estado “imperial” extorsivo, corrupto e ineficiente —, não se dirige a qualquer império brasileiro em construção, ou já em decadência, mas à nossa nação (ou sociedade), tal como existente, agora, ao início de 2018, num momento de crise, de transição, de duros ajustes tentativos depois de uma experiência desastrosa de 13 anos sob a dominação de companheiros ineptos e corruptos, antes de mais um exercício eleitoral que pode nos levar a uma fase de “renascimento”, ou, ao contrário, a mais declínio, mais decadência, à continuidade da corrupção, da violência generalizada e da perda completa do sentido de nação.
Seria esse o nosso destino atual? Ou a nossa trajetória inevitável?
Estaríamos condenados a continuar decaindo, em face da ausência completa de estadistas capazes de nos levar à retomada de um processo sustentado de crescimento econômico, em face de um Congresso reiteradamente fragmentado, entregue a uma pletora de partidos não representativos, a velhos caciques patrimonialistas, a sindicalistas rústicos, a evangélicos ignorantes (mas rapaces), dominados que somos por um Estado omnipresente, administrado por corporações de ofício focadas em seus próprios interesses pecuniários, servido “legalmente” por uma classe imensa de mandarins do Judiciário interessados apenas em defender seus privilégios inaceitáveis, um Estado que oprime despudoradamente os verdadeiros criadores de riqueza, os empresários industriais e agrícolas, os administradores de serviços comerciais e uma imensa maioria de trabalhadores extorquidos por impostos abusivos e serviços públicos deploráveis? 
Este seria a trajetória de “declínio e queda” do Brasil atual?
Pode ser, a julgar pelo que vemos todos os dias, pelo que assistimos nos canais de informação — notícias invariavelmente dominadas pela violência contínua, pelas desigualdades gritantes, pela corrupção e pela ineficiência estatal — e pelo que contemplamos pessoalmente no trânsito, no trabalho, nos shopping e supermercados.
Seria esse o nosso destino?
Gostaria de crer que não, mas confesso que as contínuas “novidades” negativas — na frente das investigações de corrupção da parte dos mais altos dirigentes da nação e também por altos magistrados, igualmente corruptos e politicamente motivados — me fazem pensar que sim.
Como o grande intelectual francês Raymond Aron — com o qual não pretendo me comparar —, minha atitude básica, nesta fase da vida nacional, é a de exibir um pessimismo ativo, no quadro do qual não mantenho muitas ilusões quanto à capacidade dos homens públicos brasileiros de encontrarem, racionalmente, o melhor caminho para a reconstrução do Brasil, mas ainda assim me resta algum resquício de esperança de que isso seja um dia possível. Continuarei sendo o mesmo espectador engajado que sempre fui ao longo de meio século de leituras, reflexões e escritos, sem qualquer aspiração a uma impossível (e indesejada) carreira política, apenas animado pelo desejo de perseguir a mesma função pedagógica ou didática que tem sido a minha nessa longa trajetória de uma vida adulta feita basicamente de livros, viagens e observações sobre o Brasil e o mundo.
Os próximos meses, talvez anos, em direção do segundo centenário de nossa vida como Estado independente, nos dirão o que esperar de uma sociedade, de uma nação que parecem permanentemente em construção.
Estarei atento ao que nos reserva o futuro, e talvez até mesmo possa, quem sabe?, participar um pouco, modestamente, dessa construção...


Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 24 de fevereiro de 2018

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Brasil: sempre o problema da produtividade - Editorial Estadao

Assunto já abordado aqui, várias vezes, e de forma sempre preocupante, pois se trata, de longe, do mais dramático problema, junto com a educação (ao qual ele está intimamente ligado) que enfrenta hoje a sociedade brasileira. Ouso dizer que já somos um país fracassado por isso mesmo.
Podem achar que sou pessimista, mas quando olho -- e constato - os problemas da educação brasileira, e verifico os dados da produtividade, minhas conclusões só podem ser extremamente negativas para o nosso futuro. Espero estar errado, mas um pessimista pode perder por grau, não por natureza...
Paulo Roberto de Almeida

O desafio da produtividade

09 de setembro de 2013 | 2h 05
Editorial O Estado de S.Paulo
Para continuar a crescer nos próximos anos, o Brasil terá de se tornar bem mais produtivo, pois se esgotaram os fatores demográficos e a farta disponibilidade de mão de obra que permitiram a contínua expansão da produção nos últimos anos, a despeito da baixa evolução da produtividade. A capacidade de produzir mais com a mesma quantidade de recursos será essencial, doravante, para fazer o País crescer e para assegurar melhores condições de vida para a população.
Esta é a principal conclusão de um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) sobre produtividade, que marca o início de uma série a respeito dessa questão. O objetivo desses trabalhos é avaliar a evolução da produtividade brasileira nos últimos anos, compará-la com o que ocorreu e está ocorrendo em outros países, identificar os fatores que afetam a eficiência produtiva nos diferentes setores e, consequentemente, oferecer elementos para a definição de políticas públicas nesse campo.
Os resultados apresentados no primeiro trabalho da série são preocupantes e já dão a dimensão das imensas tarefas que o País terá nos próximos anos para continuar a crescer num ritmo adequado para suprir gradualmente suas carências econômicas e sociais.
Na análise da evolução recente dos indicadores de produtividade no Brasil, os pesquisadores do Ipea constataram que, entre 1992 e 2001, o crescimento do PIB per capita foi assegurado quase inteiramente pelo aumento da produtividade do trabalho.
No início da década passada, porém, a evolução do PIB per capita se descolou da variação da produtividade. Enquanto o primeiro indicador continuou a crescer velozmente (aumento de cerca de 20% entre 2001 e 2009), a produtividade avançou menos de 10%. O crescimento do PIB per capita na última década deveu-se basicamente ao aumento da taxa de ocupação, isto é, ao aumento do número de empregados em relação à população total.
Mas esse fator, estreitamente vinculado ao novo padrão demográfico do País e à expansão do mercado de trabalho, sobretudo o formal, já não terá mais tanta influência na elevação da renda per capita. Por isso, daqui para a frente, a melhora dependerá essencialmente dos ganhos de produtividade.
No entanto, a evolução recente da produtividade tem sido muito fraca. Embora varie muito de um setor da economia para outro, a produtividade média nas duas últimas décadas apresentou uma trajetória estável de crescimento, mas a um ritmo lento, de cerca de 1% ao ano. Na indústria de transformação, o resultado ficou abaixo disso; em alguns segmentos, houve queda de produtividade.
O que os dados preliminares sugerem é que, depois da crise financeira mundial iniciada em 2008, a produtividade brasileira, que crescia pouco, pode ter se estagnado.
Se se confirmar essa estagnação, o Brasil ficará em situação ainda pior na comparação com outros países. Um dos estudos do Ipea compara a evolução da produtividade no Brasil com a observada na Coreia do Sul, na China e nos Estados Unidos a partir de 1960, quando a produtividade americana já era alta.
Depois de evoluir numa velocidade superior à dos demais países nos primeiros 20 anos, a produtividade brasileira perdeu vigor e passou a crescer menos. A da China, ao contrário, passou de uma evolução lenta nos primeiros 20 anos para um vigoroso crescimento a partir de meados da década de 1980 e mantém esse ritmo até agora. A da Coreia do Sul igualmente adquiriu vigor na década de 1980 e continuou a crescer desde então, embora a um ritmo inferior ao da China. É surpreendente o caso da produtividade americana. De longe a mais alta do mundo, ela continua a evoluir de maneira constante e, nos últimos 20 anos, mais do que a brasileira.
Em resumo, a produtividade brasileira - que cresce menos do que a de outros países - já não conta mais com os impulsos que asseguraram sua expansão nos últimos anos. Isso impõe um duplo desafio para o País: definir novas fontes de aumento da produtividade e conseguir fazê-la crescer mais depressa do que crescia
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